22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ABSTRAÇÃO ABSTRATTVO, CONHECIMENTO<br />

ed. Glockner, XVI, p. 226). "Somente o concreto<br />

é o verda<strong>de</strong>iro, o abstrato não é o verda<strong>de</strong>iro"<br />

(Geschicbte <strong>de</strong>r Phil, III, em Werke, ed.<br />

Glockner, XIX, p. 99). Está claro, todavia, que<br />

Hegel enten<strong>de</strong> por abstrato aquilo que comumente<br />

se chama concreto — as coisas, os<br />

objetos particulares, as realida<strong>de</strong>s singulares<br />

oferecidas ou testemunhadas pela experiência<br />

— enquanto chama <strong>de</strong> concreto o que o uso comum<br />

e filosófico sempre chamou <strong>de</strong> abstrato,<br />

isto é, o conceito; e chama-o <strong>de</strong> concreto porque<br />

este constitui, para ele, a substância mesma<br />

da realida<strong>de</strong> (conforme o seu princípio "Tudo<br />

o que é racional é real e tudo o que é real é racional").<br />

De qualquer forma, essa inversão <strong>de</strong><br />

significado permitiu que boa parte da <strong>filosofia</strong><br />

do séc. XIX se pronunciasse a favor do concreto<br />

e contra o abstrato, ainda quando o "concreto"<br />

<strong>de</strong> que se tratava era, na realida<strong>de</strong>, uma simples<br />

A. filosófica. Gentile falava, p. ex., <strong>de</strong> uma "lógica<br />

do abstrato", ou do pensamento pensado, e<br />

<strong>de</strong> uma "lógica do concreto", ou do pensamento<br />

pensante (Sistema di lógica, I, 1922, pp. 119<br />

ss.). Croce falava da "concretitu<strong>de</strong>" do conceito<br />

como imanência <strong>de</strong>ste nas representações singulares<br />

e da "abstrateza" das noções consi<strong>de</strong>radas<br />

<strong>de</strong>sligadas dos particulares ilógica, A- ed.,<br />

1920, p. 28). Bergson contrapôs constantemente<br />

o tempo "concreto" da consciência ao tempo<br />

"abstrato" da ciência e, <strong>de</strong> modo geral, o procedimento<br />

da ciência que se vale <strong>de</strong> conceitos ou<br />

símbolos, isto é, <strong>de</strong> "idéias abstratas ou gerais",<br />

ao procedimento intuitivo ou simpático da <strong>filosofia</strong><br />

(cf., p. ex., Lapenséeet le mouvant, 3- ed.,<br />

1934, p. 210). Esses temas polêmicos foram<br />

bastante freqüentes na <strong>filosofia</strong> dos primeiros<br />

<strong>de</strong>cênios do nosso século. E certamente a polêmica<br />

contra a A. foi eficaz contra a tendência <strong>de</strong><br />

entificar os produtos <strong>de</strong>la, isto é, <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar<br />

como substâncias ou realida<strong>de</strong>s, entida<strong>de</strong>s que<br />

não têm outra função senão possibilitar a <strong>de</strong>scrição,<br />

a classificação e o uso <strong>de</strong> um complexo<br />

<strong>de</strong> dados. Mas, por outro lado, essa mesma polêmica<br />

às vezes fez esquecer a função da A. em<br />

todo tipo ou forma <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> humana, enquanto<br />

tal ativida<strong>de</strong> só po<strong>de</strong> operar através <strong>de</strong><br />

seleções abstrativas. Mach insistiu nessa função<br />

da A. nas ciências, afirmando que ela é indispensável<br />

para a observação dos fenômenos,<br />

para a <strong>de</strong>scoberta, ou para a pesquisa dos princípios<br />

(Erkenntniss undIrrtum, cap. VIII; trad.<br />

fr., pp. 146 ss.). A esse propósito foi oportunamente<br />

distinguida por Peirce uma dupla função<br />

da A.: a <strong>de</strong> operação seletiva e a que dá ensejo<br />

às verda<strong>de</strong>iras e próprias entida<strong>de</strong>s abstratas,<br />

como p. ex., na matemática. "O fato mais comum<br />

da percepção, como, p. ex., 'há luz', implica<br />

A. prescin<strong>de</strong>nte ou prescindência. Mas a A.<br />

hipostática, que transforma 'há luz' em 'há luz<br />

aqui', que é o sentido que dou comumente à<br />

palavra A. (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que prescindência indica a A.<br />

prescin<strong>de</strong>nte), é um modo especialíssimo do<br />

pensamento. Consiste em tomar certo aspecto<br />

<strong>de</strong> um objeto ou <strong>de</strong> vários objetos percebidos<br />

(<strong>de</strong>pois que já foi 'pré-cindido' dos outros aspectos<br />

<strong>de</strong> tais objetos) e em exprimi-lo <strong>de</strong> forma<br />

proposicional com um juízo" (Coll. Pap., 4.235;<br />

cf. 3.642; 5.304). Essa distinção que já fora acenada<br />

por James (Princ. ofPsychol, I. 243) e<br />

aceita por Dewey {Logic, cap. 23; trad. it., pp.<br />

603-604) não impe<strong>de</strong> que tanto a prescindência<br />

quanto a A. hipostática sejam especificações da<br />

função geral seletiva, que tradicionalmente foi<br />

indicada pela palavra "abstração". Paul Valéry<br />

insistiu poeticamente na importância da A. em<br />

todas as constaições humanas, logo também<br />

na arte: "Estou dizendo que o homem fabrica<br />

por A.; ignorando e esquecendo gran<strong>de</strong> parte<br />

das qualida<strong>de</strong>s daquilo que emprega, aplicando-se<br />

somente a condições claras e distintas<br />

que po<strong>de</strong>m, via <strong>de</strong> regra, ser simultaneamente<br />

satisfeitas não por uma, mas por muitas espécies<br />

<strong>de</strong> matérias" (Eupalinos, trad. ital., p. 134).<br />

ABSTRACIONISMO (in. Abstractionisni; fr.<br />

Abstractionnisme, ai. Abstraktionismus; it. Astrazionismo).<br />

Assim William James (The Meaning<br />

of Truth, 1909, cap. XIII) <strong>de</strong>nominou o<br />

uso ilegítimo da abstração e em particular a<br />

tendência a consi<strong>de</strong>rar como reais os produtos<br />

da abstração.<br />

ABSTRATAS, CIÊNCIAS. V. CIÊNCIAS, CLASSI-<br />

FICAÇÃO DAS.<br />

ABSTRATAS, IDÉIAS. V. ABSTRAÇÃO.<br />

ABSTRATIVO, CONHECIMENTO (lat<br />

Cognitio abstractiva-, in. Abstractive knowledge,<br />

fr. Connaissance abstractive, ai. Abstrahieren<strong>de</strong><br />

Erkenntniss; it. Conoscenza astrattiva). Termo<br />

que Duns Scot empregou <strong>de</strong> modo simétrico<br />

e oposto ao <strong>de</strong> conhecimento intuitivo (cognitio<br />

intuitiva), para indicar uma das espécies<br />

fundamentais do conhecimento: a primeira<br />

<strong>de</strong>las "abstrai <strong>de</strong> toda existência atual"<br />

enquanto a segunda "se refere ao que existe<br />

ou ao que está presente em certa existência<br />

atual" (Op. Ox., II, d. 3, q. 9, n. 6). A distinção<br />

foi aceita por Durand <strong>de</strong> St. Pourçain (In Sent,<br />

Prol, q. 3, F) e por Ockham, que, porém, a<br />

reinterpretou a seu modo, enten<strong>de</strong>ndo por co-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!