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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ESPECIFICAÇÃO<br />

mento, o conhecimento não seria conhecimento<br />

do objeto, mas da sua imagem, assim como<br />

a estátua <strong>de</strong> Hércules não levaria a conhecer<br />

Hércules, nem permitiria julgar da sua semelhança<br />

com ele se não se conhecesse o próprio<br />

Hércules {In Sent., II, q. 14, T). O ponto <strong>de</strong> vista<br />

que permitiu que esses escolásticos abandonassem<br />

a noção <strong>de</strong> E. foi o da intencionalida<strong>de</strong><br />

(v.) do conhecimento, segundo a qual o<br />

ato <strong>de</strong> conhecer é uma relação com o objeto<br />

em pessoa. Todavia, a doutrina cartesiana da<br />

idéia como objeto imediato do conhecimento<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada, sob certos aspectos, a<br />

retomada da noção escolástica da E. (v. IDÉIA).<br />

ESPECIFICAÇÃO (in. Specification; fr. Spécífication;<br />

ai. Spezifikation, it. Specificazioné).<br />

Kant chamou <strong>de</strong> "lei transcen<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> E." a regra<br />

que "impõe ao intelecto procurar sob todas<br />

as espécies que se nos <strong>de</strong>param certo número<br />

<strong>de</strong> subespécies e, para cada diferença,<br />

certo número <strong>de</strong> diferenças menores" {Crít. R.<br />

Pura, Apêndice à Dialética transcen<strong>de</strong>ntal). Essa<br />

lei tem o seu correspon<strong>de</strong>nte simétrico na lei<br />

da homogeneida<strong>de</strong>(v.), segundo a qual o múltiplo<br />

<strong>de</strong>ve ser continuamente posto sob gêneros<br />

superiores; ambas as leis confluem na lei<br />

da afinida<strong>de</strong> (v.) <strong>de</strong> todos os conceitos, que<br />

permite a passagem <strong>de</strong> um conceito para o<br />

outro (Ibid.). O princípio da E. foi chamado<br />

por Hamilton <strong>de</strong> "Lei <strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong>"<br />

(v. HOMOGENEIDADE).<br />

Kant falou também <strong>de</strong> uma "lei da E. da natureza",<br />

segundo a qual a natureza especifica<br />

suas leis gerais segundo o princípio <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong><br />

relativa à nossa faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer. Mas<br />

essa lei pertence à esfera do juízo reflexivo, ou<br />

seja, não faz parte da natureza, mas simplesmente<br />

prescreve uma regra para a sua interpretação<br />

(Crít. do Juízo, Intr., § V).<br />

ESPECULAÇÃO (gr. ôecopíot; lat. Speculatio;<br />

in. Speculation; fr. Spéculation; ai. Spekulation;<br />

it. Speculazioné). O termo tem dois significados:<br />

1 Q contemplação ou conhecimento <strong>de</strong>sinteressado;<br />

2 Q conhecimento ultra-empírico ou<br />

sem base na experiência. No primeiro significado,<br />

a E. se contrapõe à ação; no segundo, à<br />

experiência, ou ao conhecimento "natural".<br />

I a Os antigos enten<strong>de</strong>ram por E. a ativida<strong>de</strong><br />

cognoscitiva não utilizada para um fim qualquer,<br />

mas como fim em si mesma. O conceito<br />

<strong>de</strong> E., nesse sentido, foi fixado por Aristóteles,<br />

que qualificou <strong>de</strong> especulativas (ou teoréticas)<br />

as ciências naturais, porquanto "consi<strong>de</strong>ram a<br />

substância que tem em si mesma o princípio<br />

353 ESPECULAÇÃO<br />

do movimento e do repouso". Com efeito, uma<br />

ciência <strong>de</strong>sse gênero não é prática nem produtiva.<br />

A ativida<strong>de</strong> produtiva tem princípio na<br />

mente ou na habilida<strong>de</strong> do artista, e a ativida<strong>de</strong><br />

prática na <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> quem age. "Logo, se<br />

todo pensamento é prático, produtivo ou teórico<br />

as ciências naturais são especulativas e<br />

consi<strong>de</strong>ram o que tem em si capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mover-se" (Met., VI, I, 1025 b 18). O objeto das<br />

ciências especulativas é o necessário, já que só<br />

o necessário, que não po<strong>de</strong> ser diferente do que<br />

é, não dá o que fazer ao homem. E só na E. o<br />

homem encontra felicida<strong>de</strong>. "Quanto maior a<br />

E., maior também a felicida<strong>de</strong>, e encontra-se<br />

mais felicida<strong>de</strong> naquilo em que há maior especulação.<br />

Isso não acontece por acaso, mas pela<br />

própria natureza da E., que tem valor em si<br />

mesma, <strong>de</strong> sorte que a felicida<strong>de</strong> é uma espécie<br />

<strong>de</strong> E." {Et. nic, X, 8, 1178 b 28).<br />

Essa exaltação da E., que constitui um dos<br />

modos fundamentais <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a função da<br />

<strong>filosofia</strong> (v.), foi herdada sobretudo pelo misticismo<br />

neoplatônico. Plotino reduziu todas as<br />

ativida<strong>de</strong>s à E. e afirmou que a própria geração<br />

das coisas naturais é E.: E. <strong>de</strong> Deus {Enn.,<br />

III, 8, 5). O misticismo. medieval i<strong>de</strong>ntifica E.<br />

com contemplação, que é o grau mais alto<br />

da ascensão mística antes do êxtase (cf.<br />

RICARDO <strong>de</strong> S. VÍTOR, De contemplatione, I, 3),<br />

mas S. Tomás a i<strong>de</strong>ntifica com a meditação,<br />

que é o grau anterior {S. Tb., II, 2, q. 180, a. 3,<br />

ad 2 a ). Em todos esses usos, todavia, o significado<br />

<strong>de</strong> contemplação <strong>de</strong>sinteressada é predominante<br />

e fundamental.<br />

2 e Kant introduziu um novo significado do<br />

termo, que é o predominante no uso mo<strong>de</strong>rno:<br />

"O conhecimento teórico é especulativo quando<br />

se refere a um objeto ou ao conceito <strong>de</strong> um<br />

objeto a que não se po<strong>de</strong> chegar com nenhuma<br />

experiência. A E. contrapõe-se, por isso,<br />

ao conhecimento natural, que só se refere a<br />

objetos ou predicados que po<strong>de</strong>m ser dados<br />

em uma experiência possível" {Crít. R. Pura,<br />

O i<strong>de</strong>al da razão pura, seç. VII). Esse significado<br />

permaneceu inalterado na tradição, mesmo<br />

porque Hegel adotou-o, modificando seu sinal,<br />

ou seja, consi<strong>de</strong>rando autêntico apenas o conhecimento<br />

especulativo. Chamou <strong>de</strong> especulativo<br />

ou positivo racional o terceiro momento<br />

da dialética, o da síntese, em que se tem "a unida<strong>de</strong><br />

das <strong>de</strong>terminações na sua oposição". Essa<br />

unida<strong>de</strong> significa que "a <strong>filosofia</strong> nada tem a<br />

ver com meras abstrações ou pensamentos formais,<br />

mas apenas com pensamentos concre-

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