22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

EXISTENCIAIISMO 405 EXISTENCIALISMO<br />

pectos mais <strong>de</strong>sfavoráveis, negativos e <strong>de</strong>sconcertantes<br />

da vida humana, ou seja, sobre<br />

os aspectos da vida humana enquanto é um<br />

simples po<strong>de</strong>r ser, completamente <strong>de</strong>sprovido<br />

<strong>de</strong> qualquer garantia <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> e certeza.<br />

A chamada literatura existencialista ten<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

fato, a dar <strong>de</strong>staque às vícissítu<strong>de</strong>s humanas menos<br />

respeitáveis e mais tristes, pecaminosas e<br />

dolorosas, bem como à incerteza dos empreendimentos<br />

bons ou maus e à ambigüida<strong>de</strong> do<br />

bem, que po<strong>de</strong> dar origem ao seu contrário. De<br />

modo semelhante, atitu<strong>de</strong>s, costumes e modas<br />

eram qualificados <strong>de</strong> "existencialistas" quando<br />

pretendiam ser formas <strong>de</strong> protesto contra o otimismo<br />

superficial e a respeitabilida<strong>de</strong> burguesa<br />

da socieda<strong>de</strong> contemporânea. Seja qual for o<br />

julgamento que se faça sobre essas manifestações,<br />

cujo caráter superficial e grotesco muitas<br />

vezes é evi<strong>de</strong>nte, mas cuja responsabilida<strong>de</strong><br />

não <strong>de</strong>ve recair sobre a corrente filosófica <strong>de</strong><br />

que estamos falando, está claro que, <strong>de</strong>ssa forma,<br />

o E. representou uma po<strong>de</strong>rosa força <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>struição do dogmatismo absolutista do séc.<br />

XIX, dos seus mitos otimistas e do seu falso<br />

sentimento <strong>de</strong> segurança, aliás tão duramente<br />

<strong>de</strong>smentidos pelas vicissitu<strong>de</strong>s dos últimos<br />

<strong>de</strong>cênios. Não pairam dúvidas, pois, quanto à<br />

função resolutiva e libertadora que essa forma<br />

<strong>de</strong> E. exerceu nos últimos vinte anos, mas<br />

tampouco pairam dúvidas quanto à sua incapacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> preparar instrumentos válidos que<br />

contribuam para a solução positiva dos problemas<br />

humanos.<br />

2- Se a primeira interpretação reduz as possibilida<strong>de</strong>s<br />

humanas a reais ímpossibilida<strong>de</strong>s, a<br />

segunda interpretação as consi<strong>de</strong>ra, no extremo<br />

oposto, como potencialida<strong>de</strong>s, no sentido<br />

aristotélico do termo. Assim entendido, o possível<br />

per<strong>de</strong> seu aspecto negativo e preocupante,<br />

já que uma potencialida<strong>de</strong> está sempre "<strong>de</strong>stinada<br />

a realizar-se" (LAVEIXE, DU temps et <strong>de</strong><br />

1'étemité, 1945, p. 261). Essa transformação do<br />

possível, <strong>de</strong> categoria <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> e incerteza<br />

problemática para categoria <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong><br />

e certeza, é obtida graças à vinculação das<br />

possibilida<strong>de</strong>s existenciais a uma Realida<strong>de</strong><br />

absoluta da qual elas aufeririam garantia <strong>de</strong> realização<br />

infalível. Para Lavelle, essa realida<strong>de</strong><br />

absoluta é o Ser (De 1'êfre, 1928; De Vacte,<br />

1937; Du temps et <strong>de</strong> Véternité, 1945), para Le<br />

Senne (Obstacle et valeur, 1934), a realida<strong>de</strong><br />

absoluta é entendida como valor infinito. A<br />

realida<strong>de</strong> absoluta também como Ser é entendida<br />

por Mareei, que porém acredita que o ser<br />

só se revela no mistério <strong>de</strong> que se circunda e<br />

que, por isso, a única atitu<strong>de</strong> possível do homem<br />

diante <strong>de</strong>le é a <strong>de</strong> amor e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong><br />

{Journal Mêtaphysique, 1927; Être et avoír,<br />

1935; Du refus à Vinvocation, 1940). Mas,<br />

qualquer que seja o modo <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong><br />

absoluta, por se fundarem nela as possibilida<strong>de</strong>s<br />

existenciais transformam-se em róseas<br />

perspectivas <strong>de</strong> sucesso, e assim nada do<br />

que o homem realmente é e nenhum dos seus<br />

valores fundamentais po<strong>de</strong>m per<strong>de</strong>r-se, já<br />

que elas têm garantia absoluta e transcen<strong>de</strong>nte.<br />

Essa corrente do E., que tem caráter e finalida<strong>de</strong><br />

religiosa, do ponto <strong>de</strong> vista filosófico tem<br />

o <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> constituir um panegírico da realida<strong>de</strong><br />

humana, e não uma tentativa <strong>de</strong> compreendê-la<br />

e <strong>de</strong> propiciar uma justificação post<br />

factum da experiência humana, muito semelhante<br />

à tentada pelas <strong>filosofia</strong>s românticas. A<br />

se admitir que todas as possibilida<strong>de</strong>s existenciais<br />

estão <strong>de</strong>stinadas a realizar-se, porquanto<br />

fundadas no Ser ou no Valor, só se estarão<br />

encobrindo os insucessos e as misérias do homem<br />

com um manto verbal. A se admitir, ao<br />

contrário, que nem todas as possibilida<strong>de</strong>s humanas<br />

estão fundadas no Ser e no Valor, e que<br />

nem todas estão <strong>de</strong>stinadas a realizar-se, propor-se-á<br />

o embaraçoso problema <strong>de</strong> fornecer<br />

um critério para reconhecer quais são as possibilida<strong>de</strong>s<br />

realmente fundadas: problemas para<br />

cuja solução o pressuposto do fundamento<br />

transcen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ssas possibilida<strong>de</strong>s em nada<br />

contribui.<br />

3 e Enfim, para uma terceira interpretação,<br />

própria do E. italiano, as possibilida<strong>de</strong>s existenciais<br />

<strong>de</strong>vem ser assumidas e mantidas como tais,<br />

sem serem transformadas em Ímpossibilida<strong>de</strong>s<br />

nem em potencialida<strong>de</strong>s. Nesse caso, a perspectiva<br />

aberta por uma possibilida<strong>de</strong> não é nem a<br />

realização infalível nem a impossibilida<strong>de</strong> radical,<br />

mas a busca ten<strong>de</strong>nte a estabelecer os<br />

limites e as condições da própria possibilida<strong>de</strong><br />

e, portanto, o grau <strong>de</strong> garantia relativa ou<br />

parcial que ela po<strong>de</strong> oferecer. Essa corrente<br />

do E. acentua a tendência naturalista e empirista<br />

já presente — ainda que <strong>de</strong> forma disfarçada ou<br />

imperfeita — nas outras correntes (N. ABBAG-<br />

NANO, Struttura <strong>de</strong>lVesistenza, 1939; Introduzíone<br />

alVesistenzialismo, 1942; Filosofia, religione,<br />

scienza, 1948; Possibilita e liberta, 1956;<br />

E PACI, Principi di una <strong>filosofia</strong> <strong>de</strong>lVessere,<br />

1939; Pensiero, esistenza, valore, 1940; Tempo e<br />

relazione, 1954). Segundo essa tendência, a investigação<br />

dos limites e das condições a que as

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!