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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ALMA, PARTES DA 33 ALMA BELA<br />

<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s ou <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que<br />

cada homem ou cada coisa em particular participa<br />

em maior ou menor grau. A última crítica<br />

à noção <strong>de</strong> A. é a <strong>de</strong> Ryle (.Concept ofMind,<br />

1949), que <strong>de</strong>u à concepção <strong>de</strong> A. <strong>de</strong> origem<br />

cartesiana o nome <strong>de</strong> "espectro na máquina".<br />

Na realida<strong>de</strong>, essa noção é muito mais antiga,<br />

como se viu, e sua força se <strong>de</strong>ve, mais do que<br />

às suas capacida<strong>de</strong>s explicativas, às garantias<br />

que fornece ou parece fornecer a <strong>de</strong>terminados<br />

valores. Ryle julga que essa noção é fruto<br />

<strong>de</strong> um erro categorial, pelo qual os fatos da<br />

vida mental são consi<strong>de</strong>rados pertencentes a<br />

um tipo ou categoria (ou classe <strong>de</strong> tipos ou<br />

categorias) lógica (ou semântica) diferente<br />

daquela a que eles pertencem. Esse erro é semelhante<br />

ao <strong>de</strong> quem, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> visitar salas, laboratórios,<br />

bibliotecas, museus, escritórios, etc,<br />

que constituem uma Universida<strong>de</strong>, pergunta o<br />

que vem a ser e on<strong>de</strong> fica a própria Universida<strong>de</strong>.<br />

A Universida<strong>de</strong> não é uma unida<strong>de</strong> que<br />

se acrescente aos organismos ou aos membros<br />

que a constituem, e que possua, portanto, uma<br />

realida<strong>de</strong> à parte <strong>de</strong> tais organismos ou membros.<br />

Assim também, a A. não tem realida<strong>de</strong> à<br />

parte das manifestações singulares e dos comportamentos<br />

particulares superiores que essa<br />

palavra serve para <strong>de</strong>signar em seu conjunto.<br />

Em conclusão, já muito antes <strong>de</strong>ssa última<br />

con<strong>de</strong>nação, a noção tradicional <strong>de</strong> A., como<br />

uma espécie <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> em si, princípio e<br />

fundamento dos chamados eventos mentais,<br />

fora abandonada e reduzida à noção <strong>de</strong> entida<strong>de</strong><br />

funcional ou <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação<br />

e <strong>de</strong> síntese entre aqueles eventos. Mas,<br />

nesta forma, essa noção remete à <strong>de</strong> consciência<br />

(v.).<br />

ALMA, PARTES DA. V. FACULDADE.<br />

ALMA BELA (gr. Kakr\ \|A)Xtí; fr- Belle âme,<br />

ai. Schõne Seele, it. Anima belld). Essa expressão<br />

tem origem mística: Plotino já falava da A.<br />

bela, que é a A. que retorna a si mesma ou é ela<br />

mesma (Enn., V, 8, 13), recordando talvez a<br />

"beleza nas almas" <strong>de</strong> que Platão falava como<br />

forma <strong>de</strong> beleza superior à beleza do corpo (O<br />

Banq., 210 b). Essa expressão reaparece nos<br />

místicos espanhóis do século XVI. Expressão<br />

equivalente (Beauty of the Hearf) e a mesma<br />

expressão (belle âmé) encontram-se, respectivamente,<br />

em Shaftesbury e em Nova Heloísa<br />

(1761) <strong>de</strong> Rousseau. Mas no seu significado<br />

específico, essa expressão foi usada pela primeira<br />

vez por Friedrich von Schiller para indicar<br />

o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> uma A. não só "virtuosa" (isto é, cuja<br />

vonta<strong>de</strong> é <strong>de</strong>terminada pelo <strong>de</strong>ver), mas também<br />

