22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

DEUS 257 DEUS<br />

das tradicionais especulações teológicas e, por<br />

outro, na ênfase na função do Cristo; "D. e o<br />

mundo estão compreendidos em seu nome;<br />

portanto, não se po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong> D. e do mundo<br />

sem falar <strong>de</strong> Cristo" {Jbid., p. 6l). Mas o pressuposto<br />

teórico é sempre o mesmo: a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> D. com o mundo moral.<br />

c) Deus como criador da or<strong>de</strong>m moral. Essa<br />

terceira concepção é caracterizada: l e pela distinção<br />

entre D. e sua ação provi<strong>de</strong>ncial, sendo<br />

D. causa livreda or<strong>de</strong>m moral; 2" pela tentativa<br />

<strong>de</strong> salvar a liberda<strong>de</strong> do homem. O ponto <strong>de</strong><br />

partida <strong>de</strong>ssa concepção continua sendo a noção<br />

<strong>de</strong> providência, da forma elaborada por estóicos<br />

e neoplatônicos. Boécio assim a distingue<br />

da concepção <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino: "A providência é<br />

a própria razão divina constituída como princípio<br />

soberano <strong>de</strong> tudo, que or<strong>de</strong>na todas as coisas,<br />

ao passo que o <strong>de</strong>stino é a or<strong>de</strong>m que rege<br />

as coisas em seu movimento e por meio do<br />

qual a providência as liga, dando a cada uma o<br />

lugar que lhe compete" (Phil. cons., IV, 6, 10).<br />

Essa distinção não eqüivale, obviamente, a<br />

uma separação: providência e <strong>de</strong>stino em última<br />

análise coinci<strong>de</strong>m, já que o primeiro é a<br />

unida<strong>de</strong> da or<strong>de</strong>m vista pela inteligência divina,<br />

e o segundo é essa mesma or<strong>de</strong>m enquanto<br />

realizada no tempo. O problema a que uma<br />

e outro dão origem é o do livre-arbítrio, característico<br />

<strong>de</strong>ssa concepção <strong>de</strong> D. Boécio antecipa<br />

o esquema <strong>de</strong> todas as soluções que <strong>de</strong>pois<br />

lhe serão dadas, afirmando que as ações humanas<br />

estão incluídas, justamente em sua liberda<strong>de</strong>,<br />

na or<strong>de</strong>m provi<strong>de</strong>ncial {ibíd., V, 6). Com<br />

forma mais precisa e circunstanciada, a mesma<br />

solução (à qual, em geral, se ativeram os filósofos<br />

medievais) foi reproposta por S. Tomás.este<br />

afirma, por um lado, o caráter integral ou<br />

totalitário da ação provi<strong>de</strong>ncial, e por outro<br />

julga a providência conciliável com a liberda<strong>de</strong><br />

humana, que se insere, como tal, no quadro da<br />

providência. Diz S. Tomás: "É próprio da providência<br />

or<strong>de</strong>nar as coisas para um fim. Depois<br />

da bonda<strong>de</strong> divina, que é um fim separado das<br />

coisas, o bem principal, existindo nas próprias<br />

coisas, é a perfeição do universo; esta não existiria<br />

se não se encontrassem nas coisas todos<br />

os graus do ser. Daí se segue que é da divina<br />

providência produzir todos os graus do<br />

ser e, por isso e para certos efeitos, ela preparou<br />

causas necessárias, a fim <strong>de</strong> que acontecessem<br />

necessariamente, mas para outros efeitos<br />

preparou causas contingentes a fim <strong>de</strong> que<br />

acontecessem contingentemente em conformi-<br />

da<strong>de</strong> com a condição das causas próximas".<br />

Por isso, "acontece infalível e necessariamente<br />

aquilo que a providência divina dispõe que<br />

aconteça assim, mas acontece <strong>de</strong> forma contingente<br />

aquilo que a providência divina quer fazer<br />

assim acontecer" (S. Th., I, q. 22, a. 2). Não<br />

se trata, obviamente, <strong>de</strong> uma solução isenta <strong>de</strong><br />

dificulda<strong>de</strong>s, pois não é fácil enten<strong>de</strong>r como a<br />

realização <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sígnio perfeito e minucioso<br />

po<strong>de</strong> ser confiada, mesmo que em parte, ou<br />

em parte mínima, ao comportamento imprevisível<br />

<strong>de</strong> um fator arbitrário. Mas essa é a solução<br />

repetida constantemente no âmbito <strong>de</strong>ssa<br />

concepção, que ten<strong>de</strong> a ressaltar a liberda<strong>de</strong><br />

da causalida<strong>de</strong> divina com vistas à solução do<br />

outro problema fundamental da teodicéia, o do<br />

mal, expresso pela velha fórmula: "SiDeusest,<br />

un<strong>de</strong> malum? Si non est, un<strong>de</strong> bonum?" Os<br />

escritores dos sécs. XVII e XVIII (especialmente<br />

Bayle, os <strong>de</strong>ístas e Leibniz) discutiram longamente<br />

esses problemas, sem encontrar novas<br />

soluções (v. MAL). De um lado, Bayle dava <strong>de</strong>staque<br />

à insuficiência das soluções tradicionais e<br />

julgava esses problemas insolúveis; <strong>de</strong> outro,<br />

Leibniz repropunha as soluções tradicionais inserindo-as<br />

no seu conceito <strong>de</strong> mundo como or<strong>de</strong>m<br />

que se organiza espontaneamente e <strong>de</strong> D.<br />

como princípio <strong>de</strong>ssa organização. Em virtu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sse conceito, Leibniz podia admitir um <strong>de</strong>terminismo<br />

não necessitante, no que diz respeito<br />

à vonta<strong>de</strong> humana na or<strong>de</strong>m provi<strong>de</strong>ncial<br />

(Disc. <strong>de</strong> mét., § 30), e reapresentar, com mais<br />

plausibilida<strong>de</strong>, a antiga tese <strong>de</strong> que o mal não<br />

existe, não tem realida<strong>de</strong> própria, mas é um<br />

ingrediente indispensável, embora incômodo,<br />

do melhor dos mundos possíveis ( Théod., I, § 21).<br />

Todavia, o conceito <strong>de</strong> D. como "substância<br />

necessária" continuava em Leibniz (Monad.,<br />

§ 38), e esse conceito é dificilmente compatível<br />

com a causalida<strong>de</strong> livre <strong>de</strong> D. Como afirmava<br />

Avicena, que foi o primeiro a enunciar esse<br />

conceito, uma substância só po<strong>de</strong> ter uma causalida<strong>de</strong><br />

necessária e comunicar sua necessida<strong>de</strong><br />

a tudo o que <strong>de</strong>la provém. Em sua formulação<br />

tradicional, essa concepção <strong>de</strong> D. revela-se<br />

uma composição sincrética, cujos elementos<br />

não são todos compatíveis uns com os outros.<br />

Com efeito, extrai da concepção (b) o conceito<br />

<strong>de</strong> plano provi<strong>de</strong>ncial, que, na história da <strong>filosofia</strong>,<br />

nasceu da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> D. com o mundo<br />

ou com sua or<strong>de</strong>m. E combina essa doutrina<br />

com outra, <strong>de</strong> origem árabe, para a qual D. é<br />

substância necessária, bem como com o elemento<br />

greco-cristão-judaico, <strong>de</strong> Deus como

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!