22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

DEUS, PROVAS DE 263 DEUS, PROVAS DE<br />

celente que nenhuma outra haverá que lhe seja<br />

superior. De fato, se essa distinção <strong>de</strong> graus<br />

presseguisse ao infinito, <strong>de</strong> modo que não<br />

houvesse um grau superior a todos, a razão<br />

seria levada a admitir que o número <strong>de</strong>ssas<br />

naturezas é infinita. Mas como isso é consi<strong>de</strong>rado<br />

absurdo por qualquer um que não seja<br />

carente <strong>de</strong> razão, <strong>de</strong>ve haver necessariamente<br />

uma natureza superior, que não possa ser subordinada<br />

a nenhuma outra como inferior"<br />

(Mon., 4). O fundamento <strong>de</strong>ssa prova é o princípio<br />

platônico <strong>de</strong> que tudo o que possui certa<br />

qualida<strong>de</strong> possui-a por participação naquilo a<br />

que essa qualida<strong>de</strong> inere <strong>de</strong> modo essencial e<br />

eminente; p. ex., tudo o que é quente é quente<br />

por participação no fogo, que é quente por<br />

essência (Fed., 101 d e ss.). Esse princípio fora<br />

admitido também por Aristóteles (Met., II, 1,<br />

993 b 25), ao qual freqüentemente remetem os<br />

escritores medievais.<br />

6" A prova chamada por S. Tomás <strong>de</strong> ex<br />

possíbili et necessário, por Leibniz <strong>de</strong> contíngentia<br />

mundi, e por Kant, <strong>de</strong> prova cosmológica,<br />

é uma das mais felizes; foi exposta pela<br />

primeira vez por Avicena e está intimamente<br />

ligada à concepção <strong>de</strong> D. típica do neoplatonismo<br />

árabe. Avicena (Met., II, 1, 2) distinguira<br />

o ser em necessário e possível, <strong>de</strong>finindo o<br />

possível como o que não existe por si, mas tem<br />

necessidacie <strong>de</strong> alguma coisa para existir. Portanto,<br />

se existe um possível, existe algo que o<br />

faz existir; mas se esse algo é, por sua vez,<br />

possível, remete ainda a um outro que seja<br />

causa <strong>de</strong> sua existência; e assim por diante, até<br />

se chegar ao ser necessário, que é o que existe<br />

por si. Dessa prova resulta a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> D.<br />

como ser necessário, cujo antece<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong><br />

ser encontrado em Aristóteles (Met., XII, 7,1072<br />

b 10). Mas seu sentido é diferente na <strong>filosofia</strong><br />

árabe, em que visa afirmar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

tudo o que existe, portanto também do possível,<br />

que, se existe, existe necessariamente pela<br />

ação <strong>de</strong> uma causa necessária. Apesar <strong>de</strong> seus<br />

vínculos com o necessitarismo árabe, essa prova<br />

foi aceita por Maimôni<strong>de</strong>s (Gui<strong>de</strong> <strong>de</strong>s égarés,<br />

II, 1) e pela Escolástica latina, na qual foi<br />

introduzida por Guilherme <strong>de</strong> Alvérnia (De<br />

Trinitate, 7), na primeira meta<strong>de</strong> do séc. XIII.<br />

Des<strong>de</strong> então, passou a ser uma das provas<br />

mais freqüentemente repetidas na história da<br />

<strong>filosofia</strong>, sendo <strong>de</strong> fato a única aduzida nos<br />

sécs. XVII e XVIII, ou seja, ainda no período<br />

em que muitos conceitos teológicos e metafísicos<br />

são criticados e abandonados. Po<strong>de</strong> ser<br />

assim esquematizada: "Se algo existe, <strong>de</strong>ve<br />

existir um ser necessário. Mas algo existe (p.<br />

ex., eu mesmo), logo existe o ser necessário".<br />

Em conformida<strong>de</strong> com esse esquema, essa prova<br />

é exposta por Descartes (Secon<strong>de</strong>s Réponses,<br />

prop. 3), por Locke (Ensaio, IV, 10), por Leibniz<br />

(Théod., I, § 7; Monad., § 45) e por Clarke<br />

(Demonstration of the Being and Attributes of<br />

God, 1705). A própria prova que Berkeley extraiu<br />

do princípio esse estpercipi é uma variante<br />

da prova cosmológica: "As coisas sensíveis<br />

realmente existem; se realmente existem, são<br />

necessariamente percebidas por um espírito infinito;<br />

logo, há um Espírito infinito, ou D." (Dialogues<br />

Between Hylas and Philonous, II,<br />

Works, ed. Jessoup, II, p. 212). Kant consi<strong>de</strong>rou<br />

a prova cosmológica como "uma prova ontológica<br />

mascarada", uma prova que passa da<br />

conexão puramente conceituai entre as noções<br />

<strong>de</strong> possível e necessário à afirmação da realida<strong>de</strong><br />

necessária (Crít. K. Pura, Dialética, cap. III,<br />

seç. 5). G. Boole, fundador da lógica, transcrevendo<br />

em símbolos o argumento <strong>de</strong> Clarke,<br />

mostrava que não há conclusão <strong>de</strong>rivável das<br />

premissas que afirmam a verda<strong>de</strong> ou a falsida<strong>de</strong><br />

da proposição "algo. que é existe pela necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> sua natureza", ou da proposição<br />

"algo que é existe pela vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> outro ser",<br />

nem da combinação das duas proposições<br />

(Laws of Thought, 1854, cap. 13). A essa prova<br />

se <strong>de</strong>ve a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> D. como ser necessário,<br />

que é das mais comuns, sendo usada mesmo<br />

por quem não se vale da prova relativa ou<br />

<strong>de</strong>sconhece sua valida<strong>de</strong>.<br />

1- A prova ontológica foi formulada no séc.<br />

XI por Anselmo <strong>de</strong> Aosta. Sua característica é<br />

passar do simples conceito <strong>de</strong> D. à existência<br />

<strong>de</strong> D. Eis a formulação <strong>de</strong> Anselmo: "Certamente<br />

aquilo <strong>de</strong> que não se po<strong>de</strong> pensar nada<br />

<strong>de</strong> maior não po<strong>de</strong> estar só no intelecto. Porque,<br />

se estivesse só no intelecto, po<strong>de</strong>r-se-ia<br />

pensar que estivesse também na realida<strong>de</strong>, ou<br />

seja, que fosse maior. Se, portanto, aquilo <strong>de</strong><br />

que não se po<strong>de</strong> pensar nada <strong>de</strong> maior está só<br />

no intelecto, aquilo <strong>de</strong> que não se po<strong>de</strong> pensar<br />

nada <strong>de</strong> maior é, ao contrário, aquilo <strong>de</strong> que se<br />

po<strong>de</strong> pensar algo <strong>de</strong> maior. Mas certamente<br />

isso é impossível. Portanto, não há dúvida <strong>de</strong><br />

que aquilo <strong>de</strong> que não se po<strong>de</strong> pensar nada <strong>de</strong><br />

maior existe tanto no intelecto quanto na realida<strong>de</strong>"<br />

(Prost., 2). Esse argumento consta <strong>de</strong><br />

dois pontos: l e o que existe na realida<strong>de</strong> é<br />

"maior" ou mais perfeito do que o que existe<br />

só no intelecto; 2- negar que aquilo <strong>de</strong> que não

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!