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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EXISTÊNCIA 401 EXISTÊNCIA<br />

curiosida<strong>de</strong> e pelo equívoco (v.), e a E. autêntica,<br />

que é a <strong>de</strong> quem reconhece e escolhe a<br />

possibilida<strong>de</strong> mais própria do seu ser. Essa possibilida<strong>de</strong><br />

própria é a da morte: essa conclusão<br />

constitui a característica da <strong>filosofia</strong> <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>gger<br />

(v. EXISTENCIALISMO). Mas as análises <strong>de</strong><br />

Hei<strong>de</strong>gger evi<strong>de</strong>nciaram algumas características<br />

da E. que se mostraram válidas para<br />

compreendê-la e interpretá-la, mesmo fora dos<br />

compromissos ontológicos ou metafísicos <strong>de</strong><br />

que partiam aquelas análises. A E. como possibilida<strong>de</strong><br />

é transcendência para o mundo e,<br />

como tal, é ato <strong>de</strong> projetar. Mas o ato <strong>de</strong> projetar<br />

é, ao mesmo tempo, inclusão do ser-aí projetante<br />

no mundo e sua submissão às condições<br />

do mundo. "O projeto <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s,<br />

em conformida<strong>de</strong> com sua essência, vai ficando<br />

cada vez mais rico do que a posse em que o<br />

projetante se achava anteriormente. Mas semelhante<br />

posse só po<strong>de</strong> pertencer ao ser-aí porque<br />

este, enquanto projetante, sente-se imerso<br />

no meio do ente. Mas, com isso, e em conseqüência<br />

<strong>de</strong> sua efetivida<strong>de</strong>, o ser-aí já per<strong>de</strong><br />

outras possibilida<strong>de</strong>s. Mas é justamente essa<br />

perda <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas possibilida<strong>de</strong>s do po<strong>de</strong>r-ser-no-mundo,<br />

implícita na inclusão no<br />

ente, que põe adiante do ser-aí com seu mundo<br />

as possibilida<strong>de</strong>s realmente alcançáveis no<br />

projeto do mundo" (Wesen <strong>de</strong>s Gran<strong>de</strong>s, III;<br />

trad. it., p. 68). Para quem observa não só<br />

outras formas <strong>de</strong> existencialismo, mas também<br />

outras doutrinas contemporâneas (instrumentalismo,<br />

naturalismo, neo-empirismo) e a postura<br />

das ciências mo<strong>de</strong>rnas em suas pesquisas<br />

sobre o homem (biologia, psicologia, sociologia),<br />

parece extremamente importante e fecunda<br />

essa interpretação da E. como ato <strong>de</strong> projetar,<br />

em que o projetante já está condicionado pelas<br />

coisas ou pelos entes <strong>de</strong> cujas relações<br />

parte seu projeto, encontrando-se por isso diante<br />

<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s limitadas. Essa interpretação<br />

também serve <strong>de</strong> base para enten<strong>de</strong>r<br />

a liberda<strong>de</strong> finita do homem. Hei<strong>de</strong>gger diz:<br />

"prova transcen<strong>de</strong>ntal da finitu<strong>de</strong> da liberda<strong>de</strong><br />

do ser-aí é que o projeto concreto do mundo,<br />

em seu impulso, ganha força e só se torna posse<br />

com a perda [<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>terminadas].<br />

Será que nisso não se mostra com clareza<br />

a essência finita da liberda<strong>de</strong> em geral?" (Ibíd.,<br />

III; trad. it., p. 69).<br />

Essas características da E. são reconhecidas,<br />

ainda que com tônicas diferentes, pelas outras<br />

formas do existencialismo contemporâneo. Para<br />

Jaspers, também a E. é E. possível, <strong>de</strong>finida pe-<br />

1<br />

las relações consigo mesma e com a Transcendência<br />

(Phil., I, p. 13). Mas são as relações<br />

com a Transcendência que dominam a E. na<br />

<strong>filosofia</strong> <strong>de</strong> Jaspers: as relações do homem consigo<br />

mesmo e com o mundo são consi<strong>de</strong>radas<br />

apenas formas imperfeitas, aproximadas e, em<br />

última análise, ilusórias e <strong>de</strong>sastrosas do relacionamento<br />

do homem com a Transcendência.<br />

Mas o relacionamento com a Transcendência não<br />

se inclui entre as possibilida<strong>de</strong>s humanas: <strong>de</strong>sse<br />

modo, essas possibilida<strong>de</strong>s são examinadas<br />

e avaliadas com base naquilo que, para o homem,<br />

é uma impossibilida<strong>de</strong> efetiva e suprema<br />

(Jbid., III, pp, 4 ss.). Possibilida<strong>de</strong>, transcendência,<br />

projeto são também os termos com que<br />

a E. é analisada por Sartre, que, romanticamente,<br />

vê nela a aspiração para o infinito, <strong>de</strong>finindo<br />

o homem como 'o ser que projeta ser Deus"<br />

(.Eêtreetlenéant, 1943, p. 653). Embora a possibilida<strong>de</strong><br />

existencial tenha sido o tema dominante<br />

do existencialismo contemporâneo, com muita<br />

freqüência suas características específicas foram<br />

esquecidas ou negadas. Tais características po<strong>de</strong>m<br />

ser assim expostas: Y- Uma possibilida<strong>de</strong><br />

sempre tem dois aspectos inseparáveis, em virtu<strong>de</strong><br />

dos quais é, simultaneamente, possibilida<strong>de</strong>-<strong>de</strong>-sim<br />

e possibüida<strong>de</strong>-<strong>de</strong>-não. Nada garante<br />

a realização infalível <strong>de</strong> uma possibilida<strong>de</strong>, mas<br />

tampouco nada exclui infalivelmente a sua realização.<br />

Reduzir uma possibilida<strong>de</strong> ao seu aspecto<br />

positivo significa transformá-la em <strong>de</strong>terminação<br />

necessitante, em alguma coisa que não<br />

po<strong>de</strong> não ser. Reduzir a possibilida<strong>de</strong> ao seu aspecto<br />

negativo significa transformá-la em uma<br />

<strong>de</strong>terminação negativa igualmente necessitante,<br />

ou seja, em alguma coisa que não po<strong>de</strong> ser. Em<br />

ambos os casos, abandona-se o terreno da possibilida<strong>de</strong><br />

para entrar no da necessida<strong>de</strong> (v.).<br />

2- A possibilida<strong>de</strong> é uma <strong>de</strong>terminação finita,<br />

sujeita a limites e condições que, ao mesmo tempo<br />

em que a efetivam e validam, <strong>de</strong>limitam seu<br />

âmbito. Portanto, a frase "possibilida<strong>de</strong> infinita"<br />

<strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada contraditória: uma possibilida<strong>de</strong><br />

infinita é, na verda<strong>de</strong>, possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

nada porque não comporta <strong>de</strong>finição nem <strong>de</strong>limitação.<br />

Analogamente, a frase "todas as possibilida<strong>de</strong>s"<br />

<strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada sem sentido, se<br />

tomada sem outras <strong>de</strong>terminações (do tipo, p.<br />

ex., "<strong>de</strong> que ;c dispõe" ou "que a situação y comporta"),<br />

visto que a totalida<strong>de</strong> absoluta das possibilida<strong>de</strong>s<br />

constituiria a garantia infalível da<br />

realização <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las, privando-as precisamente<br />

do caráter <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>. 3 a Com<br />

os procedimentos disponíveis i<strong>de</strong>ntifica-se um

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