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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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SUJEITO 930 SUJEITO<br />

curso; o segundo no conceito <strong>de</strong> S. como capacida<strong>de</strong><br />

autônoma <strong>de</strong> relações ou <strong>de</strong> iniciativas,<br />

capacida<strong>de</strong> que é contraposta ao simples ser<br />

"objeto" ou parte passiva <strong>de</strong> tais relações,<br />

1" O primeiro significado pertence à tradição<br />

filosófica antiga. Aparece em Platão (Prot..<br />

3-49 h) e é <strong>de</strong>ünido por Aristóteles como um<br />

dos modos da substância. Aristóteles diz: "S. é<br />

aquilo <strong>de</strong> que se po<strong>de</strong> dizer qualquer coisa,<br />

mas que por sua vez não po<strong>de</strong> ser dito <strong>de</strong><br />

nada" (Met.. VII, 3. 1028 h 36). Neste sentido, o<br />

5. po<strong>de</strong> ser entendido: a) como a matéria <strong>de</strong><br />

que se compõe uma coisa. p. ex. o bronze; b)<br />

como a forma da coisa, como p. ex. o <strong>de</strong>senho<br />

<strong>de</strong> uma estátua; c) como a união <strong>de</strong> matéria e<br />

forma, como p. ex. a estátua (Ihid.. 1029 a 1).<br />

Essas <strong>de</strong>terminações pertencem estritamente à<br />

metafísica aristotélica. Mas o que importa é o<br />

sentido geral do termo: S. é o objeto real ao<br />

qual são inerentes ou ao qual se referem as <strong>de</strong>terminações<br />

predicáveis (qualida<strong>de</strong>, quantida<strong>de</strong>,<br />

etc). Este é também o conceito <strong>de</strong> sujeito<br />

dos estóicos, que o consi<strong>de</strong>raram como objeto<br />

externo ao qual se refere o significado, ou seja,<br />

como a <strong>de</strong>notação do significado (SKXTO EMPÍ-<br />

RICO, Aclr. niath., VIII, 12; cf. SIGNIFICADO). OS<br />

epicuristas empregaram esse termo com o mesmo<br />

sentido (EPICIRO, Epístola. I, pp. 12, 24.<br />

Uesener). F, com essa tradição que se relaciona<br />

o uso gramatical do termo, que começou no<br />

séc. 11 d.C; Apuleio já chamava <strong>de</strong> suhjectiva<br />

ou subclitci a parte do discurso que os antigos<br />

chamavam <strong>de</strong> nome, e cie <strong>de</strong>claratira a parte<br />

que os antigos chamavam <strong>de</strong> verbo (De<br />

dogmate Plalonís. III, p. 30. 30; cf. MARCIANO<br />

CAPELA. De nuptiis. IV, 393).<br />

Esse significado <strong>de</strong> "S." permanece inalterado<br />

através <strong>de</strong> longa tradição. Os escritores medievais<br />

adotam as <strong>de</strong>terminações <strong>de</strong> Aristóteles:<br />

chamam a substância <strong>de</strong> subjectum ou<br />

supposüum porquanto a ela inerem as qualida<strong>de</strong>s<br />

ou as outras <strong>de</strong>terminações (cf. S. TOMÁS, ,V.<br />

'lh.. I, q. 29. a. 2; Dl'NS Scor. Op. Ox, II. d. 3, q.<br />

6, n. 8; OCKHAM, In Sent.. I. d. 2, q. 8, E). O significado<br />

<strong>de</strong>sse termo não muda quando por S.<br />

é entendida a alma como substância à qual<br />

inerem <strong>de</strong>terminados caracteres ou da qual<br />

emanam <strong>de</strong>terminadas ativida<strong>de</strong>s. Hobbes diz:<br />

