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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EMOÇÃO 322 EMOÇÃO<br />

dado, ou seja, na preocupação sugerida pelas<br />

necessida<strong>de</strong>s próprias e alheias. À utilização das<br />

coisas e ao preocupar-se com o mundo, que são<br />

os dois aspectos essenciais do ser-no-mundo,<br />

estão obviamente ligadas todas as E. e os afetos<br />

humanos, que, portanto, são rejeitados para o<br />

plano inautêntico da banalida<strong>de</strong> quotidiana.<br />

Embora Hei<strong>de</strong>gger não trate <strong>de</strong>sses afetos ou<br />

E. (nem sequer do amor, don<strong>de</strong> Sartre ter<br />

observado que, para ele, o Dasein, a realida<strong>de</strong><br />

humana, não tem sexo), não se <strong>de</strong>ve esquecer<br />

que, para Hei<strong>de</strong>gger, a existência inautêntica<br />

não é aparência, ilusão ou realida<strong>de</strong> diminuída<br />

ou empobrecida, mas um modo <strong>de</strong> ser necessário<br />

da própria existência.<br />

Na mesma linha da análise <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>gger<br />

situa-se a <strong>de</strong> Sartre, que, porém, utiliza mais as<br />

análises e as teorias da psicologia contemporânea.<br />

Para Sartre, a E. é "certa maneira <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r<br />

o mundo"; ela é, portanto, em primeiro<br />

lugar, "consciência do mundo", embora se trate<br />

<strong>de</strong> consciência imediata e não reflexa. "O sujeito<br />

que procura a solução <strong>de</strong> um problema prático<br />

está no mundo, toca o mundo a cada instante,<br />

através <strong>de</strong> todos os seus atos. Se falha<br />

em todas as suas tentativas, se se irrita, sua<br />

irritação é um modo como o mundo lhe aparece.<br />

E não é preciso que o sujeito, entre a ação<br />

que falha e a cólera, realize um retorno para si<br />

mesmo e intercale a consciência reflexa. Po<strong>de</strong><br />

haver uma passagem contínua da consciência<br />

irreflexa 'mundo-agido' (ação) para a consciência<br />

reflexa 'mundo odioso' (cólera). A segunda<br />

é uma transformação da outra" (Esquissed'une<br />

théorie <strong>de</strong>s émotions, 1947, p. 30). Mas o mundo<br />

a que a E. faz referência é um mundo difícil.<br />

A dificulda<strong>de</strong> é uma qualida<strong>de</strong> objetiva cio<br />

mundo que se oferece à percepção; é ela que<br />

<strong>de</strong>termina a natureza das emoções. Esta, para<br />

Sartre, é uma transformação do mundo, mais<br />

precisamente uma transformação pela magia.<br />

"Quando os caminhos traçados se tornam difíceis<br />

<strong>de</strong>mais ou quando não vemos absolutamente<br />

o caminho, não po<strong>de</strong>mos mais ficar<br />

num mundo tão urgente e difícil. Todas as vias<br />

estão barradas e, no entanto, é preciso agir. Então<br />

procuramos mudar o mundo, viver como<br />

se as relações das coisas com as suas proprieda<strong>de</strong>s<br />

não fossem controladas por processos<br />

<strong>de</strong>terministas, mas pela magia" (Jbid., p. 33).<br />

P. ex., o <strong>de</strong>smaio diante <strong>de</strong> um perigo iminente<br />

não é mais que negação do perigo, vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> anulá-lo. "A urgência do perigo serviu <strong>de</strong><br />

motivo para uma intenção aniquilante que or-<br />

<strong>de</strong>nou uma conduta mágica. E, <strong>de</strong> fato, eu aniquilei<br />

o perigo da forma como podia. Não se<br />

trata, porém, <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira, mas <strong>de</strong> crença,<br />

<strong>de</strong> uma coisa séria, como <strong>de</strong>monstram as expressões<br />

orgânicas das emoções." Na E. a consciência<br />

visa combater os perigos ou modificar<br />

os objetos, sem distância e sem instrumentos,<br />

através <strong>de</strong> modificações absolutas e maciças<br />

do mundo. Esse aspecto do mundo é inteiramente<br />

coerente, diz Sartre; trata-se do mundo<br />

mágico. "Chamaremos <strong>de</strong> E. a queda brusca<br />

da consciência no mágico. Ou, se preferirem,<br />

há E. quando o mundo dos instrumentos se<br />

esvai bruscamente e o mundo mágico lhe toma<br />

o lugar. Portanto não se <strong>de</strong>ve ver na E. uma<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m passageira do espírito, que viria perturbar<br />

<strong>de</strong> fora a vida psíquica. Ao contrário,<br />

trata-se do retorno da consciência à atitu<strong>de</strong> mágica,<br />

uma das gran<strong>de</strong>s atitu<strong>de</strong>s que lhe são<br />

essenciais, com a aparição do mundo correlativo,<br />

o mundo mágico. A E. não é um aci<strong>de</strong>nte,<br />

é um modo <strong>de</strong> existência da consciência, uma<br />

das maneiras pelas quais ela compreen<strong>de</strong> (no<br />

sentido hei<strong>de</strong>ggeriano <strong>de</strong> verstehen) o seu ser<br />

no mundo" (Jbid., p. 49).<br />

É significativo o fato -^ resultante das exposições<br />

anteriores — <strong>de</strong> as teorias das E. apresentadas<br />

pelos cientistas não diferirem radicalmente<br />

das apresentadas pelos filósofos, mas<br />

apresentarem muitas características substanciais<br />

em comum. É também verda<strong>de</strong> que os<br />

filósofos utilizam essas teorias para extrair ilações<br />

ou generalizações <strong>de</strong> natureza ontológicometafísica;<br />

mas, <strong>de</strong> certo modo, isso é um direito<br />

<strong>de</strong>les. A concordância entre as teorias tem<br />

gran<strong>de</strong> significado porque <strong>de</strong>monstra que, no<br />

terreno da analise interpretativa dos modos fundamentais<br />

<strong>de</strong> experiência, é possível que o<br />

acordo entre cientista e filósofo não seja me<br />

nor que o existente entre dois cientistas. Outro<br />

exemplo <strong>de</strong>sse acordo é a teoria das E. apresentada<br />

por Kurt Goldstein, médico e fisiólogo<br />

especialista em lesões cerebrais (cf. DerAufbau<br />

<strong>de</strong>s Organismus, 1934; trad. fr. com o título La<br />

structure <strong>de</strong> 1'organisme, Paris, 1951). Goldstein<br />

acredita que a adaptação do organismo ao ambiente<br />

acontece através <strong>de</strong> pequenas "reações<br />

<strong>de</strong> catástrofe" que não po<strong>de</strong>m ser evitadas no<br />

embate do organismo com o mundo. Quando<br />

essas catástrofes ou choques ultrapassam <strong>de</strong>terminada<br />

medida, passam a ter significado <strong>de</strong><br />

comportamento anômalo do organismo, <strong>de</strong> perigo<br />

para a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir, para a sua<br />

existência. Está-se então diante <strong>de</strong> reações gra-

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