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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EMOÇÃO 311 EMOÇÃO<br />

EMOÇÃO (gr. róGoç; lat. Affectus ou Passio;<br />

in. Emotion; fr. Emotion; ai. Affekt; it. Emozione).<br />

Em geral, enten<strong>de</strong>-se por esse nome<br />

qualquer estado, movimento ou condição que<br />

provoque no animal ou no homem a percepção<br />

do valor (alcance ou importância) que <strong>de</strong>terminada<br />

situação tem para sua vida, suas necessida<strong>de</strong>s,<br />

seus interesses. Nesse sentido, no<br />

dizer <strong>de</strong> Aristóteles (Et. nic, II, 4. 1105 b 21), a<br />

E. é toda afeição da alma, acompanhada pelo<br />

prazer ou pela dor: sendo o prazer e a dor a<br />

percepção do valor que o fato ou a situação a<br />

que se refere a afeição tem para a vida ou para<br />

as necessida<strong>de</strong>s do animal. Desse modo, as E.<br />

po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas reações imediatas do<br />

ser vivo a uma situação favorável ou <strong>de</strong>sfavorável:<br />

imediata, porque con<strong>de</strong>nsada e, por assim<br />

dizer, resumida no tom do sentimento, (agradável<br />

ou dolorosa), que basta para pôr o ser vivo<br />

em estado <strong>de</strong> alarme e para dispô-lo a enfrentar<br />

a situação com os meios <strong>de</strong> que dispõe.<br />

A primeira teoria das E. nesse sentido talvez<br />

tenha sido a enunciada por Platão em Filebo:<br />

ocorre a dor quando a proporção ou a harmonia<br />

dos elementos que compõem o ser vivo é<br />

ameaçada ou comprometida; tem-se o prazer<br />

quando essa proporção ou harmonia se restabelece<br />

(17, 31 d, 32 a). Aristóteles, por sua vez,<br />

ao consi<strong>de</strong>rar o prazer vinculado à atuação <strong>de</strong><br />

um hábito ou <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo natural (Et. nic,<br />

VII, 13, 1153 a 14), atribuiu-lhe a mesma função<br />

<strong>de</strong> restituição ou restabelecimento <strong>de</strong> uma<br />

condição natural e, conseqüentemente, consi<strong>de</strong>rou<br />

doloroso o que afasta violentamente da<br />

condição natural e é, por isso, contrário à necessida<strong>de</strong><br />

e aos <strong>de</strong>sejos do ser vivo (Ret., I, 11,<br />

1369 b 33). Foi precisamente <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong><br />

vista que no II livro da Retórica, Aristóteles fez<br />

uma das análises mais interessantes da história<br />

da <strong>filosofia</strong> sobre a E. Veja-se, p. ex., o que ele<br />

diz sobre o medo (Ret., II, 5, 1382 a 20 ss.): "O<br />

medo é uma dor ou uma agitação produzida<br />

pela perspectiva <strong>de</strong> um mal futuro, que seja capaz<br />

<strong>de</strong> produzir morte ou dor". De fato, observa<br />

Aristóteles, nem todos os males são temidos,<br />

mas só os que po<strong>de</strong>m produzir gran<strong>de</strong>s dores e<br />

<strong>de</strong>struições e mesmo estes só no caso <strong>de</strong> não<br />

estarem distantes <strong>de</strong>mais, mas <strong>de</strong> parecerem<br />

próximos e iminentes. De fato, os homens não<br />

temem as coisas muito distantes: todos sabem<br />

que <strong>de</strong>vem morrer, mas enquanto a morte não<br />

se aproxima não se preocupam com ela. O<br />

medo também é reduzido ou eliminado por<br />

condições que tornam os males menos temí-<br />

veis ou os fazem parecer inexistentes. Por isso,<br />

muitas vezes a riqueza, a força, o po<strong>de</strong>r e a<br />

abundância <strong>de</strong> amigos fazem que os homens<br />

<strong>de</strong>scui<strong>de</strong>m-se dos males, tornando-se audazes<br />

e <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhosos. Dessa análise emerge claramente<br />

o conceito <strong>de</strong> E. como "índice" <strong>de</strong> uma<br />

situação, ou melhor, do valor que ela tem para<br />

a existência do homem.<br />

Para Platão e Aristóteles, as E. têm significado<br />

porque têm uma função na economia da<br />

existência humana no mundo. Para os estóicos,<br />

porém, elas não têm significado nem função.<br />

Sob esse aspecto, a doutrina estóica é a mais típica<br />

e radical entre as que negam o significado<br />

das emoções. Seu fundamento é que a natureza<br />

proveu <strong>de</strong> modo perfeito à conservação e<br />

ao bem dos seres vivos, dando aos animais o<br />

instinto e ao homem a razão. As E., porém,<br />

não são provocadas por nenhuma força natural:<br />

são opiniões ou juízos ditados por levianda<strong>de</strong>,<br />

portanto fenômenos <strong>de</strong> estupi<strong>de</strong>z e <strong>de</strong><br />

ignorância que consistem em "achar que se<br />

sabe o que não se sabe" (CÍCERO, Tusc, IV, 26).<br />

Os estóicos distinguiam quatro E. fundamentais,<br />

duas das quais tinham origem em bens<br />

presumidos (<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> bens futuros e alegria<br />

pelos bens presentes); e duas, em males presumidos<br />

(temor <strong>de</strong> males futuros e aflição pelos<br />

males presentes). A três <strong>de</strong>ssas E., mais<br />

precisamente ao <strong>de</strong>sejo, à alegria e ao temor,<br />

correspondiam três estados normais, próprios<br />

do sábio, que são, respectivamente, vonta<strong>de</strong>,<br />

alegria e precaução, três estados <strong>de</strong> calma e <strong>de</strong><br />

equilíbrio racional. Mas, no sábio, nenhum estado<br />

correspon<strong>de</strong> à aflição do néscio, que é<br />

sentida por males presumidos e <strong>de</strong>ve-se à falta<br />

<strong>de</strong> obediência à razão. A essas quatro E. fundamentais<br />

os estóicos reduziam as outras, consi<strong>de</strong>radas<br />

igualmente doenças ou enfermida<strong>de</strong>s<br />

(ou seja, doenças crônicas) e capazes <strong>de</strong><br />

gerar outras E. <strong>de</strong> aversão e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo (Ibid.,<br />

IV, 24). O pressuposto <strong>de</strong>ssa análise é a tese<br />

da perfeita racionalida<strong>de</strong> do mundo. O homem<br />

sábio só po<strong>de</strong> tomar consciência <strong>de</strong>la e viver<br />

<strong>de</strong> acordo com ela, "viver segundo a razão". O<br />

mundo, como or<strong>de</strong>nação racional perfeita, nada<br />

tem que pos-sa afligir ou ameaçar o sábio, que<br />

é o ser racionalmente perfeito: portanto, a aflição<br />

ou o temor, assim como o <strong>de</strong>sejo e o prazer,<br />

provêm simplesmente <strong>de</strong> ver no mundo<br />

algo que não existe e que não po<strong>de</strong> existir: um<br />

bem que esteja além da razão ou um mal que<br />

possa ameaçar a razão. Portanto, as E. não passam<br />

<strong>de</strong> juízos errados, opiniões vazias e <strong>de</strong>s-

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