22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

INSTANTE 567 INSTINTO<br />

sas. A passagem do movimento ao repouso e<br />

vice-versa não ocorre a partir da imobilida<strong>de</strong><br />

que ainda está imota nem do movimento que<br />

ainda se está movendo. A natureza um pouco<br />

estranha do I. está no fato <strong>de</strong> ser o ponto médio<br />

entre repouso e movimento, mesmo não<br />

estando ele no tempo, o que o torna ponto <strong>de</strong><br />

chegada e <strong>de</strong> partida do que se está movendo<br />

em direção ao estar parado, e do que está parado<br />

em direção ao mover-se" (Parm., 156 d).<br />

Em outros termos, para Platão o I. não é nem o<br />

tempo nem a eternida<strong>de</strong>, nem o movimento<br />

nem o repouso, mas está entre eles e constitui<br />

o seu ponto <strong>de</strong> encontro. Essa noção foi retomada<br />

por Kierkegaard, que viu no I. a inserção<br />

subitânea da eternida<strong>de</strong> no tempo e, portanto,<br />

a inserção subitânea da verda<strong>de</strong> divina no homem,<br />

isto é, o nascimento da fé (PbílosophischeBrocken,<br />

cap. IV; cf. Werke, II, pp. 108,<br />

lló ss.). O caráter instantâneo da fé exclui que<br />

ela possa ser suscitada ou produzida por<br />

processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração ou <strong>de</strong> persuasão.<br />

Daí a polêmica <strong>de</strong> Kierkegaard contra a igreja<br />

oficial dinamarquesa, travada no jornal, e que<br />

ele <strong>de</strong>nominou precisamente O Instante. O<br />

conceito <strong>de</strong> I. volta no existencialismo alemão,<br />

mas sem a ressonância religiosa que tinha<br />

em Kierkegaard. Jaspers diz: "O I. vivido é o<br />

fato supremo, calor <strong>de</strong> sangue, imediação,<br />

vida, presente corpóreo, totalida<strong>de</strong> do real,<br />

única coisa verda<strong>de</strong>ira e concreta. Em vez <strong>de</strong><br />

partir do presente para per<strong>de</strong>r-se no passado<br />

ou no futuro, o homem encontra a existência e<br />

o absoluto no I., único que os po<strong>de</strong> proporcionar.<br />

Bassado e futuro são abismos obscuros<br />

informes, tempo in<strong>de</strong>finido, ao passo que o I.<br />

po<strong>de</strong> ser a abolição do tempo, a presença do<br />

eterno" (Psychologie <strong>de</strong>r Weltanschauungen,<br />

1925, I, 3; trad. it., p. 132). O mesmo Jaspers<br />

relaciona a noção <strong>de</strong> I. com a atitu<strong>de</strong> ética<br />

caracterizada pela máxima "vive oi.", expressa<br />

na Antigüida<strong>de</strong> por Aristipo (séc. IV a.C).<br />

Este prescrevia "ter a mente no hoje, ou melhor,<br />

naquele I. em que cada um faz e pensa<br />

alguma coisa, pois só o presente é nosso, não<br />

o I. que passou nem o que está sendo esperado:<br />

um já está <strong>de</strong>struído, o outro não sabemos<br />

se há <strong>de</strong> vir" (ELIANO, Var. historiae, XIV, 6).<br />

Essa atitu<strong>de</strong>, que Kierkegaard chamava <strong>de</strong><br />

"vida estética", às vezes é contraposta à outra<br />

que, sacrificando continuamente o presente<br />

em favor do futuro, acaba tornando insignificante<br />

e instrumental toda a duração da vida.<br />

No séc. XVIII, Lessing e Rousseau discordaram<br />

<strong>de</strong>ssa última atitu<strong>de</strong>, convidando a dar a cada<br />

período da vida, a cada dia e a cada instante um<br />

valor autônomo e acabado. Essa atitu<strong>de</strong> não<br />

coinci<strong>de</strong>, porém, com a chamada atitu<strong>de</strong> estética,<br />

pois, ao contrário, supõe que aos instantes<br />

da vida não se atribua o valor que por acaso<br />

tenham, mas o valor atribuído a todo um projeto<br />

<strong>de</strong> vida. Hei<strong>de</strong>gger retomou ainda, em sentido<br />

análogo, a noção <strong>de</strong> I., consi<strong>de</strong>rando-o<br />

como "o presente autêntico" e contrapondo-o<br />

ao agora, que é o presente inautêntico da vida<br />

cotidiana. O agora é a apresentação das coisas<br />

para as quais se voltam os cuidados cotidianos<br />

do homem; o I. é a <strong>de</strong>cisão antecipadora da<br />

morte, isto é, do nada da existência: a mesma<br />

situação que, do ponto <strong>de</strong> vista emocional, é a<br />

angústia (Sein und Zeit, § 68, 81).<br />

2. O mesmo que instante ou agora (v.).<br />

INSTINTO (gr. óp|ltí; lat. Instinctus; in.<br />

Instinct; ai. Instinkt; it. Istínto). Um guia natural<br />

da conduta animal e humana não é adquirido,<br />

não é escolhido e é pouco modificável. O<br />

I. distingue-se da tendência (v.) pelo caráter<br />

biológico, porquanto se <strong>de</strong>stina à conservação<br />

do indivíduo e da espécie e vincula-se a<br />

uma estrutura orgânica.<strong>de</strong>terminada; distingue-se<br />

do impulso por seu caráter estável. Existem<br />

duas concepções fundamentais <strong>de</strong> I.: Xa<br />

metafísica, segundo a qual o I. é a força que<br />

assegura a concordância entre a conduta animal<br />

e a or<strong>de</strong>m do mundo; 2- a científica,<br />

segundo a qual o I. é um tipo <strong>de</strong> disposição<br />

biológica.<br />

\- A teoria metafísica dos I. foi fundada pelos<br />

estóicos. Para eles, a or<strong>de</strong>m provi<strong>de</strong>ncial do<br />

inundo, que todos os seres estão <strong>de</strong>stinados a<br />

manter, dirige a conduta animal por meio do instinto.<br />

Crisipo diz: "O I. primário do animal, por<br />

ser este <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio dirigido pela natureza,<br />

é <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> si mesmo {.Dos fins, Livro I).<br />

Diz também que o que está no mais íntimo <strong>de</strong><br />

cada animal é a sua própria constituição e a<br />

consciência <strong>de</strong>ssa constituição. Não é verossímil<br />

que o animal se alheie <strong>de</strong> si ou que <strong>de</strong><br />

algum modo aja <strong>de</strong> tal forma que se alheie <strong>de</strong><br />

si ou não cui<strong>de</strong> <strong>de</strong> si mesmo. É preciso, pois,<br />

que a própria natureza o constitua <strong>de</strong> tal modo<br />

que ele cui<strong>de</strong> <strong>de</strong> si, fugindo às coisas nocivas e<br />

perseguindo as favoráveis. Don<strong>de</strong> se evi<strong>de</strong>ncia<br />

como falso o que dizem alguns, <strong>de</strong> o prazer ser<br />

o I. primário dos animais" (DIÓG. L, VII, 85).<br />

Através do I. a natureza leva o animal a cuidar<br />

<strong>de</strong> si e a conservar-se, contribuindo para manter<br />

a or<strong>de</strong>m do todo. Cícero exprimia o concei-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!