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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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POESIA 767 POESIA<br />

I a A concepção <strong>de</strong> P. como estímulo emotivo<br />

foi exposta pela primeira vez por Platão:<br />

"A parte da alma que, em nossas <strong>de</strong>sgraças<br />

pessoais, tentamos refrear, que tem se<strong>de</strong> <strong>de</strong> lágrimas<br />

e gostaria <strong>de</strong> suspirar e lamentar-se à<br />

vonta<strong>de</strong> — pois é essa a sua natureza — é justamente<br />

a parte a que os poetas dão satisfação<br />

e prazer. (...) Quanto ao amor, ã cólera e a todos<br />

os movimentos dolorosos ou agradáveis da<br />

alma, que são inseparáveis <strong>de</strong> todas as nossas<br />

ações, po<strong>de</strong>-se dizer que sobre eles a imitação<br />

poética produz os mesmos efeitos, visto que,<br />

embora fosse preciso estancá-los, ela os irriga<br />

e nutre, transformando-nos em servos das faculda<strong>de</strong>s<br />

que. ao contrário, <strong>de</strong>veriam obe<strong>de</strong>cernos<br />

para que nos tornássemos mais felizes e<br />

melhores" (Rep.. X, 606 a-cl). Platão observa<br />

que o lado emocional da arte não é menor por<br />

tratar <strong>de</strong> emoções alheias, porque "necessariamente<br />

as emoções alheias passam a ser nossas"<br />

(Ihitl., 606 b). Não há dúvida, portanto, <strong>de</strong> que<br />

para Platão a característica fundamental da P.<br />

imitativa (assim como da razão <strong>de</strong> sua con<strong>de</strong>nação)<br />

é a participação emocional em que ela<br />

se baseia, bem como o reforço das emoções<br />

que ela consegue com tais participações.<br />

Giambauista Viço não só esten<strong>de</strong>u ao universo<br />

inteiro a participação emotiva, consi<strong>de</strong>rada<br />

própria da P., como também eliminou o caráter<br />

con<strong>de</strong>natório que se encontra em Platão. "O<br />

sublime trabalho da P." — escreveu ele — "é<br />

dar sentido e paixão ás coisas insensatas, sendo<br />

proprieda<strong>de</strong> das crianças <strong>de</strong> tomar nas mãos<br />

coisas inanimadas e. brincando, conversar com<br />

elas como se fossem pessoas vivas. Esta dignida<strong>de</strong><br />

filológico-filosófica comprova que os homens<br />

do mundo criança foram, por natureza,<br />

poetas sublimes" (Scienzci nnovci. 1744, Degn.<br />

37). Portanto, segundo Viço, a P. está ligada<br />

aos ''robustos sentidos" e ás "vigorosíssimas<br />

fantasias" dos homens primitivos ou brutos; seu<br />

tríplice objetivo é "achar fábulas sublimes que<br />

se adaptem aos interesses populares", "perpetuar<br />

ao máximo" e "ensinar o vulgo a agir virtuosamente"<br />

(Ibid., II., cf. Lettera a Chorarão<br />

<strong>de</strong>gli Angíoli). Deste ponto <strong>de</strong> vista, P. e <strong>filosofia</strong><br />

são antípodas, e "quanto mais robusta é a<br />

fantasia, (anto mais fraco é o raciocínio" (Ibid.,<br />

Degn. 36). Esse mesmo conceito <strong>de</strong> P. como<br />

estímulo ou participação emocional acha-se na<br />

teoria da empatia(x), que consi<strong>de</strong>ra a ativida<strong>de</strong><br />

estética como a projeção das emoções do<br />

indivíduo no objeto estético. Segundo o principal<br />

<strong>de</strong>fensor <strong>de</strong>ssa teoria, Theodor Lipps, a<br />

empai ia (\:.') é um ato original, essencialmente<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da associação <strong>de</strong> idéias e profundamente<br />

arraigado na própria estrutura<br />

do espírito humano (Ásthetik], 1903, pp. 112<br />

ss.): <strong>de</strong>ste modo, é postulada como uma faculda<strong>de</strong><br />

à parte, á qual está confiada a função <strong>de</strong><br />

animar a materialida<strong>de</strong> bruta do mundo exterior,<br />

tornando o mundo mais familiar e agradável<br />

ao homem. Com base na distinção entre o<br />

uso simhólicodn linguagem e o seu u.so emocional,<br />

atribuiu-se á P. "a forma suprema da linguagem<br />

emotiva", cujo único objetivo é estimular<br />

••emoções e atitu<strong>de</strong>s" (I. A. RICIIARDS,<br />

Principies of Litercny Criticism. 1924; 14 a ecl.,<br />

1955, p. 273). A função simbólica (ou científica)<br />

da linguagem consiste em simbolizar a referencia<br />

ao objeto e em comunicar essa referência<br />

ao ouvinte, levando-o a reconhecer a<br />

referência ao mesmo objeto. A função emotiva,<br />

por sua vez. consiste em exprimir emoções,<br />

atitu<strong>de</strong>s, etc, e em evocá-los no ouvinte: funções<br />

que po<strong>de</strong>m ser incluídas na da "evocação",<br />

que é o estímulo da emoção (C. K. OGDHN.<br />

I. A RICHARDS, lhe Meaning of Meaning, 1923.<br />

10 a ed.. 1952. p. 149). Obviamente, este ponto<br />

<strong>de</strong> vista não passa <strong>de</strong> repetição quase literal cia<br />

concepção platônica. E não tem significado diferente<br />

o modo como C. Morris <strong>de</strong>finiu o discurso<br />

poético: "principalmente discurso valorativo<br />

e aprecialivo", cujo objetivo é "lembrar e<br />

sustentar valores já conhecidos" ou "explorar<br />

novos valores" (Signs, LcinguageandBeheirior.<br />

1946, V. ~ ! ).<br />

2 a A concepção <strong>de</strong> P. como verda<strong>de</strong> começa<br />

com Aristóteles, que a consi<strong>de</strong>rou como tendência<br />

á imitação, para ele inata em todos os<br />

homens como manifestação da tendência ao<br />

conhecimento (PoeL, 6, 1448 b 5-14). Segundo<br />

Aristóteles, a imitação poética tem valida<strong>de</strong><br />

cognoscitiva superiora imitação historiográfica,<br />

porque a P. não representa as coisas realmente<br />

acontecidas, mas "as coisas possíveis, segundo<br />

a verossimilhança e a necessida<strong>de</strong>" (Ibid., 1451<br />

a 38). Por isso. ela "é mais filosófica e mais elevada<br />

que a história, porque exprime o universal,<br />

enquanto a história exprime o particular.<br />

Com efeito, temos o universal quando um indivíduo<br />

<strong>de</strong> certa índole diz ou faz certas coisas<br />

com base na verossimilhança e na necessida<strong>de</strong>,<br />

e é essa a intenção da P.. que dá nome á personagem<br />

justamente com base nesse critério. Por<br />

sua vez temos o particular quando dizemos, p.<br />

ex.. o que Alcibía<strong>de</strong>s fez e o que lhe aconteceu"<br />

(Ibid., 9. 1451 b 1, 10). Estas famosas

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