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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EMOÇÃO 323 EMOÇÃO<br />

ves <strong>de</strong> catástrofe que, do ponto <strong>de</strong> vista subjetivo,<br />

assumem a forma emotiva <strong>de</strong> angústia. A<br />

angústia distingue-se do medo pela falta <strong>de</strong><br />

objeto <strong>de</strong>terminado.- ela não tem objeto. No<br />

medo, encontramo-nos diante <strong>de</strong> um objeto<br />

ao qual nos opomos, do qual po<strong>de</strong>mos procurar<br />

<strong>de</strong>sembaraçar-nos ou do qual po<strong>de</strong>mos fugir;<br />

temos consciência tanto <strong>de</strong>sse objeto como <strong>de</strong><br />

nós mesmos e po<strong>de</strong>mos examinar o modo como<br />

<strong>de</strong>vemos comportar diante do objeto,<br />

fixar o olhar sobre a causa do medo, que realmente<br />

se encontra no espaço diante <strong>de</strong> nós.<br />

Mas na angústia o doente "vive a impossibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> relacionar-se com o mundo sem saber<br />

por quê. É um sentimento <strong>de</strong> estremecimento<br />

que diz respeito à existência do mundo e à sua<br />

própria existência. Não po<strong>de</strong> tomar consciência<br />

do seu eu tanto quanto não po<strong>de</strong> fazê-lo do<br />

objeto, já que a consciência do eu é apenas o<br />

correlato da consciência do objeto... A angústia<br />

aparece, portanto, quando a realização <strong>de</strong> uma<br />

tarefa correspon<strong>de</strong>nte à essência do organismo<br />

foi impossível. Esse é o perigo da angústia"<br />

(Ibid., trad. fr., pp. 250-51). Em outros termos,<br />

a angústia é o sentido <strong>de</strong> ruptura entre o organismo<br />

e o mundo, ou melhor, a perda da possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> relação entre o organismo e o mundo.<br />

Desse ponto <strong>de</strong> vista, o que conduz ao<br />

medo é "o sentimento da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> surgimento<br />

da angústia". Assim, po<strong>de</strong>-se compreen<strong>de</strong>r<br />

o medo a partir da angústia, e não<br />

vice-versa. Quem tem medo compreen<strong>de</strong>, por<br />

certas indicações, que um objeto é capaz <strong>de</strong><br />

colocá-lo em situação <strong>de</strong> angústia. Ora, a angústia<br />

não é só um estado normal. Muitos estados<br />

angustiosos <strong>de</strong> indivíduos normais só não<br />

são reconhecidos como tais porque são relativamente<br />

insignificantes para a personalida<strong>de</strong><br />

global e para a sua existência; mas às vezes<br />

basta um insucesso, insignificante em si mesmo,<br />

mas que ocorra numa situação importante<br />

para o indivíduo, para transformá-lo em angústia<br />

verda<strong>de</strong>ira, como acontece, p. ex., com<br />

a angústia dos exames. A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suportar<br />

a angústia varia <strong>de</strong> um indivíduo para<br />

outro: o doente <strong>de</strong> lesões cerebrais suporta menos,<br />

a criança suporta mais, e o adulto ativo ainda<br />

mais. "Nesse último mostra-se a coragem verda<strong>de</strong>ira,<br />

a coragem, que é o meio <strong>de</strong> sair da<br />

angústia. Ela é um sim dito ao estremecimento<br />

da existência, aceito como uma necessida<strong>de</strong> para<br />

a realização do ser que nos é próprio. Implica a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar uma situação particular<br />

num conjunto maior, uma atitu<strong>de</strong> orientada para<br />

o possível ainda não realizado. Além disso supõe<br />

a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir-se por esses possíveis.<br />

Justamente por isso, é uma característica<br />

do homem; po<strong>de</strong>-se, pois, compreen<strong>de</strong>r que<br />

quem sofre uma lesão cerebral, que é precisamente<br />

uma perda da categoria do possível,<br />

ou seja, uma perda <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, fique completamente<br />

<strong>de</strong>sarmado diante da situação da angústia;<br />

está con<strong>de</strong>nado a essa situação na medida<br />

em que não está protegido contra ela por<br />

um empobrecimento enorme do seu mundo,<br />

que reduz seu ser humano às formas mais simples"<br />

(Ibid., pp. 260-61). Assim, a <strong>de</strong>scida do<br />

paciente ao nível humano mais baixo é a última<br />

<strong>de</strong>fesa do organismo que vive a impossibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> relacionar-se com o mundo. Além<br />

disso, a coragem não é a certeza <strong>de</strong> que os<br />

possíveis se realizarão, não é a garantia <strong>de</strong> que<br />

se <strong>de</strong>stinam ao êxito, mas só o sentido do possível<br />

como tal, como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> êxito ou<br />

insucesso, como procura, esforço, tentativa, trabalho,<br />

criação, orientados para as possíveis vias<br />

<strong>de</strong> sucesso.<br />

O exame do conjunto das teorias da E. que<br />

se suce<strong>de</strong>ram ao longo da história do pensamento<br />

mostra que elas po<strong>de</strong>m ser divididas<br />

em duas gran<strong>de</strong>s classes, segundo o modo <strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rar as E., como dotadas <strong>de</strong> significado<br />

ou como <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> significado.<br />

I a As teorias que atribuem significados às E.<br />

consi<strong>de</strong>ram-nas manifestações, indicações ou<br />

signos <strong>de</strong> situações objetivas em que o homem<br />

se encontra, seja por suas relações com as<br />

coisas do mundo, seja por suas relações com<br />

os outros homens. Por esse prisma, aparecem<br />

como os valores das situações, no que se refere<br />

às possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida, conservação, <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

realização <strong>de</strong> interesses e tarefas<br />

que elas oferecem ao homem. Obviamente,<br />

o pressuposto <strong>de</strong>sse reconhecimento do significado<br />

objetivo das E. é que nem todas as situações<br />

são igualmente favoráveis, que muitas<br />

<strong>de</strong>las apresentam características que po<strong>de</strong>m<br />

ameaçar a existência e as realizações do homem,<br />

ou que, em outros termos, na maioria<br />

das vezes o mundo se apresenta sub ratione<br />

ardui (como diz S. Tomás), ou é um mundo<br />

difícil (como diz Sartre). Mas um mundo difícil,<br />

um mundo on<strong>de</strong> o que favorece o homem<br />

po<strong>de</strong> apresentar-se sub ratione ardui, não é<br />

uma totalida<strong>de</strong> racional perfeita, não é caracterizado<br />

pela plena correspondência <strong>de</strong> todos os<br />

seus aspectos com um princípio único e simples<br />

que garanta a vida e os interesses da exis-

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