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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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MUSICA 692 MUSICA<br />

o princípio da M., será diferente a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>sta:<br />

ou será <strong>de</strong>finida (como fizemos) como um<br />

belo jogo <strong>de</strong> sensações (da audição), ou como<br />

um jogo <strong>de</strong> sensações agradáveis. De acordo<br />

com a primeira <strong>de</strong>finição, a M. é consi<strong>de</strong>rada<br />

uma arte bela, pura e simplesmente; <strong>de</strong> acordo<br />

com a segunda, é consi<strong>de</strong>rada, pelo menos em<br />

parte, uma arte agradável" (Crít. do Juízo. § SI).<br />

O conceito <strong>de</strong> "belo jogo <strong>de</strong> sensações" já ten<strong>de</strong><br />

a exprimir uma noção sintática da M. e, por acréscimo,<br />

uma noção para a qual a investigação<br />

sintática po<strong>de</strong> ser dirigida livremente em todas<br />

as direções Cisto está implícito na palavra "jogo").<br />

Em meados do séc. XIX essa noção foi formulada<br />

com maior rigor e clareza na obra <strong>de</strong><br />

HANSLICK, O belo musical (1854), que ainda<br />

hoje continua sendo uma das mais importantes<br />

obras <strong>de</strong> estética musical. Hanslick cerra<br />

fileiras contra o conceito romântico <strong>de</strong> M. como<br />

"representação do sentimento". O objeto da<br />

M. é o belo musical, enten<strong>de</strong>ndo-se com isto<br />

"um belo que, sem <strong>de</strong>correr nem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

qualquer conteúdo exterior, consista unicamente<br />

nos sons e em sua interligação artística.<br />

As engenhosas combinações dos belos sons,<br />

sua concordância e oposição, seus afastamentos<br />

e reuniões, seu crescimento e morte, é<br />

tudo isso que se apresenta em formas livres à<br />

intuição <strong>de</strong> nosso espírito e agrada como belo.<br />

O elemento primordial da música é a eufonia.<br />

sua essência é o ritmo" ( Vom Musikalisch-<br />

Schónen. 111; tracl. it., 1945, p. 82). Assim entendida,<br />

a M. i<strong>de</strong>ntifica-se com a técnica realizadora.<br />

Hanslick diz a respeito: "Se as pessoas<br />

não sabem reconhecer toda a beleza que vive<br />

no elemento puramente musical, gran<strong>de</strong> parte<br />

da culpa <strong>de</strong>ve ser atribuída ao <strong>de</strong>sprezo<br />

pelo sensorial, que, nos antigos estetas, se dava<br />

em favor da moral e do sentimento, e em<br />

Hegel em favor da idéia. Toda arte parte do<br />

sensível e nele se move. A teoria do sentimento<br />

<strong>de</strong>sconhece esse fato, <strong>de</strong>spreza completamente<br />

ouvir e leva em consi<strong>de</strong>ração imediata<br />

o sentir. Acham que a M. é feita para o coração<br />

e que o ouvido é coisa <strong>de</strong>sprezível" (íbíd.,<br />

III, pp. 85-86). Por outro lado, Hanslick expressou<br />

com clareza o caráter que diferencia<br />

a linguagem musical da linguagem comum:<br />

"A diferença consiste em que na linguagem o<br />

som é somente um signo, é um meio para<br />

expressar algo completamente diferente <strong>de</strong>sse<br />

meio, enquanto na M. o som tem importância<br />

em si, é objetivo por si mesmo. A autonomia<br />

das belezas sonoras, por um lado, e o<br />

absoluto predomínio da opinião <strong>de</strong> que o som<br />

é puro e simples meio <strong>de</strong> expressão, por outro<br />

lado, contrapõem-se <strong>de</strong> maneira tão <strong>de</strong>finitiva<br />

que a mistura dos dois princípios é uma impossibilida<strong>de</strong><br />

lógica" (Ibid., IV, p. 113). Contudo<br />

esse caráter não se encontra apenas na linguagem<br />

musical, mas em qualquer linguagem artística,<br />

em confronto com a linguagem comum<br />

(v. ESTÉTICA).<br />

Embora a noção <strong>de</strong> M. à qtial músicos, críticos<br />

e estudiosos <strong>de</strong> estética musical recorreram<br />

e recorrem <strong>de</strong> modo explícito continue<br />

sendo <strong>de</strong> "representação dos sentimentos", foi<br />

a noção <strong>de</strong> M. como técnica da sintaxe dos<br />

sons, cujas regras po<strong>de</strong>m ser in<strong>de</strong>finidamente<br />

mudadas, que prevaleceu na prática da criação<br />

musical e na busca <strong>de</strong> modos <strong>de</strong> criação<br />

novos e mais livres. A última e mais radical<br />

tentativa <strong>de</strong> libertar a língua musical da sintaxe<br />

tradicional é a chamada M. atonal, que<br />

nada mais é que a afirmação programática da<br />

liberda<strong>de</strong> da linguagem musical em escolher<br />

sua própria disciplina; esta, em certos casos,<br />

po<strong>de</strong> ser até a disciplina tonai. Schõnberg diz<br />

a respeito: "A emancipação da dissonância,<br />

ou seja, sua equiparação com os sons consonantes<br />

ocorreu <strong>de</strong> modo inconsciente, com<br />

o pressuposto <strong>de</strong> que stia compreensibilida<strong>de</strong><br />

é favorecida por <strong>de</strong>terminadas circunstâncias<br />

(em Harmonielehre explico isso com o<br />

tato <strong>de</strong> que a diferença entre consonância c dissonância<br />

não é antitética, mas gradual, ou seja,<br />

as consonâncias são os sons mais próximos<br />

do som fundamental, e as dissonâncias são os<br />

mais afastados; por conseguinte, sua compreensibilida<strong>de</strong><br />

é graduada, sendo os sons mais<br />

próximos mais facilmente percebidos que os<br />

afastados). Como não basta o ouvido para reconhecer<br />

e compreen<strong>de</strong>r as relações e as funções,<br />

tais circunstâncias encontraram-se no<br />

campo da expressão e no campo — até então<br />

pouco consi<strong>de</strong>rado — da sonorida<strong>de</strong>"<br />

("Gesinnung o<strong>de</strong>r Erkenntnis?", 1926, em L.<br />

ROGNONI, Hspressionismo edo<strong>de</strong>cafonia. 1954,<br />

p. 249).<br />

Desse ponto <strong>de</strong> vista, a tonalida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>finida,<br />

<strong>de</strong> modo muito geral, como "tudo aquilo<br />

que resulta <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> notas, que é<br />

coor<strong>de</strong>nada através da referência direta a uma<br />

única nota fundamental ou através <strong>de</strong> interligações<br />

complicadas" (Harmonielehre. 1922,<br />

3 a ed., III, p. 488; em ROGNOM, Op. cit., p.<br />

243). Alban Berg observava que "a renúncia à<br />

tonalida<strong>de</strong> 'maior' ou 'menor' não implica

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