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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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INDUÇÃO 557 INDUÇÃO<br />

ver <strong>de</strong>scoberto os "raciocínios indutivos" (Met.,<br />

XIII, 4, 1078 b 28). Entre a I. e o silogismo, Aristóteles<br />

estabelece todavia uma gran<strong>de</strong> diferença<br />

<strong>de</strong> valor. No silogismo <strong>de</strong>dutivo ("Todos os<br />

homens são animais; todos os animais são mortais;<br />

logo, todos os homens são mortais") o termo<br />

médio (animal) constituí a substância ou a<br />

razão <strong>de</strong> ser da conexão necessária entre os<br />

dois extremos: os homens são mortais porque<br />

são substancialmente animais. No raciocínio indutivo,<br />

entretanto ("O homem, o cavalo e o mulo<br />

são duradouros; o homem, o cavalo e o mulo são<br />

animais sem fel; logo, os animais sem fel<br />

são duradouros"), o termo médio (ser sem fel)<br />

aparece na conclusão, o que significa que ele<br />

não é um porquê substancial, mas um simples<br />

fato (An.pr., II, 23, 68 b 15). Portanto, a I. não<br />

tem valor necessário ou <strong>de</strong>monstrativo, conquanto<br />

seja mais clara que o silogismo; seu âmbito <strong>de</strong><br />

valida<strong>de</strong> é o mesmo do fato, ou seja, da totalida<strong>de</strong><br />

dos casos em que sua valida<strong>de</strong> foi efetivamente<br />

constatada. Po<strong>de</strong>, portanto, ser usada<br />

para fins <strong>de</strong> exercício, em dialética, ou com<br />

objetivos persuasivos em retórica (Rbet., I, 2,<br />

1356 b 13), mas não constitui ciência porque a<br />

ciência é necessariamente <strong>de</strong>monstrativa (An.<br />

post., I, 2, 71 b 19)- Na <strong>filosofia</strong> pós-aristotélica,<br />

os epicuristas julgaram que a I. era o único procedimento<br />

<strong>de</strong> ínferência legítima, enquanto os<br />

estóicos negaram esse valor. Em Designis, <strong>de</strong><br />

Filo<strong>de</strong>mo, encontramos um relato preciso da<br />

polêmica que esse assunto provocou entre as<br />

duas escolas. Os estóicos diziam que não basta<br />

constatar que os homens que estão ao nosso<br />

redor são mortais para dizer que em qualquer<br />

lugar os homens são mortais; seria necessário<br />

estabelecer que os homens são mortais exatamente<br />

enquanto homens, para conferir necessida<strong>de</strong><br />

a essa inferência (Designis, III, 35; IV,<br />

10; DE LACY, Philo<strong>de</strong>mus on Methods oflnference,<br />

1941, p. 31). O problema da I. já se<br />

apresentava nessa dificulda<strong>de</strong> proposta pelos<br />

estóicos. A eles os epicuristas objetavam que,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que nada se oponha à conclusão, a generalização<br />

indutiva é válida (Ibid., VI, 1-14;<br />

XIX, 25-36; DE LACY, pp. 34, 66). Sexto Empírico<br />

só fazia reexpor <strong>de</strong> forma mais radical a<br />

crítica dos estóicos, partindo da distinção entre<br />

I. completa e I. incompleta. "Uma vez que, partindo<br />

do particular, <strong>de</strong>sejam confirmar o universal<br />

por meio da I., farão isso percorrendo todos<br />

os particulares ou apenas alguns. Se alguns somente,<br />

a I. será incerta, sendo possível que ao<br />

universal se oponha algum dos particulares<br />

omitidos na indução. Se todos, estarão empreen<strong>de</strong>ndo<br />

um trabalho impossível, porque os<br />

particulares são infinitos e ilimitados" (Pirr. hyp.,<br />

II, 204). Fora Aristóteles quem afirmara que a I.<br />

era feita a partir <strong>de</strong> todos os casos particulares<br />

possíveis (An.pr., II, 23, 68 b 29), enquanto os<br />

epicuristas haviam afirmado o valor da I. incompleta.<br />

Bacon, portanto, só fez retomar a alternativa<br />

epicurista quando <strong>de</strong>clarou pueril a I.<br />

completa ou per enumerationem simplicem.<br />

"Esta I. po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>rrubada por qualquer<br />

instância contrária; além disso, consi<strong>de</strong>ra sempre<br />

as mesmas coisas e não atinge seu fim.<br />

Para as ciências, entretanto, é necessária uma<br />

forma <strong>de</strong> I. que escolha bem as experiências e<br />

conclua necessariamente, após as <strong>de</strong>vidas ex<br />

clusões e eliminações" (Nov. Org., Distrib. Op.).<br />

Esta forma <strong>de</strong> I., que Bacon (embora com<br />

dúvidas) atribui a Platão (Ibid., 105), <strong>de</strong>ve<br />

inverter a or<strong>de</strong>m da <strong>de</strong>monstração. Bacon diz:<br />

"Até agora era costume passar <strong>de</strong> chofre dos<br />

dados do sentido e das coisas particulares para<br />

as coisas gerais, como a pólos fixos da disputa,<br />

inferindo <strong>de</strong>pois todas as outras coisas <strong>de</strong>stas,<br />

através das coisas intermédias. Esse é um atalho,<br />

excessivamente íngreme, pelo qual nunca<br />

se encontra a natureza, mas apenas questões.<br />

Ao contrário, os axiomas <strong>de</strong>vem ser inferidos<br />

por graus sucessivos, chegando só no fim aos<br />

axiomas generalíssimos, que não são simples<br />

noções mas fatos bem <strong>de</strong>terminados, sendo<br />

tais que a natureza os reconhece realmente<br />

como seus e inerentes à essência das coisas"<br />

(Ibid., Distrib. Op.). Em outros termos, para<br />

Bacon a certeza da I. consiste no fato <strong>de</strong> que,<br />

por fim, a I. redunda na <strong>de</strong>terminação da forma<br />

da coisa natural, enten<strong>de</strong>ndo-se por forma<br />

"a diferença verda<strong>de</strong>ira, a natureza naturante<br />

ou fonte <strong>de</strong> emanação" que explique o processo<br />

latente e o esquematismo oculto dos corpos<br />

(Ibid., II, 1). Nesse sentido, a forma não passa<br />

da "substância" aristotélica: princípio ou razão<br />

<strong>de</strong> ser da coisa. Aristóteles achava que essa<br />

substância podia ser apreendida pelo procedimento<br />

silogístico, intuitivo-<strong>de</strong>monstrativo;<br />

Bacon acha que ela po<strong>de</strong> ser apreendida pelo<br />

procedimento indutivo que selecione e organize<br />

as experiências. Portanto, a verda<strong>de</strong>ira<br />

diferença entre Bacon e Aristóteles é que, para<br />

Bacon, a nova disciplina do procedimento<br />

indutivo por ele proposta (disciplina que consiste<br />

na formação <strong>de</strong> tábuas que selecionem e<br />

classifiquem as experiências e na instituição<br />

<strong>de</strong> experiências <strong>de</strong> verificação) permite atingir

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