"O S. da sensação é o próprio senciente. ou<br />

seja, o animal" (Decorp., 25. 3). Locke chama<br />

o sujeito neste sentido <strong>de</strong> substratum ou suporte<br />

(Ensaio. II. 23, 1-2). É com esse mesmo sentido<br />

que Hume se vale <strong>de</strong>sse termo: "Eis que<br />

aparece Spinoza a dizer-me que só há modifi-<br />

cações e que o S. ao qual elas inerem é simples,<br />

não composto e indivisível" (Treatise, 1.<br />

IV. 5. ed. Selby-Bigge. p. 242). Por outro lado,<br />

esse mesmo significado mantém-se até mesmo<br />

no racionalismo alemão. Leibniz preten<strong>de</strong> conservar<br />

o significado tradicional <strong>de</strong> S. (Nonr.<br />

css., II, 23, 2) e. ao falar <strong>de</strong> disposições "que<br />

vêm asubjecto, ou da própria alma", está falando<br />

<strong>de</strong> disposições que vêm da própria substância<br />

da alma (Remarquessur leLivre <strong>de</strong> lorigine<br />

du mal. em Op., ed. Erdmann, p. 645). Por sua<br />

vez, Wolff <strong>de</strong>fine o S. como "o ente, enquanto<br />

dotado <strong>de</strong> essência e capaz <strong>de</strong> outras coisas<br />

além <strong>de</strong>la" (Ont.. § 7 11). No mesmo sentido.<br />

Baumgarten diz que o S. é o ente. <strong>de</strong>terminado<br />

na matéria cie que é constituído (Mel.. § 344).<br />

Aliás, o próprio Kant recorre a essa noção tradicional<br />

<strong>de</strong> sujeito. Diz: "Há tempos observou-se<br />

que, em todas as substâncias, o S. propriamente<br />

dito, aquilo que fica <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> retirados os<br />

aci<strong>de</strong>ntes (como predicados), portanto o verda<strong>de</strong>iro<br />

elemento substancial, nos é <strong>de</strong>sconhecido"<br />

(Prol.. § 46).<br />

2" O segundo significado <strong>de</strong>sse termo, como<br />

o eu. a consciência ou a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciativa<br />

em geral, teve início com Kant, que certamente<br />

teve em mente o significado que a oposição<br />

entre subjetivo e objetivo assumira em<br />

alguns escritores alemães, seus contemporâneos<br />

(v. StiisjHTivo). Para Kant. S. é o eu penso<br />

cia consciência ou autoconsciência que<br />

<strong>de</strong>termina e condiciona toda ativida<strong>de</strong> cognoscitiva:<br />

"Em todos os juízos sou sempre o S.<br />

<strong>de</strong>terminante da relação que constitui o juízo".<br />

"Para o eu. para o ele ou para aquilo (a coisa)<br />

que pensa, a representação é apenas <strong>de</strong> S.<br />

transcen<strong>de</strong>ntal dos pensamentos, = xque só é<br />

conhecido através dos pensamentos que são<br />

seus predicados e cios quais, à parte estes, não<br />

po<strong>de</strong>mos ter o menor conceito" (Crít. R. Pura.<br />

Dial. transcen<strong>de</strong>ntal. II, cap. 1). Nessas palavras<br />

<strong>de</strong> Kant po<strong>de</strong>-se reconhecer a passagem do velho<br />

para o novo significado <strong>de</strong> sujeito. O eu é<br />

S. na medida em que seus pensamentos lhe<br />

são inerentes como predicados: este é ainda o<br />

significado tradicional do termo. Mas o eu é<br />

sujeito na medida em que <strong>de</strong>termina a união<br />

entre S. e predicado nos juízos, na medida em<br />

que é ativida<strong>de</strong> sintética ou judicante, espontaneida<strong>de</strong><br />

cognitiva, portanto consciência,<br />

autoconsciência ou apercepção; e este é o<br />

novo significado <strong>de</strong> sujeito.<br />

A tradição pós-kantiana atém-se exclusivamente<br />

a este segundo significado. Para Fichte,

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