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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CONSCIÊNCIA 2<br />

ser pelo qual o nada vem ao mundo <strong>de</strong>ve ser o<br />

seu próprio nada" Ubid., p. 59), o que significa<br />

que a C. é o seu próprio nada na medida em<br />

que se <strong>de</strong>termina a não ser o em-si a que se<br />

refere. Paradoxalmente, partindo da mesma<br />

premissa <strong>de</strong> Husserl, Sartre chega à conclusão<br />

simetricamente oposta. Para ele, assim como<br />

para Husserl, a C. em sua percepção imanente,<br />

isto é, em seu ato <strong>de</strong> auto-reflexão, é tudo, é o<br />

absoluto. Mas por sua fissura interna como negação<br />

do em-si, ela é o próprio nada. Essa conclusão<br />

é tão pouco apta a exprimir ou a compreen<strong>de</strong>r<br />

os fenômenos relativos à C. quanto a<br />

<strong>de</strong> Husserl.<br />

Por outro lado, Hartmann e Hei<strong>de</strong>gger apresentam<br />

a alternativa objetivista da interpretação<br />

da C. como intencionalida<strong>de</strong>. Hartmann julga<br />

que a noção <strong>de</strong> "C. aberta", que penetre sem limites<br />

no mundo das coisas, é falsa. A C. é essencialmente<br />

clausura e as coisas nunca entram<br />

nela, mas permanecem além <strong>de</strong>la, ainda quando<br />

conhecidas. "A C. não tem coisas, mas representações,<br />

concepções, imagens das coisas;<br />

e estas po<strong>de</strong>m coincidir ou não com as coisas,<br />

isto é, ser verda<strong>de</strong>iras ou não verda<strong>de</strong>iras.<br />

Daí resulta que o conhecimento não é simples<br />

ato <strong>de</strong> C, como representar ou pensar, mas um<br />

ato transcen<strong>de</strong>nte. Um ato semelhante pren<strong>de</strong>-se<br />

ao sujeito apenas por um <strong>de</strong> seus lados e<br />

com o outro esten<strong>de</strong>-se para fora <strong>de</strong>le; com<br />

este lado, pren<strong>de</strong>-se ao existente que, por seu<br />

intermédio, passa a ser objeto. O conhecimento é<br />

relação entre um sujeito e um objeto existente.<br />

Nessa relação, o ato transcen<strong>de</strong> a C." (SystematíscbePhilosophie,<br />

§ 11). Desse modo, a C. per<strong>de</strong><br />

a supremacia e o caráter <strong>de</strong> círculo encantado,<br />

do qual não é possível escapar. Para<br />

Hartmann, o conhecimento é, para todos os<br />

efeitos, a transcendência da C. para um objeto<br />

que existe in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong>la. A C. também<br />

per<strong>de</strong> o caráter <strong>de</strong> infalibilida<strong>de</strong> e per<strong>de</strong>-o<br />

a C. histórica, a C. coletiva. Esta nunca é a<strong>de</strong>quada<br />

a si mesma, como seria se fosse <strong>de</strong> um<br />

Espírito Absoluto. O espírito histórico revela,<br />

no mais das vezes, sua própria natureza quando<br />

já é passado. "Não se mostra mais à sua própria<br />

C, mas a outra. Para a sua escon<strong>de</strong>-se<br />

atrás daquilo ela sabe <strong>de</strong>le" (Ibid., § 19)- Na<br />

mesma linha, porém mais radicalmente, Hei<strong>de</strong>gger<br />

fez uma análise da existência humana<br />

que prescin<strong>de</strong> completamente do termo e da<br />

noção tradicional <strong>de</strong> C. (Bewusstseín), mas<br />

utilizou e interpretou a noção <strong>de</strong> C. moral<br />

(Gewisseri), isto é, da "voz da C". A eliminação<br />

193 CONSCIÊNCIA 2<br />

da noção tradicional <strong>de</strong> C. <strong>de</strong>ve-se ao uso que<br />

Hei<strong>de</strong>gger fez da noção <strong>de</strong> transcendência na<br />

análise da relação do homem com o mundo. A<br />

transcendência não é para o homem um comportamento<br />

entre os outros possíveis, mas a<br />

própria essência <strong>de</strong> sua subjetivida<strong>de</strong>; e o termo<br />

para o qual o homem transcen<strong>de</strong> é o mundo,<br />

que nesse caso não <strong>de</strong>signa a totalida<strong>de</strong><br />

das coisas naturais ou a comunida<strong>de</strong> dos homens,<br />

mas a estrutura relacionai que caracteriza<br />

a existência humana como transcendência.<br />

Transcen<strong>de</strong>r para o mundo significa fazer do<br />

mundo o projeto das atitu<strong>de</strong>s possíveis ou das<br />

ações possíveis do homem; mas enquanto<br />

projeto, o mundo recompreen<strong>de</strong> em si o homem<br />

que se acha "lançado" nele e submetido<br />

às suas limitações. "A transcendência", diz Hei<strong>de</strong>gger,<br />

"exprime o projeto do mundo <strong>de</strong> tal<br />

modo que O-que-projeta é dominado pela realida<strong>de</strong><br />

que ele transcen<strong>de</strong> e já está conciliado<br />

com ela" (Vom Wesen <strong>de</strong>s Gran<strong>de</strong>s, III). Simultaneamente<br />

a transcendência também constitui<br />

o si mesmo do homem, isto é, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do<br />

homem singular existente. "Na transcendência<br />

e através <strong>de</strong>la é possível distinguir no interior<br />

do existente e <strong>de</strong>cidir quem é e como se é Simesmo<br />

e o que não o é" (Ibid., II). A relação<br />

do homem consigo mesmo e com o mundo,<br />

<strong>de</strong>scrita em termos <strong>de</strong> transcendência, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

ter os caracteres tradicionais da C. (trancamento<br />

em si mesma, imediação, auto-reflexão,<br />

etc), <strong>de</strong> sorte que Hei<strong>de</strong>gger po<strong>de</strong> dispensar<br />

até mesmo o termo consciência. Em sentido<br />

mais tradicional, porém, é utilizada a noção <strong>de</strong><br />

"voz da C". Esta é entendida como uma relação<br />

intrínseca do ser-aí do homem, mais precisamente<br />

uma relação pela qual o homem é<br />

revocado da exstência anônima e banal do<br />

"diz-se", "faz-se", etc, para seu próprio e<br />

autêntico "po<strong>de</strong>r-ser", isto é, para a sua possibilida<strong>de</strong><br />

constitutiva última, o ser-para-a-morte.<br />

"Para o que o ser é revocado? Para o seu próprio<br />

Si-mesmo. Portanto, não para alguma coisa<br />

à qual o ser-aí, na convivência pública, confira<br />

valor e urgência <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong><br />

fuga, nem mesmo àquilo que ele tomou, a que<br />

se <strong>de</strong>dicou, <strong>de</strong> que se assenhoreou. O ser-aí,<br />

relacionado consigo mesmo e com os outros<br />

no quadro da mundanida<strong>de</strong>, é ultrapassado<br />

nessa conclamação" (Seind und Zeit, § 56). Portanto,<br />

o ser-aí que compreen<strong>de</strong> essa conclamaçào<br />

"obe<strong>de</strong>ce à possibilida<strong>de</strong> mais própria<br />

<strong>de</strong> sua existência. Escolheu-se a si mesmo"<br />

(Ibid., § 58). Ainda aqui, portanto, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-

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