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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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NUMENO 718 NUMERO<br />

NÚMENO (gr. vooÚLtevov; in. Noumenori;<br />

fr. IVoumêne, ai. Noumenon-, it. Noumeno). Este<br />

termo foi introduzido por Kant para indicar<br />

o objeto do conhecimento intelectual<br />

puro, que é a coisa em si(v.). Na dissertação<br />

<strong>de</strong> 1770, Kant diz: "O objeto da sensibilida<strong>de</strong><br />

é o sensível; o que nada contém que não<br />

possa ser conhecido pela inteligência é o inteligível.<br />

O primeiro era chamado <strong>de</strong> fenômeno<br />

pelas escolas dos antigos; o segundo,<br />

<strong>de</strong> N." (De mundi sensibilis, etc, § 3). Na<br />

realida<strong>de</strong>, a palavra N. às vezes é usada pelos<br />

filósofos gregos, não em contraposição a fenômeno,<br />

mas a sensível, como em Platão: "Se intelecção<br />

e opinião verda<strong>de</strong>ira são duas coisas<br />

diferentes, então sem dúvida existirão entes<br />

que, conquanto não sejam sensíveis para nós,<br />

são apenas pensados" (Tim., 51 d); algumas vezes<br />

é usada em contraposição ao objeto diretamente<br />

apreensível, como nos estóicos: "A compreensão<br />

se produz com a sensação— e então<br />

é compreensão <strong>de</strong> coisas brancas, pretas, ásperas<br />

ou lisas — ou com o raciocínio — e então<br />

é compreensão <strong>de</strong> nexos <strong>de</strong>monstrativos,<br />

como quando se <strong>de</strong>monstra que os <strong>de</strong>uses<br />

existem e que exercem a providência. Das<br />

coisas pensadas, algumas são pensadas segundo<br />

a ocasião, outras segundo a semelhança,<br />

outras segundo a composição e outras<br />

segundo contrarieda<strong>de</strong>s" (DiÓG. L, VII,<br />

52). É mais freqüente nos antigos (sobretudo<br />

em Platão, em Aristóteles e nos neoplatônicos)<br />

o uso do termo inteligível (vOT)ióç),<br />

não em contraposição a fenômeno, mas a sensível<br />

(cf., p. ex., ARISTÓTELES, Et. nic, X, 4, 11 74<br />

b 34).<br />

NÚMERO (gr. àpt0|tóç; lat. Numerus; in.<br />

Number, fr. Nombre, ai. Zahl; it. Numero). Na<br />

história <strong>de</strong>ste conceito, po<strong>de</strong>m-se distinguir<br />

quatro fases conceptuais diferentes, que <strong>de</strong>ram<br />

lugar a quatro <strong>de</strong>finições diferentes: I a fase realista;<br />

2- fase subjetivista; 3 a fase objetivista; 4 a<br />

fase convencionalista.<br />

I a A fase realista é caracterizada pela tese <strong>de</strong><br />

que o N. é um elemento constitutivo da realida<strong>de</strong>,<br />

por ser acessível à razão, mas não aos sentidos.<br />

Essa foi a tese dos pitagóricos, que, segundo<br />

relata Aristóteles, acreditavam que "as coisas<br />

são N.", ou seja, "compostas <strong>de</strong> N. como<br />

seus elementos" (Met., XIV, 3, 1090 a 21). A<br />

esta crença está ligada a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> N. como<br />

"sistema <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s", própria dos pitagóricos<br />

(J. STOBEO, Ecl, I, 18): essa <strong>de</strong>finição serviu <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>lo à <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s ("multidão <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s",<br />

EL, VII, 2) e durante muito tempo fundamentou<br />

a matemática. Para Platão, o N. encontravase<br />

on<strong>de</strong> houvesse uma or<strong>de</strong>m, um limite do<br />

ilimitado. Entre a multiplicida<strong>de</strong> ilimitada (p.<br />

ex., dos sons vocais) e a unida<strong>de</strong> absoluta, o N.<br />

se insere como um limite (p. ex., distinção e<br />

enumeração das letras do alfabeto), e por isso<br />

sempre se encontra on<strong>de</strong> há or<strong>de</strong>m e inteligência<br />

(Fil., 18 a ss.). Por outro lado, o N. neste<br />

sentido não está ligado a algo <strong>de</strong> visível ou <strong>de</strong><br />

tangível: é, portanto, diferente do N. utilizado<br />

pelo homem em suas tarefas práticas (Rep., 525<br />

d). Essa tese (que não é a dos platônicos <strong>de</strong><br />

tendência pitagórica, que consi<strong>de</strong>ravam as idéias<br />

como N.; cf. ARISTÓTELES, Met., XIV, 3) é substancialmente<br />

apoiada por Aristóteles: "As entida<strong>de</strong>s<br />

matemáticas não são mais substâncias<br />

que os corpos; prece<strong>de</strong>m na lógica, mas não na<br />

existência, as coisas sensíveis, e não po<strong>de</strong>m<br />

existir separadamente. Mas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não po<strong>de</strong>m<br />

sequer residir nas coisas sensíveis, não<br />

<strong>de</strong>vem existir <strong>de</strong> modo absoluto, ou <strong>de</strong>vem<br />

existir <strong>de</strong> algum modo especial, que não é a<br />

existência absoluta" (Met., XIII, 3, 1077 b 12).<br />

Este modo <strong>de</strong> existência especial, próprio das<br />

entida<strong>de</strong>s matemáticas, é <strong>de</strong>finido pelas próprias<br />

proposições matemáticas: "E estritamente<br />

verda<strong>de</strong>iro" — diz Aristóteles — "que existem<br />

entida<strong>de</strong>s matemáticas e que elas são tais quais<br />

a matemática diz que são" (Ibid., XIII, 3, 1077<br />

b 3D. Aristóteles preten<strong>de</strong> dizer que as entida<strong>de</strong>s<br />

matemáticas têm uma existência análoga<br />

às entida<strong>de</strong>s da física (p. ex., ao movimento):<br />

são abstraídas das causas sensíveis, mas não<br />

são separáveis <strong>de</strong>stas. Desse ponto <strong>de</strong> vista, o<br />

número é "uma pluralida<strong>de</strong> medida ou uma<br />

pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medida", e a unida<strong>de</strong> não é um<br />

N., mas medida do N. (Met., XIV, 1, 1088 a 5):<br />

<strong>de</strong>finição que repete a <strong>de</strong> Platão e antecipa a<br />

<strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s, já lembrada.<br />

2 a A segunda fase conceptual da noção <strong>de</strong><br />

N. po<strong>de</strong> começar com Descartes: "O N. que<br />

consi<strong>de</strong>ramos em geral, sem refletirmos sobre<br />

coisa alguma criada, não existe fora <strong>de</strong> nosso<br />

pensamento, assim como não existem todas as<br />

outras idéias gerais que os escolásticos incluem<br />

sob o nome <strong>de</strong> universais" (Princ.phil., I, 58).<br />

Em outras palavras, o N. é uma idéia, um ato<br />

ou uma manifestação do pensamento. A <strong>de</strong>finição<br />

daí resultante é a <strong>de</strong> operação: o N. é uma<br />

operação <strong>de</strong> abstração executada sobre coisas<br />

sensíveis. Esse conceito é repetido muitas vezes<br />

na <strong>filosofia</strong> mo<strong>de</strong>rna. Hobbes pôs o N.<br />

entre as coisas "não existentes", que são ape-

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