22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

POESIA POESIA<br />

arte como composição: "Todo o universo visível<br />

é só um armazém <strong>de</strong> imagens e <strong>de</strong> signos<br />

aos quais a imaginação atribuirá um lugar e um<br />

valor relativo; 6 uma espécie <strong>de</strong> forragem<br />

que a imaginação precisa digerir e transformar"<br />

("Salon <strong>de</strong> 1859". (Euures, ed. Le Dantec, II, p.<br />

232). Mas foi Valéiy quem mais enfatizou o caráter<br />

da arte como construção: "As criações do<br />

homem são feitas com vistas ao próprio corpo<br />

— e dá a esse princípio o nome <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>—<br />

ou com vistas à própria alma — e isso ele procura<br />

com o nome <strong>de</strong> beleza. Mas, por outro<br />

lado, quem constrói ou cria, comprometido<br />

como está com o resto do mundo e com o movimento<br />

da natureza, que ten<strong>de</strong>m perpetuamente<br />

a dissolver, corromper ou arruinar o que<br />

ele faz, precisa discernir um terceiro princípio,<br />

que tenta comunicar às próprias obras, capaz<br />

<strong>de</strong> exprimir a resistência que estas <strong>de</strong>verão<br />

opor ao seu <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> obras perecíveis. Em<br />

suma, ele cria a soli<strong>de</strong>z e a duração. Eis as<br />

gran<strong>de</strong>s características <strong>de</strong> uma obra completa.<br />

Só a arquitetura exige-as e eleva-as ao ponto<br />

culminante. Consi<strong>de</strong>ro-a a arte mais completa"<br />

(Eupalinos. trad. it., pp. 141-42). Assim, o caráter<br />

arquitetônico da arte é condicionado pela<br />

resistência que ela encontra nas forças naturais<br />

e pela vitória sobre essa resistência. Por outro<br />

lado, um corolário do caráter construtivo ou<br />

arquitetônico da ativida<strong>de</strong> poética é o controle<br />

sobre a inspiração, já ressaltado por Bau<strong>de</strong>laire:<br />

"Alimento substancioso e regular é a única<br />

coisa necessária para os escritores fecundos.<br />

A inspiração é <strong>de</strong>cididamente irmã do trabalho<br />

cotidiano. Esses dois contrários não se excluem,<br />

tanto quanto não se excluem os contrários<br />

que constituem a natureza. A inspiração<br />

obe<strong>de</strong>ce, tanto quanto a fome, a digestão, o<br />

sono" ("Conseils aux jeunes littérateurs", 6. (Eitvres,<br />

ed. Le Dantec, II, p. 388).<br />

5" A P. tem caráter comunicatiro. Flaubert<br />

dizia: "O poeta <strong>de</strong>ve simpatizar com tudo e<br />

com todos para compreendê-los e <strong>de</strong>screvêlos"<br />

(Lettre ü Mlle. Leroyer <strong>de</strong> Chantepie, 12 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1857). E Bau<strong>de</strong>laire: "Prefiro o<br />

poeta que está em permanente comunicação<br />

com os homens cie seu tempo, trocando com<br />

eles pensamentos e sentimentos que se traduzem<br />

em linguagem nobre e suficientemente<br />

correta. Situado num dos pontos da circunferência<br />

da humanida<strong>de</strong>, o poeta retransmite na<br />

mesma linha, com vibrações mais melodiosas,<br />

o pensamento humano que lhe foi transmitido.<br />

O verda<strong>de</strong>iro poeta <strong>de</strong>ve ser uma<br />

encarnação" ("Pierre Dupont", (Euvres, ed. Le<br />

Dantec, I, p. 404).<br />

6° Deve-se buscar a perfeição formal, que é<br />

a exatidão ou precisão expressiva. Flaubert<br />

queria que a P. fosse "tão exata quanto a geometria"<br />

(Lettre à Louise Co/et, 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1853) e afirmava: "Quanto mais uma idéia é<br />

bela tanto mais a frase é harmoniosa. A exatidão<br />

do pensamento faz (ou melhor, é) a exatidão<br />

cia palavra" (Lettre à Mlle. Leroyer <strong>de</strong><br />

Chantepie, 12 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1857). Mallarmé<br />

insistiu nesse aspecto da P.: "A arte suprema<br />

consiste em mostrar, com a posse impecável cie<br />

todas as faculda<strong>de</strong>s, que se está em êxtase, sem<br />

<strong>de</strong>monstrar <strong>de</strong> que maneira se chega ao cume"<br />

(Lettre à ILenri Cazalis, 21 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />

1863). Valéiy escreveu a respeito: "Procurei a<br />

exatidão nos pensamentos, para que, patentemente<br />

gerados pela observação cias coisas, se<br />

transformassem, como por um processo espontâneo,<br />

nos atos da minha arte. Distribuí minhas<br />

atenções, refiz a or<strong>de</strong>m dos problemas; começo<br />

on<strong>de</strong> antes eu terminava, para ir um pouco<br />

mais adiante. (...) A varo <strong>de</strong> fantasias, concebo<br />

como se perseguisse" (Eitpalinos; tracl. it., p.<br />

91). E Ungaretti disse no mesmo sentido: "ELI<br />

sonhava com uma P. em que os mistérios da<br />

alma, não atraiçoado.s nem falseados em seus<br />

impulsos, se conciliassem com uma extrema<br />

sabedoria do discurso" (Quaranta souetti di<br />

Shakespeare, Nota íntr.). Mallarmé esten<strong>de</strong>u a<br />

preocupação da exatidão à própria escrita: "O<br />

arcabouço intelectual do poema dissimula-se e<br />

sustenta-se — acontece — no espaço que<br />

isola as estrofes e o branco do papel: silêncio<br />

significativo, <strong>de</strong> composição tão bela quanto a<br />

tios próprios versos" (Lettre non datée ã Charles<br />

Morice, cf. 1'ropossur Iapoésie-, ed. Mondor,<br />

p. 164).<br />

7-' Finalmente, como recapitulação <strong>de</strong> todos<br />

os aspectos acima enumerados da P., também<br />

lhe é atribuída a função cie manutenção <strong>de</strong><br />

uma linguagem eficiente. Essa função foi explicada<br />

com toda a energia e clareza possíveis por<br />

F.zra Pound: a função da literatura "não é a<br />

coerção ou a persuasão por vias emocionais"<br />

nem a coação a adotar certas opiniões. "Sua<br />

função tem a ver com a clareza e o vigor <strong>de</strong><br />

qualquer pensamento ou opinião. Diz respeito<br />

à preservação e ao esmero dos instrumentos, à<br />

saú<strong>de</strong> da própria substância do pensamento.<br />

Com exceção <strong>de</strong> casos raros e limitados <strong>de</strong><br />

invenção nas artes plásticas ou na matemática,<br />

o indivíduo não po<strong>de</strong> pensar e comunicar o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!