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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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TÉCNICA 940 TÉCNICA<br />

racionais, que são relativamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> sistemas particulares <strong>de</strong> crenças, po<strong>de</strong>m<br />

levar à modificação <strong>de</strong>sses sistemas e são autocorrigíveis;<br />

B) T. mágicas e religiosas, que só<br />

po<strong>de</strong>m ,ser postas em prática com base em <strong>de</strong>terminados<br />

sistemas <strong>de</strong> crenças; não po<strong>de</strong>m,<br />

portanto, modificar esses sistemas e apresentam-se<br />

também como nào-corrigíveis ou nàomodificáveis.<br />

Essas T. constituem um dos dois<br />

elementos fundamentais <strong>de</strong> qualquer religião e<br />

po<strong>de</strong>m ser indicadas com o nome genérico <strong>de</strong><br />

ritos (v.).<br />

As T. racionais, por sua vez. po<strong>de</strong>m ser<br />

distinguidas em: l ü T. simbólicas (cognitivas ou<br />

estéticas), que são as cia ciência e das belas<br />

artes; 2" T. <strong>de</strong> comportamento (morais, políticas,<br />

econômicas, etc); 3" T. cie produção.<br />

1" As T. cognitivas e artísticas po<strong>de</strong>m ser<br />

chamadas <strong>de</strong> simbólicas porque consistem<br />

essencialmente no uso dos signos. Distinguemse<br />

dos mctodos(\.) que, a rigor, são indicações<br />

gerais sobre o caráter das T. a serem seguidas.<br />

As T. simbólicas po<strong>de</strong>m ser: <strong>de</strong> explicação, <strong>de</strong><br />

previsão ou <strong>de</strong> comunicação, mas essas distinções<br />

não são mutuamente exclu<strong>de</strong>ntes.<br />

2" As T. <strong>de</strong> comportamento do homem em<br />

relação a outro homem cobrem um campo<br />

extensíssimo que compreen<strong>de</strong> zonas díspares:<br />

vão das T. eróticas às <strong>de</strong> propaganda, das T.<br />

econômicas às morais, das T. jurídicas às educacionais,<br />

etc. Nesse grupo também po<strong>de</strong>m ser<br />

incluídas as T. organizai iras, que visam a encontrar<br />

condições para obter o rendimento<br />

máximo com o mínimo esforço em todos os<br />

domínios da ativida<strong>de</strong> humana. Essa técnica é<br />

tratada pela tectologiaiv.) ou praxíologia (\.).<br />

3" O terceiro grupo <strong>de</strong> T. é o que diz respeito<br />

ao comportamento do homem em relação à<br />

natureza e visa à produção <strong>de</strong> bens. Nesse sentido,<br />

a T. sempre acompanhou a vida do homem<br />

sobre a terra, sendo o homem — como jã<br />

notava Platão (Prot., 321 c) — o animal mais<br />

in<strong>de</strong>feso e inerme <strong>de</strong> toda a criação. Portanto,<br />

para que qualquer grupo humano sobreviva, é<br />

indispensável certo grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da 'I'., e a sobrevivência e o bem-estar <strong>de</strong> grupos<br />

humanos cada vez maiores são condicionados<br />

pelo <strong>de</strong>senvolvimento dos meios técnicos.<br />

O primeiro filósofo a reconhecer essa<br />

verda<strong>de</strong> foi Francis Bacon, no começo do séc.<br />

XVII. Para ele, a atuação da ciência tinha em<br />

vista o bem-estar do homem e visava a produzir,<br />

em última análise, <strong>de</strong>scobertas que facilitassem<br />

a vida do homem na terra. Quando, em<br />

Nova Atlântida, quis dar a imagem <strong>de</strong> uma<br />

cida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al, não sonhou formas perfeitas <strong>de</strong><br />

vida social ou política, mas imaginou um paraíso<br />

da T., on<strong>de</strong> fossem levadas a efeito as<br />

invenções e as <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> todo o mundo.<br />

O sansimonismo (v.) e o positivismo (v.) do<br />

séc. XIX compartilharam a exaltação baconiana<br />

da técnica. Só <strong>de</strong>pois do fim do século passado<br />

e nas primeiras décadas do séc. XX foi<br />

que começou a manifestar-se o que hoje se chama<br />

<strong>de</strong> problema da T. que nasceu das conseqüências<br />

produzidas pelo <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

T. do mundo mo<strong>de</strong>rno sobre a vicia individual<br />

e social do homem. Antes da Segunda<br />

Guerra Mundial, o conflito entre homem e T.<br />

foi o tema predileto da literatura profetizadora.<br />

Os profetas da <strong>de</strong>cadência e da morte da civilização<br />

oci<strong>de</strong>ntal (p. ex., O. SPHNGLKR, Der<br />

Moisch und die Technik, 1931). os <strong>de</strong>fensores<br />

da espiritualida<strong>de</strong> pura (p. ex., I). ROPS, Le<br />

mon<strong>de</strong> sa>is âme, 1932) haviam já i<strong>de</strong>ntificado<br />

na máquina a causa direta ou indireta da <strong>de</strong>cadência<br />

espiritual do homem. Segundo esses<br />

diagnósticos, o mundo em que a máquina domina<br />

não tem alma, é nivelador e mortificante:<br />

um mundo on<strong>de</strong> a quantida<strong>de</strong> tomou o lugar<br />

da qualida<strong>de</strong> e on<strong>de</strong> o culto dos valores do espírito<br />

foi substituído pelo culto dos valores instrumentais<br />

e utilitários. Depois do fim da Segunda<br />

Guerra Mundial, essas acusações foram<br />

reforçadas e <strong>de</strong>senvolvidas; estão presentes em<br />

toda a obra <strong>de</strong> Albert Camus (v., p. ex., Ni<br />

bourreaux ni victimes, 1946). Para outros, o<br />

mal do "maquinismo" estaria no <strong>de</strong>sarraigamento<br />

que ele produz no homem (S. WF.IL,<br />

Lenracinement, 1948). Ao con<strong>de</strong>narem a T..<br />

outros ainda implicam a "razão", que seria seu<br />

princípio, ou acalentam a utopia <strong>de</strong> um retorno<br />

à produção artesanal (M. m: CORTI:, Essaisiirla<br />

fin dune cirilisatiou, 1949; L. DI:PLI:SSY, LU<br />

machine ou 1'homme, 1949). Por outro lado. a<br />

partir da obra <strong>de</strong> Hi SSHRL, A crise das ciências<br />

enropéiasi 1954), a T. e a ciência em que ela se<br />

baseia passaram a ser freqüentemente consi<strong>de</strong>radas<br />

uma <strong>de</strong>gradação ou uma traição da Razão<br />

Autêntica, pois escravizam a razão a objetivos<br />

utilitários, ao passo que sua verda<strong>de</strong>ira<br />

função é o conhecimento <strong>de</strong>sinteressado do<br />

ser, a contemplação. Esse conceito constitui a<br />

base <strong>de</strong> todas as críticas dirigidas à socieda<strong>de</strong><br />

contemporânea, que estaria fundada na técnica<br />

e dominada pela tecnocracia (v.).<br />

Mas hoje há uma vasta literatura que, apesar<br />

<strong>de</strong> não partir <strong>de</strong> preconceitos metafísicos,

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