22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

AMOR 47 AMOR<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> A. só po<strong>de</strong>ria diminuir-lhe o valor e não<br />

seria um remédio para o mal" (Jbid., pp. 139-<br />

141). Essas consi<strong>de</strong>rações pressupõem, obviamente,<br />

que o A. implica uma escolha motivada<br />

pelo valor reconhecido no objeto amado ou a<br />

ele atribuído; mas justamente esse elemento <strong>de</strong><br />

escolha não tem lugar na doutrina <strong>de</strong> Freud,<br />

que se funda totalmente no princípio do caráter<br />

instintivo da libido, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>riva todo A.<br />

A crítica <strong>de</strong> Freud ao "A. universal" é importante,<br />

e em alguns aspectos <strong>de</strong>cisiva para a<br />

orientação contemporânea em torno do problema<br />

do A. Todavia, Freud dirigiu essa crítica<br />

contra um alvo errado, o preceito evangélico<br />

do A. ao próximo: o verda<strong>de</strong>iro alvo <strong>de</strong>ssa crítica<br />

é a noção mo<strong>de</strong>rna, <strong>de</strong> origem positivista,<br />

do A. universal. A origem <strong>de</strong>ssa noção po<strong>de</strong> ser<br />

encontrada em Feuerbach, no qual tem estreita<br />

conexão com a noção romântica <strong>de</strong> A., em<br />

particular com a <strong>de</strong> Hegel. Feuerbach parte do<br />

pressuposto <strong>de</strong> que o objeto ao qual um sujeito<br />

se refere essencial e necessariamente outro não<br />

é senão a natureza objetiva do próprio sujeito<br />

e que, portanto, no objeto o homem contempla-se<br />

a si mesmo e torna-se consciente <strong>de</strong> si:<br />

a consciência do objeto não é senão a autoconsciência<br />

do homem (Wesen <strong>de</strong>s Christentum,<br />

1841; trad. fr., p. 26). Esta é a mesma noção da<br />

unida<strong>de</strong> entre subjetivo e objetivo, entre o eu<br />

e o outro, transferida do Infinito (para on<strong>de</strong> os<br />

Românticos a levaram) para o homem, na sua<br />

finitu<strong>de</strong>. Não obstante essa transferência, a noção<br />

continua a mesma; na verda<strong>de</strong>, o A. é entendido<br />

por Feuerbach, romanticamente, como unida<strong>de</strong><br />

e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: "a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus e homem,<br />

<strong>de</strong> espírito e natureza". O A. "não tem<br />

plural". A própria encarnação, para Feuerbach<br />

como para Hegel, é somente "o puro, absoluto<br />

A., sem acréscimo, sem distinção entre A. divino<br />

e humano" (ibid., p. 82). Com base nessa<br />

noção, Feuerbach <strong>de</strong>lineou a extensão progressiva<br />

do A. ao objeto sexual ao A. à criança, ao<br />

filho, do filho ao pai, e finalmente à família, ao<br />

clã, à tribo, etc, extensão esta que seria <strong>de</strong>vida<br />

à multiplicação das ações recíprocas e, por isso,<br />

da <strong>de</strong>pendência recíproca das instituições e dos<br />

interesses vitais. O último termo <strong>de</strong>ssa extensão<br />

progressiva seria "a humanida<strong>de</strong> em seu<br />

conjunto", que, como tal, é o objeto mais alto<br />

do A. e o i<strong>de</strong>al moral por excelência. A ética<br />

positivista, especialmente com Comte e Spencer,<br />

baseou-se no A. estendido a toda a humanida<strong>de</strong>;<br />

nele também se baseou a ética do neocriticismo<br />

alemão, da forma como se encontra,<br />

p. ex., expressa em Cohen.<br />

Nessas concepções, os termos "humanida<strong>de</strong>"<br />

e "A." passam a ser sinônimos, porque significam<br />

a unida<strong>de</strong> dos seres humanos e, às vezes,<br />

até mesmo a unida<strong>de</strong> cósmica segundo o conceito<br />

romântico. Desse ponto <strong>de</strong> vista, as formas<br />

do A. sào classificadas conforme a maior<br />

ou menor extensão do círculo <strong>de</strong> objetos a que<br />

o A. se esten<strong>de</strong>. Assim o A. à pátria seria inferior<br />

ao A. à humanida<strong>de</strong>; o A. à família, inferior ao<br />

A. à pátria; o A. a si mesmo, inferior ao que se<br />

sente por um amigo. Scheler mostrou (Natureza<br />

e forma da simpatia, 1923) o caráter fictício<br />

<strong>de</strong>ssa hierarquia que preten<strong>de</strong> reduzir as varieda<strong>de</strong>s<br />

autônomas do A. a uma única forma, qtie<br />

teria graus diversos segundo a extensão do círculo<br />

humano que constitui seu objeto. Suas<br />

observações a esse respeito coinci<strong>de</strong>m substancialmente<br />

com as já acenadas por Freud: o<br />

valor do A. diminui, não cresce, à medida que<br />

o A. se esten<strong>de</strong> a um número maior <strong>de</strong> objetos:<br />

já que, em geral, o A. ao que está próximo tem<br />

mais valor do que o A. ao que está distante,<br />

pelo menos quando dirigido a um ser vivo; e<br />

Nietzsche errou quando contrapôs (em Assim<br />

falou Zaratustra) o A. ao distante ao A. ao próximo.<br />

Scheler negou o próprio pressuposto da<br />

doutrina do A. universal: a noção romântica do<br />

A. como unida<strong>de</strong> ou i<strong>de</strong>ntificação. O A. e, em<br />

geral, a simpatia em todas as suas formas (v.<br />

SIMPATIA) implicam e, ao mesmo tempo, fundamentam<br />

a diversida<strong>de</strong> das pessoas. O sentido<br />

do A. consiste justamente em não consi<strong>de</strong>rar e<br />

em não tratar o outro como se fosse idêntico a<br />

si. "O A. verda<strong>de</strong>iro", diz Scheler (Sympathíe,<br />

I, cap. IV, 3), "consiste em compreen<strong>de</strong>r suficientemente<br />

uma outra individualida<strong>de</strong> modalmente<br />

diferente da minha, em po<strong>de</strong>r colocar-me<br />

em seu lugar, mesmo consi<strong>de</strong>rando-a<br />

diferente <strong>de</strong> mim e mesmo afirmando, com calor<br />

emocional e sem reserva, a sua própria realida<strong>de</strong><br />

e o seu próprio modo <strong>de</strong> ser." O A. dirigese<br />

necessariamente ao núcleo válido das coisas,<br />

ao valor, ten<strong>de</strong> a realizar o valor mais elevado<br />

possível (e isto já é um valor positivo) ou a<br />

suprimir um valor inferior. Po<strong>de</strong> voltar-se para<br />

a natureza, para a pessoa humana e para Deus,<br />

naquilo que têm <strong>de</strong> próprio, isto é, <strong>de</strong> diferente<br />

daquele que ama. Scheler reconhece, com Freud,<br />

que "o A. sexual representa um fator primordial<br />

e fundamental, no sentido <strong>de</strong> que a força e a<br />

vivacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as outras varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

A.vital e <strong>de</strong> vida instintiva <strong>de</strong>rivam <strong>de</strong>sse A."<br />

(ibid., II, cap. VI, § 5). No entanto, não se reduz<br />

ao instinto sexual porque implica escolhas, que,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!