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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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INTELECTO 573 INTELECTO<br />

ação {Ibid., VI, 11, 1143b). Ao lado da ciência,<br />

o I. constitui a sabedoria, "que é ao mesmo<br />

tempo ciência e intuição das coisas mais<br />

excelsas por natureza" {Ibid., VI, 7, 1151b 2),<br />

sendo por isso a mais alta realização do homem.<br />

Essa função específica do I., <strong>de</strong> intuir os<br />

princípios comuns do raciocínio, foi admitida<br />

por S. Tomás (S. Th., I, q. 8, a. 1) e por muitos<br />

outros escolásticos, ao lado da função genérica<br />

<strong>de</strong> "pensar". Kant, por sua vez, fazia a distinção<br />

explícita entre I. no sentido genérico e I. como<br />

faculda<strong>de</strong> específica que está ao lado do juízo<br />

e da razão. Dizia: "A palavra I. também é entendida<br />

em sentido mais particular quando o I. é<br />

subordinado, como membro <strong>de</strong> uma divisão,<br />

ao I. entendido em sentido mais geral, como<br />

faculda<strong>de</strong> superior <strong>de</strong> conhecer constituída por<br />

I., juízo e razão" {Antr., I, § 40). Nesse sentido<br />

específico, o I. é a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> julgar, e o juízo<br />

que lhe compete é o juízo <strong>de</strong>terminante, cujas<br />

leis constituem o objeto natural em geral (mais<br />

precisamente, a forma <strong>de</strong> tal objeto). Essas leis<br />

são "prescritas apriori" ao I., ou seja, dadas em<br />

seu funcionamento (Crít. R. Pura, Analítica<br />

dos conceitos, seç. I; Crít. do Juízo, Intr., § IV).<br />

Nesse sentido específico, como faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

julgar, o I. não é intuitivo no sentido <strong>de</strong> estar<br />

em relação direta com o objeto; aliás, é uma<br />

relação mediata com o objeto porque, enquanto<br />

juízo sobre uma representação, é, segundo a<br />

expressão <strong>de</strong> Kant, "a representação <strong>de</strong> uma<br />

representação". Mas é intuitivo no mesmo sentido<br />

em que é intuitivo o I. específico <strong>de</strong> Aristóteles:<br />

está em relação imediata com leis ou<br />

princípios fundamentais que entram na constituição<br />

e na organização da ciência e da estrutura<br />

<strong>de</strong> seus objetos. A diferença entre o ponto<br />

<strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Aristóteles e o <strong>de</strong> Kant é que, para<br />

Aristóteles, o I. tem a função <strong>de</strong> formular os<br />

princípios primeiros utilizados pela ciência<br />

<strong>de</strong>monstrativa e <strong>de</strong> perceber a evidência <strong>de</strong>les;<br />

para Kant, ao cumprir a função <strong>de</strong> julgar, o I.<br />

põe em funcionamento os princípios que o<br />

constituem, mesmo sem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formulá-los<br />

explicitamente. Essas duas alternativas<br />

são as únicas historicamente presentes na<br />

interpretação do I. como faculda<strong>de</strong> intuitiva<br />

específica.<br />

ti) A concepção operante do I. foi apresentada<br />

por Bergson, que a enxertou no conceito romântico<br />

do I. entendido como faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

imobilizar. Deste ponto <strong>de</strong> vista, o I. é "a faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> fabricar objetos artificiais, em especial<br />

para fazer utensílios, e <strong>de</strong> variar in<strong>de</strong>finidamente<br />

sua fabricação" {Évol. créatr., 1911, 8 a<br />

ed., p. 151). Portanto, é a solução <strong>de</strong> um problema<br />

que, numa outra linha evolutiva, levou ao<br />

instinto entendido como faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilizar<br />

instrumentos organizados. Devido à sua função<br />

operante, a inteligência ten<strong>de</strong> a captar as relações<br />

entre as coisas, e não as próprias coisas;<br />

portanto, sua forma, e não a sua matéira; tem<br />

por objeto principal o sólido inorgânico, imóvel,<br />

e é caracterizada por uma incompreensão<br />

natural do movimento e da vida {Ibid., p. 179).<br />

Essa análise <strong>de</strong> Bergson influenciou muito a<br />

<strong>filosofia</strong> contemporânea, cujas correntes espiritualistas<br />

e i<strong>de</strong>alistas utilizaram freqüentemente<br />

suas conclusões para afirmar que "o I.<br />

abstrato" é, quando muito, eficaz no domínio<br />

da ciência, que também é conhecimento<br />

"abstrato", mas que pouco ou nada vale no<br />

domínio da consciência efetiva, que seria o filosófico.<br />

Mas também fora do âmbito <strong>de</strong>ssas<br />

intenções <strong>de</strong>negridoras que envolvem o I. e a<br />

ciência, a função operante do I., graças à qual<br />

ele é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar com sucesso as<br />

situações biológicas, sociais, etc. nas quais o<br />

homem se encontre, acabou caracterizando<br />

o próprio I., sendo, portanto, difícil ver nele,<br />

hoje, um órgão <strong>de</strong> funções puramente teóricas.<br />

O pragmatismo certamente contribuiu para a<br />

formação <strong>de</strong>ste ponto <strong>de</strong> vista, que se tornou<br />

lugar-comum da <strong>filosofia</strong> contemporânea.<br />

c) No terceiro significado específico <strong>de</strong> I.,<br />

ele significa entendimento, sendo mais apropriadas,<br />

além <strong>de</strong> "entendimento", as palavras<br />

inteligência e intelecção (em italiano, intelligenza;<br />

em francês, enten<strong>de</strong>ment; em alemão,<br />

Verstehen). Essa acepção do termo, por sua<br />

vez, po<strong>de</strong> ser articulada em dois significados:<br />

et) Um significado comum e genérico, em<br />

que "enten<strong>de</strong>r" significa apreen<strong>de</strong>r o significado<br />

<strong>de</strong> um símbolo, a força <strong>de</strong> um argumento,<br />

o valor <strong>de</strong> uma ação, etc. Em todos estes casos,<br />

a palavra exprime a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> efetuar<br />

corretamente <strong>de</strong>terminada operação. P. ex., o<br />

entendimento <strong>de</strong> um signo consiste na possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> estabelecer corretamente (com base<br />

no uso ou em regras <strong>de</strong>vidas) a referência entre<br />

o sinal e seu referente. O entendimento <strong>de</strong><br />

um argumento consiste na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

interligar suas partes <strong>de</strong> tal forma que o argumento<br />

se torne probante, etc. Nestes casos, há<br />

tanta diversida<strong>de</strong> entre os vários significados<br />

<strong>de</strong> entendimento quanto entre os objetos e as<br />

situações às quais se faz referência. Em geral,

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