"graciosa", no sentido <strong>de</strong> que nela a sensibilida<strong>de</strong><br />

concorda espontaneamente com a<br />

lei moral. "Chama-se A. bela", diz Schiller, "a<br />

alma em que o sentimento moral acabou por<br />

assenhorear-se <strong>de</strong> todas as afeições do homem,<br />

a ponto <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, sem receio, entregar à sensibilida<strong>de</strong><br />

a direção da vonta<strong>de</strong>, sem nunca correr<br />

o risco <strong>de</strong> achar-se em <strong>de</strong>sacordo com as<br />

<strong>de</strong>cisões <strong>de</strong>sta... Uma A. bela não tem outro<br />

mérito que o <strong>de</strong> existir. Com facilida<strong>de</strong>, como<br />

se o instinto agisse por ela, cumpre os <strong>de</strong>veres<br />

mais penosos pela humanida<strong>de</strong> e o sacrifício<br />

mais heróico, que ela arrebata do instinto natural,<br />

aparece como livre efeito <strong>de</strong>sse mesmo<br />

instinto" (Werke, ed Karpeles, XI, 202. Cf.<br />

PAREYSON, A estética do i<strong>de</strong>alismo alemão, pp.<br />

239 ss.). Kant não refutou <strong>de</strong>cididamente esse<br />

conceito <strong>de</strong> Schiller e, mesmo atenuando-o,<br />

não negou que a virtu<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>sse ou <strong>de</strong>vesse<br />

concordar com a graça (Religion, I, obs., nota).<br />

Aliás, em Antropologia (I, § 67), adotou a expressão<br />

A. bela, enten<strong>de</strong>ndo por ela o "ponto<br />

central em torno do qual o juízo <strong>de</strong> gosto reúne<br />

todas as suas apreciações do prazer sensível,<br />

na medida em que .este po<strong>de</strong> unificar-se com a<br />

liberda<strong>de</strong> do intelecto". Esse conceito viria a ter<br />

gran<strong>de</strong> importância no Romantismo. Hegel retomou-o<br />

em Fenomenologia do espírito (VI, C,<br />

c): a A. bela é uma consciência que "vive na<br />

ânsia <strong>de</strong> manchar com a ação e com o existir a<br />

honestida<strong>de</strong> do seu interior"; que, não querendo<br />

renunciar à sua refinada subjetivida<strong>de</strong>, exprime-se<br />

somente com palavras e que, se <strong>de</strong>seja<br />

agir, per<strong>de</strong>-se em absoluta inconsistência.<br />

Goethe <strong>de</strong>dicou à "confissão <strong>de</strong> uma A. bela" o<br />

VI livro das Experiências <strong>de</strong> Wilhelm Meister e<br />

a fazia falar assim; "Não me recordo <strong>de</strong> nenhuma<br />

or<strong>de</strong>m; nada me aparece com forma <strong>de</strong> lei;<br />

é um impulso que me conduz e me guia sempre<br />

retamente; sigo livremente minhas disposições<br />

e sei tão pouco <strong>de</strong> limitações quanto <strong>de</strong><br />

arrependimentos". A A. bela é uma das figuras<br />

típicas do Romantismo: a encarnação da moralida<strong>de</strong>,<br />

não como regra ou <strong>de</strong>ver, mas como<br />

efusão do coração ou do instinto. Scheler, mesmo<br />

apercebendo-se do <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntismo <strong>de</strong>ssa<br />

noção romântica, consi<strong>de</strong>ra ainda que "a antiga<br />

questão a respeito da relação entre a A. bela,<br />

que quer o <strong>de</strong>ver-ser i<strong>de</strong>al e o realiza não por<br />

<strong>de</strong>ver, mas por inclinação, e o comportamento<br />

'pelo <strong>de</strong>ver', a que Kant reduz todo valor moral,<br />

<strong>de</strong>ve ser resolvida no sentido <strong>de</strong> que a A.<br />

bela é não só <strong>de</strong> igual valor, mas <strong>de</strong> valor supe-

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