22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

TEORIA 952 TEORIA<br />

TEORIA (gr. 8ecopía;lat. Theoria-, in. Theory,<br />

fr. Tbéorie, ai. 'Ibeorie, it. Teoria). Este termo<br />

possui os seguintes significados principais:<br />

1 B Especulação ou vida contemplativa. Esse<br />

é o significado que o termo teve na Grécia.<br />

Nesse sentido, Aristóteles i<strong>de</strong>ntificava T. com<br />

bem-aventurança (Et. nic, X, 8, 1178 b 25); T.<br />

opõe-se então a prática e, em geral, a qualquer<br />

ativida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>sinteressada, ou seja, que não<br />

tenha a contemplação por objetivo.<br />

2 a Uma condição hipotética i<strong>de</strong>al, na qual<br />

tenham pleno cumprimento normas e regras,<br />

que na realida<strong>de</strong> são observadas imperfeita ou<br />

parcialmente. Este significado está presente<br />

quando se diz: "Teoricamente, <strong>de</strong>veria ser assim,<br />

mas na prática é outra coisa". Kant examinou<br />

o problema da relação entre T. e prática<br />

nesse sentido num escrito <strong>de</strong> 1793 (Über <strong>de</strong>n<br />

Gemenspruch: Das mag in <strong>de</strong>r Ibeorie richtig<br />

seiri, taugt aber nicht für die Praxis), em que<br />

se encontram as seguintes <strong>de</strong>finições cie T. e prática:<br />

"Chama-se T. um conjunto <strong>de</strong> regras também<br />

práticas, quando são pensadas como princípios<br />

gerais, fazendo-se abstração <strong>de</strong> certa<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições que exerçam influência<br />

necessária sobre a sua aplicação. Inversamente,<br />

o que se chama ác prática não é um ato<br />

qualquer, mas apenas o ato que concretiza um<br />

objetivo e é pensado em relação a princípios<br />

<strong>de</strong> conduta representados universalmente" (Op.<br />

cit, princ).<br />

3 a A chamada "ciência pura", que não consi<strong>de</strong>ra<br />

as aplicações da ciência à técnica <strong>de</strong> produção,<br />

ou então as ciências, ou partes <strong>de</strong> ciências,<br />

que consistem na elaboração conceituai<br />

ou matemática dos resultados; p. ex., "física<br />

teórica".<br />

4 a Uma hipótese ou um conceito científico.<br />

Este último significado <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado<br />

especialmente neste verbete, visto que o problema<br />

da T. científica constitui um dos capítulos<br />

mais importantes da metodologia das ciências.<br />

Os resultados principais cias pesquisas<br />

nesse campo po<strong>de</strong>m ser resumidos do modo<br />

seguinte:<br />

a) A T. científica é uma hipótese ou, pelo<br />

menos, contém uma ou mais hipóteses como<br />

suas partes integrantes. A ciência mo<strong>de</strong>rna<br />

abandonou a repugnância da ciência dos sécs.<br />

XVIII e XIX pelas hipóteses, tão bem expressa<br />

por Newton e outros (v. HIPÓTESE). ISSO aconteceu<br />

porque a hipótese <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser uma suposição<br />

sobre as causas últimas ou ocultas dos<br />

fenômenos. Kant já con<strong>de</strong>nara as "hipóteses<br />

transcen<strong>de</strong>ntais" que recorrem a simples idéias<br />

racionais e <strong>de</strong>clarara-se favorável às hipóteses<br />

empíricas, cuja característica é "a suficiência<br />

para <strong>de</strong>terminar a priori as conseqüências<br />

que já estão dadas" (Crü. R. Pura, Teoria do<br />

método, cap. I. seç. 3). Em 1865, ao falar das<br />

T., Clau<strong>de</strong> Bernard afirmava seu caráter indispensável<br />

e ao mesmo tempo hipotético, no<br />

sentido estrito do termo: "O experimentador<br />

formula sua idéia lou hipótese experimental]<br />

como uma questão, uma interpretação antecipada<br />

da natureza, mais ou menos provável, da<br />

qual <strong>de</strong>duz logicamente conseqüências que a<br />

cada momento compara com a realida<strong>de</strong>, por<br />

meio da experiência" (Introduction à 1'étu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Ia mé<strong>de</strong>cine expérimentale, I, 2). E reconhecia<br />

a fecundida<strong>de</strong> das hipóteses para a <strong>de</strong>scoberta<br />

<strong>de</strong> fatos novos: "O objetivo das hipóteses<br />

é não só levar-nos a fazer experiências novas,<br />

mas também <strong>de</strong>scobrir fatos novos que não<br />

teríamos percebido sem elas" (Ibid., III, 1, 2).<br />

No início do séc. XX, Mach reconhecia expressamente<br />

a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a hipótese científica<br />

(e a hipótese em geral) ser diretamente<br />

provada pelos fatos: "Damos o nome cie hipóteses<br />

ás explicações provisórias cujo fim é<br />

facilitar a compreensão dos fatos, mas que ainda<br />

escapa à comprovação pelos fatos" (Erkenntniss<br />

und Irrtum, 1905, cap. XIV; trad. fr.,<br />

p. 240). E Duhem enumerava cia seguinte maneira<br />

as condições às quais uma hipótese <strong>de</strong>veria<br />

correspon<strong>de</strong>r para ser escolhida como fundamento<br />

<strong>de</strong> uma T. física: l y a hipótese não<br />

<strong>de</strong>ve ser uma proposição contraditória; 2 g não<br />

<strong>de</strong>ve apresentar contradição com as outras<br />

hipóteses da mesma ciência; 3 a as hipóteses<br />

<strong>de</strong>vem ser tais que, <strong>de</strong> seu conjunto, seja possível<br />

<strong>de</strong>duzir matematicamente conseqüências<br />

que representem, com aproximação suficiente,<br />

o conjunto das leis experimentais (La tbéorie<br />

physique, II, 7, 1, p. 363). Poincaré, por sua<br />

vez, insistiu na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hipóteses em<br />

qualquer procedimento experimental, mas também<br />

na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não multiplicar hipóteses.<br />

Esta última advertência nada mais é que o<br />

antigo princípio <strong>de</strong> economia (v.), ou navalha<br />

<strong>de</strong> Ockham, sempre eficaz no campo das formulações<br />

conceituais (La science et l'hypothèse,<br />

1902, cap. IX).<br />

b) Uma T. científica não é um acréscimo<br />

interpretativo ao corpo da ciência, mas é o esqueleto<br />

<strong>de</strong>sse corpo. Em outros termos, a T.<br />

condiciona tanto a observação dos fenômenos<br />

quanto o uso mesmo dos instrumentos <strong>de</strong> oh-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!