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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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DEUS 260 DEUS, MORTE DE<br />

4. A REVELAÇÃO DE DFAJS.<br />

O quarto e último modo <strong>de</strong> distinguir as<br />

concepções <strong>de</strong> D. consiste em consi<strong>de</strong>rar a via<br />

<strong>de</strong> acesso a D. que essas concepções conce<strong>de</strong>m,<br />

ou não, ao homem. A esse ponto <strong>de</strong> vista<br />

dizem respeito, especialmente, a distinção e a<br />

oposição entre <strong>de</strong>ísmo e teísmo, que consistem,<br />

grosso modo, em consi<strong>de</strong>rar a manifestação<br />

<strong>de</strong> D. como iniciativa do homem (<strong>de</strong>ísmo)<br />

ou <strong>de</strong> D. (teísmo). Portanto, é possível distinguir<br />

duas concepções principais: i) a que atribui<br />

à iniciativa do homem e ao uso das capacida<strong>de</strong>s<br />

naturais <strong>de</strong> que dispõe o conhecimento<br />

que o homem tem <strong>de</strong> D.; ii) a que atribui à<br />

iniciativa <strong>de</strong> D. e à sua revelação o conhecimento<br />

que o homem tem <strong>de</strong> D. Obviamente,<br />

essas duas concepções po<strong>de</strong>m combinar e dar<br />

lugar a iii), para a qual a revelação só faz concluir<br />

e levar a cabo o esforço natural do homem<br />

para conhecer D.<br />

Desses três pontos <strong>de</strong> vista, o primeiro é o<br />

mais estritamente filosófico; os outros dois são<br />

predominantemente religiosos. A <strong>filosofia</strong> grega<br />

só conheceu o primeiro. O segundo ponto<br />

<strong>de</strong> vista po<strong>de</strong> ser visto com toda a clareza em<br />

Pascal: "É o coração que sente D., não a razão.<br />

Eis o que é a fé: D. sensível ao coração, não à<br />

razão" (Pensées, 278). E Pascal acrescenta logo:<br />

"A fé é um dom <strong>de</strong> D." (Jbid., 279). Por isso, a<br />

revelação autêntica <strong>de</strong> D. ao coração do homem<br />

é uma iniciativa exclusivamente divina,<br />

iniciativa que o homem po<strong>de</strong> facilitar, é verda<strong>de</strong>,<br />

dominando suas paixões, mas não solicitar<br />

ou provocar. O terceiro ponto <strong>de</strong> vista foi instaurado<br />

pela Patrística, que consi<strong>de</strong>rou a revelação<br />

cristã como o cumprimento da <strong>filosofia</strong><br />

grega. Esta é produto da razão, do Logos, que<br />

é o primogênito <strong>de</strong> D., e contém verda<strong>de</strong>s ou<br />

germes <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> que o cristianismo leva ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento pleno (JUSTINO, Apol. séc, 13).<br />

O princípio <strong>de</strong> que a revelação não anula e<br />

nem inutiliza a razão dominou toda a <strong>filosofia</strong><br />

escolástica e foi posto em dúvida só pelas últimas<br />

manifestações <strong>de</strong>sta, no séc. XIV. No<br />

Renascimento, inverte-se: a revelação não chega<br />

no fim, para cumprir a obra da razão, mas a<br />

inspira e a sustenta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início. A razão só<br />

faz transmitir e ilustrar a verda<strong>de</strong> que D. revelou<br />

em tempos remotos. Esse foi, p. ex., o ponto<br />

<strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Pico <strong>de</strong>lia Mirandola e <strong>de</strong> Giordano<br />

Bruno. Em ambos os casos, porém, a<br />

obra da razão e a da revelação colaboram, e<br />

não são antitéticas.<br />

O <strong>de</strong>ísmo do séc. XVIII, assim como o seu<br />

prece<strong>de</strong>nte histórico, a doutrina da religião natural<br />

dos sécs. XVI e XVII ( Thomas Morus, Herbert<br />

<strong>de</strong> Cherbury, Locke), contrapõe à revelação<br />

histórica a revelação natural, que ocorre através<br />

da razão, chegando a ver no Evangelho<br />

(como Matteo Tindall) apenas "uma republicação<br />

da lei da natureza" (O cristianismo antigo como<br />

criação, 1730). Obviamente, uma divinda<strong>de</strong> que<br />

se revela à razão só tem e só po<strong>de</strong> ter caracteres<br />

racionais; por isso, o <strong>de</strong>ísmo restringe os atributos<br />

da divinda<strong>de</strong> aos que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>terminados<br />

pela razão a partir da relação entre D.<br />

e o mundo. Em face disso, o teísmo, como diz<br />

Kant, "crê num D. vivo, num D. cujos atributos<br />

po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>terminados por analogia com a natureza<br />

e com fundamento na revelação" (Crít. R.<br />

Pura, dialética, capítulo III, seç. 7). É preciso,<br />

porém, ressaltar que, na terminologia filosófica<br />

predominante <strong>de</strong>pois do Romantismo, utilizada<br />

sobretudo pelo panteísmo, a "revelação <strong>de</strong><br />

D." não é um fato histórico, mas manifestação<br />

progressiva <strong>de</strong> D. na realida<strong>de</strong> natural e histórica<br />

do mundo. Além <strong>de</strong> predominar nas <strong>filosofia</strong>s<br />

<strong>de</strong> Hegel e Schelling, esse significado é<br />

importante em <strong>filosofia</strong>s do séc. XIX que obe<strong>de</strong>cem<br />

à mesma inspiração. Rosmini apresenta<br />

como fundamento da <strong>filosofia</strong> e, em geral, do<br />

saber humano, a idéia do ser, que é revelação<br />

direta do atributo fundamental <strong>de</strong> D. à mente<br />

do homem {Novo ensaio, § 1055); <strong>de</strong> modo<br />

análogo, Gioberti consi<strong>de</strong>ra como base do conhecimento<br />

a intuição, que é a revelação imediata<br />

<strong>de</strong> D. ao homem (Introdução, II, p. 46, 1).<br />

Essa idéia tem trânsito em doutrinas díspares<br />

e também po<strong>de</strong> ser vista nas que acentuam<br />

ao máximo a transcendência <strong>de</strong> D. e,<br />

portanto, vêem sua única revelação possível na<br />

inatingibilida<strong>de</strong>. Essa é a doutrina <strong>de</strong> Jaspers,<br />

para quem o fracasso inevitável do homem em<br />

sua tentativa <strong>de</strong> alcançar a Transcendência é a<br />

única revelação possível, a cifra da própria<br />

Transcendência (Phil., III, p. 134).<br />

DEUS, MORTE DE (in. Death of God; fr.<br />

Mort <strong>de</strong> Dieu; ai. Gottertod; it. Morte di Dio).<br />

O anúncio <strong>de</strong> que "Deus morreu" foi feito<br />

por Nietzsche, no sentido <strong>de</strong> que "a fé no D.<br />

cristão tornou-se inaceitável" 04 gaia ciência,<br />

1882, § 108, 125, 343), mas hoje é consi<strong>de</strong>rado<br />

símbolo da renovação do cristianismo, que<br />

precisava libertar-se das estruturas mitológicas<br />

e sobrenaturalistas <strong>de</strong> que se revestira nos séculos<br />

anteriores, reencontrando a pureza <strong>de</strong><br />

sua mensagem. Essa "nova teologia" inspira-se

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