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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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PAIXÃO 740 PALAVRA<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> no mundo nunca foi realizado sem<br />

paixões violentas", para comentá-la: "Po<strong>de</strong>-se<br />

admitir isso a respeito <strong>de</strong> diversas inclinações,<br />

aquelas sem as quais a natureza viva (inclusive<br />

a do homem) não po<strong>de</strong> passar, como as<br />

necessida<strong>de</strong>s naturais e físicas. Mas que elas<br />

possam, ou melhor, precisem tornar-se paixões,<br />

isto a Providência não quis. Esse tipo <strong>de</strong><br />

explicação po<strong>de</strong> ser aceita num poeta, como<br />

p. ex. em Pope, que escreveu 'Se a razão é<br />

bússola, as paixões são os ventos', mas o filósofo<br />

não po<strong>de</strong> admitir esse princípio nem mesmo<br />

para avaliar as paixões como um artifício<br />

provisório da Providência, que as teria colocado<br />

na natureza humana antes que os homens<br />

alcançassem um grau razoável <strong>de</strong> civilização"<br />

(Antr., § 80).<br />

O Romantismo aceita e adota o conceito <strong>de</strong><br />

P. elaborado pelos moralistas franceses e por<br />

Kant, ou seja, <strong>de</strong> que a P. não é uma emoção<br />

ou um estado afetivo particular, mas o domínio<br />

total e profundo que um estado afetivo exerce<br />

sobre toda a personalida<strong>de</strong> (ou "subjetivida<strong>de</strong>")<br />

do indivíduo. Por outro lado, inverte a valoraçáo<br />

negativa feita por Kant. É significativo<br />

que Hegel, que expressou com mais rigor o<br />

ponto cie vista romântico sobre o assunto, só<br />

tenha invertido as valorações kantianas. Hegel<br />

<strong>de</strong>fine a P. como a "totalida<strong>de</strong> do espírito prático<br />

posto numa única das muitas <strong>de</strong>terminações<br />

limitadas que se opõem entre si" (linc, § 473).<br />

E acrescentou: "A <strong>de</strong>terminação da P. implica<br />

que ela se restringe a uma particularida<strong>de</strong> da<br />

<strong>de</strong>terminação do querer, na qual imerge toda<br />

a subjetivida<strong>de</strong> do indivíduo, seja qual for o<br />

conteúdo <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>terminação. Mas por esse<br />

caráter formal, a P. não é boa nem má; sua<br />

forma só exprime que um sujeito pôs num<br />

único conteúdo todo o interesse vivo <strong>de</strong> seu<br />

espírito, <strong>de</strong> seu talento, <strong>de</strong> seu caráter, <strong>de</strong> seu prazer.<br />

Nada <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> foi realizado, nem po<strong>de</strong><br />

ser realizado, sem P. Não passa <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong><br />

morta, na maioria das vezes hipócrita, a que<br />

investe contra a forma da P. como tal" (Ene,<br />

§ 474). Aqui, ao mesmo tempo em que se<br />

insiste no caráter totalizante da P. — que limita<br />

a um único conteúdo ou <strong>de</strong>terminação "toda a<br />

subjetivida<strong>de</strong> do indivíduo", "o interesse vivo<br />

do seu espírito, etc." —, retoma-se a frase<br />

criticada por Kant e <strong>de</strong>clara-se expressão <strong>de</strong><br />

moralida<strong>de</strong> morta ou hipócrita a con<strong>de</strong>nação<br />

feita por ele. E o mais curioso é que Kant criticara<br />

antecipadamente outra característica da<br />

<strong>filosofia</strong> <strong>de</strong> Hegel, ou seja, a justificação das P.<br />

como instrumentos da providência cósmica, como<br />

"astúcias" da Razão Infinita, para realizar<br />

seus fins: tese que está entre as mais características<br />

da <strong>filosofia</strong> da história <strong>de</strong> Hegel (Philosopbie<br />

<strong>de</strong>r Geschichíe, ed. Lasson pp. 63 ss.). De um<br />

ponto <strong>de</strong> vista diferente, a exaltação da P. também<br />

se encontra em Nietzsche, para quem era<br />

sintoma <strong>de</strong> fraqueza o "temor dos sentidos, dos<br />

<strong>de</strong>sejos e das paixões, quando ela chega para<br />

<strong>de</strong>saconselhá-los", consi<strong>de</strong>rando a P. dominante<br />

como "a forma suprema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>" porque<br />

nela "a coor<strong>de</strong>nação dos sistemas internos<br />

e seu trabalho a serviço <strong>de</strong> um mesmo fim são<br />

mais bem realizados: o que é mais ou menos a<br />

<strong>de</strong>finição da saú<strong>de</strong>" (WülezurMacht, ed. Krõner,<br />

§ 778).<br />

Ponto <strong>de</strong> vista eqüidistante entre a con<strong>de</strong>nação<br />

e a exaltação da P. parece prevalecer na<br />

cultura contemporânea. Dewey, p. ex., assim<br />

se expressa: "A fase emocional, apaixonada da<br />

ação não po<strong>de</strong> nem <strong>de</strong>ve ser eliminada em<br />

prol <strong>de</strong> uma razão exangue. Mais paixões, não<br />

menos, é a resposta. (...) A racionalida<strong>de</strong> não é<br />

a força a ser invocada contra impulsos e hábitos,<br />

mas sim a conquista <strong>de</strong> uma harmonia que<br />

atue entre diferentes <strong>de</strong>sejos" (Human Nature<br />

and Conduct, pp. 195-96).<br />

PALAVRA (lat. Verbum- in. Word; fr. Parole,<br />

ai. Wort; it. Parola). 1. Segundo a distinção feita<br />

por Saussure entre P., lí)igua(w) e linguagem<br />

(v.), a P. seria a manifestação lingüística do<br />

indivíduo. Diferentemente da língua, que é<br />

uma função social, registrada passivamente<br />

pelo indivíduo, a P. é "o ato individual <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong><br />

e inteligência, no qual convém distinguir:<br />

1 Q as combinações nas quais o falante utiliza o<br />

código da língua para exprimir seu pensamento<br />

pessoal; 2" o mecanismo psicológico que lhe<br />

permite exteriorizar essas combinações" (Cours<br />

<strong>de</strong> linguístíque génémle, 1916, p. 31).<br />

2. O termo P. tem uma ambigüida<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciada<br />

pelos lógicos: por um lado, po<strong>de</strong> ser um<br />

evento individual, novo a cada vez que se repete<br />

(neste sentido dizemos, p. ex., que um<br />

livro é composto por cinqüenta mil palavras),<br />

por outro, po<strong>de</strong> significar a P.-significado, que<br />

é a mesma, por mais que se repita (neste sentido,<br />

sobre o mesmo livro, po<strong>de</strong>mos dizer que é<br />

composto por cinco mil palavras). No primeiro<br />

sentido, p. ex., se a P. está for repetida <strong>de</strong>z<br />

vezes numa página será <strong>de</strong>z palavras; no segundo<br />

sentido, é uma palavra só. Peirce propôs<br />

chamar a palavra no primeiro significado token<br />

(ocorrência) e no segundo significado type

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