22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

METAFÍSICA 665 METAFÍSICA<br />

enten<strong>de</strong>ram a ontologia. Com uma renúncia<br />

mais radical ao caráter sistemático da ciência,<br />

ainda hoje é <strong>de</strong>fendida uma ontologia <strong>de</strong>scritiva<br />

ou "elenotativa" que. ao mesmo tempo em<br />

que se limite "a observar e a registrar os traços<br />

da existência", também leve em consi<strong>de</strong>ração<br />

o instrumento <strong>de</strong>ssa observação: a reflexão humana<br />

e as condições que a solicitam (DKWKY.<br />

Experiente and Sature, and Histórica! Rxperieuce,<br />

1958, cap. 5).<br />

3 a O terceiro conceito <strong>de</strong> M. como gnosiologia<br />

é expresso por Kant. Na verda<strong>de</strong>, a origem<br />

<strong>de</strong>sse conceito <strong>de</strong>ve ser i<strong>de</strong>ntificada na noção<br />

<strong>de</strong> <strong>filosofia</strong> ]>rinieira <strong>de</strong> Bacon: "Uma ciência<br />

universal, que seja mãe <strong>de</strong> todas as outras e<br />

que, no progresso das doutrinas, constitua a<br />

parte comum do caminho, antes que as sondas<br />

se separem e se <strong>de</strong>sunam." Segundo Bacon, tal<br />

ciência <strong>de</strong>veria ser "o receptáculo dos axiomas<br />

que não pertençam às ciências particulares,<br />

mas sejam comuns a numerosas ciências" (De<br />

ciugm. scient., III, 1). Esse conceito <strong>de</strong> <strong>filosofia</strong><br />

primeira tem uma história, que é a cio conceito<br />

positivista da <strong>filosofia</strong>, que tem em comum com<br />

o conceito kantiano <strong>de</strong> M. a maior ênfase nos<br />

princípios cios que nos objetos da ciência. Segundo<br />

Kant, M. é o estudo da formas ou princípios<br />

cognitivos que, por serem constituintes<br />

da razão humana — aliás <strong>de</strong> toda razão finita<br />

em geral —, condicionam todo saber e toda<br />

ciência, e cie cujo exame, portanto. 6 possível<br />

extrair os princípios gerais <strong>de</strong> cada ciência.<br />

Kant expunha esse conceito da M. nas últimas<br />

páginas <strong>de</strong> Crítica da Razão Pura, mais precisamente<br />

no capítulo sobre a arquitelura. Kant<br />

diz que a M. po<strong>de</strong> ser entendida <strong>de</strong> duas formas:<br />

como a segunda parte da "<strong>filosofia</strong> da<br />

razão pura", ou seja, como "sistema da razão<br />

pura (ciência), conhecimento filosófico total<br />

(seja verda<strong>de</strong>iro, seja aparente) que <strong>de</strong>riva da<br />

razão pura em conexão sistemática" (e, nesse<br />

sentido, <strong>de</strong>la é alijada a parte preliminar ou<br />

propedêutica da <strong>filosofia</strong> da razão pura, que é<br />

a crítica), ou então po<strong>de</strong> ser entendida como a<br />

<strong>filosofia</strong> total da razão pura, incluindo a crítica.<br />

F. neste segundo sentido que Kant chamava a<br />

M <strong>de</strong> ontologia no documento <strong>de</strong> 1793. com o<br />

qual respondia a ao tema proposto pela Aca<strong>de</strong>mia<br />

<strong>de</strong> Berlim: "Quais são os progressos reais<br />

da M. <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o tempo cie Leibniz e Wolff?". Ontologia,<br />

M. e crítica coinci<strong>de</strong>m do seguinte ponto<br />

<strong>de</strong> vista: "A crítica e só a crítica" — dizia Kant<br />

em Prolegômenos— "contém o plano bem verificado<br />

e provado <strong>de</strong> uma M. científica, bem<br />

como o material necessário a realizá-lo. Por<br />

qualquer outro caminho ou meio, ela é impossível"<br />

(Prol.. A, 190). Assim, como M. "científica"<br />

ou "crítica", a M. kantiana contrapunhase<br />

à M. dogmática tradicional, que Kant submetia<br />

à crítica nas três partes distinguiclas por<br />

Wolff: teologia, psicologia e cosmologia. Mas<br />

nem na dialética transcen<strong>de</strong>ntal, nem em<br />

outro lugar, Kant criticou a primeira parte fundamental<br />

cia M. wolffiana, que é a ontologia. Na<br />

realida<strong>de</strong>, o conceito fundamental <strong>de</strong> ontologia<br />

continuava válido para Kant. com a correção<br />

do caráter crítico ou gnosiológico <strong>de</strong>sta, ou<br />

seja. com a passagem do significado realista<br />

para o significado subjetivista da disciplina em<br />

questão. Segundo Kant. da M. crítica ou ontológica<br />

fazem parte a M. da natureza e a M. dos<br />

costumes. A M. cia natureza compreen<strong>de</strong> "todos<br />

os princípios racionais puros <strong>de</strong>correntes<br />

<strong>de</strong> simples conceitos (portanto, com exclusão<br />

da matemática) da ciência teórica cie todas as<br />

coisas". A M. dos costumes compreen<strong>de</strong> "os<br />

princípios que <strong>de</strong>terminam a priori e tornam<br />

necessário o lazer ou o não fazer", sendo, porlanto,<br />

a "moral pura" (Crít. R. Pura, Doutr. do<br />

método, cap. 3).<br />

A característica da M. kantiana é sua pretensão<br />

<strong>de</strong> ser "uma ciência <strong>de</strong> conceitos puros",<br />

ou seja, uma ciência que abarque os<br />

conhecimentos que po<strong>de</strong>m ser obtidos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

da experiência, com base<br />

nas estruturas racionais da mente humana.<br />

Desse ponto <strong>de</strong> vista, sua continuação histórica<br />

na <strong>filosofia</strong> contemporânea é a ontologia<br />

fenomenológíca <strong>de</strong> Husserl. Diferentemente <strong>de</strong><br />

Kant, Husserl não consi<strong>de</strong>ra os princípios muito<br />

gerais que seriam constituintes da razão em<br />

geral, mas os princípios que constituem o fundamento<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados campos do saber,<br />

<strong>de</strong> uma ciência ou <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> ciências,<br />

chamados, portanto, <strong>de</strong> materiais. Husserl diz:<br />

"Cada objeto empírico concreto insere-se com<br />

sua essência material em uma espécie material<br />

superior, em uma região <strong>de</strong> objetos empíricos.<br />

A essência regional correspon<strong>de</strong> uma ciência<br />

eidética regional ou, como po<strong>de</strong>mos dizer também,<br />

uma ontologia regional." Portanto, "toda<br />

ciência <strong>de</strong> ciados <strong>de</strong> fato ou <strong>de</strong> experiência<br />

tem seus fundamentos teóricos essenciais<br />

em ontologias regionais. (...) Assim, p. ex., a todas<br />

as disciplinas naturalistas correspon<strong>de</strong> a<br />

ciência eidética da natureza física em geral (a<br />

ontologia da natureza), porquanto à natureza<br />

factícia correspon<strong>de</strong> um eidos puramente

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!