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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CONSCIÊNCIA 2<br />

seu espírito quando ele pensa são as idéias<br />

que o ocupam naquele momento, não há dúvida<br />

<strong>de</strong> que os homens têm muitas idéias em seu<br />

espírito, etc", Ensaio, II, 1, l.)É verda<strong>de</strong> que Locke<br />

restringe o uso da palavra C. à certeza absoluta<br />

que o homem tem <strong>de</strong> sua própria existência<br />

("Em todo ato <strong>de</strong> sensação, raciocínio e pensamento,<br />

estamos cônscios, diante <strong>de</strong> nós mesmos,<br />

do nosso ser, e nesse ponto não <strong>de</strong>ixamos<br />

<strong>de</strong> haurir o mais alto grau <strong>de</strong> certeza",<br />

Ibid., IV, 9, 3), e que a relação entre a alma e as<br />

suas próprias operações é o que ele chama <strong>de</strong><br />

"reflexão" (Ibid., II, 1, 4), mas também é verda<strong>de</strong><br />

que o que ele chama <strong>de</strong> experiência em geral<br />

nada mais é que a C. no sentido cartesiano,<br />

pois a mesma relação com o objeto externo inclui-se<br />

inteiramente na esfera da C, que, por<br />

isso, não atinge nada além <strong>de</strong> "idéias". Dessa<br />

colocação nasce o problema do IV livro do Ensaio-,<br />

justificar a "realida<strong>de</strong>" do conhecimento<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tê-la <strong>de</strong>finido como nada mais, nada<br />

menos que a percepção da concordância ou<br />

discordância entre as idéias. "É evi<strong>de</strong>nte", diz<br />

Locke, "que o espírito não conhece as coisas<br />

imediatamente, mas só mediante a intervenção<br />

das idéias que ele tem <strong>de</strong>las. Por isso, nosso<br />

conhecimento só é real quando há conformida<strong>de</strong><br />

entre nossas idéias e a realida<strong>de</strong> das coisas.<br />

Mas qual será o critério? Como po<strong>de</strong>rá a<br />

mente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não percebe nada além <strong>de</strong><br />

suas próprias idéias, saber se estas concordam<br />

com as coisas?" (Ibid., IV, 4, 3). O fato mesmo<br />

<strong>de</strong> esse problema se apresentar (in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

do modo como será resolvido) revela com<br />

toda clareza o fundamento consciencialista da<br />

<strong>filosofia</strong> <strong>de</strong> Locke, fundamento para o qual a <strong>filosofia</strong><br />

nada mais é que a análise da C, não<br />

po<strong>de</strong>ndo ir nenhum passo além. É justamente<br />

essa expressão que Hume emprega para negar<br />

qualquer "existência externa". Diz Hume:<br />

"Como nada está jamais presente na mente<br />

além das percepções, e como as idéias <strong>de</strong>rivam<br />

daquilo que antes esteve presente na mente,<br />

conclui-se que nos é impossível representar ou<br />

formar a idéia <strong>de</strong> algo que seja especificamente<br />

diferente das idéias ou das impressões. No entanto,<br />

se fixarmos o máximo possível nossa<br />

atenção fora <strong>de</strong> nós, se elevamos nossa imaginação<br />

até os céus e até os limites extremos do<br />

universo, na verda<strong>de</strong> não daremos sequer um<br />

passo além <strong>de</strong> nós mesmos, nem po<strong>de</strong>remos<br />

nunca imaginar espécie alguma <strong>de</strong> existência<br />

que não seja a das percepções que se apresentam<br />

em nosso pequeno círculo" (Treatise, I, 2,<br />

189 CONSCIÊNCIA 2<br />

6). Essa impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ultrapassar o círculo<br />

da C. é a primeira e mais importante conseqüência<br />

do uso da noção <strong>de</strong> C. para <strong>de</strong>limitar<br />

a esfera <strong>de</strong> investigação filosófica.<br />

As coisas não são diferentes para o racionalismo<br />

pós-cartesiano. Leibniz faz a distinção<br />

entre a C, que ele i<strong>de</strong>ntifica com a apercepção<br />

(v.), e percepção, <strong>de</strong> que se po<strong>de</strong> não estar claramente<br />

consciente (Monad., % 14); mas consi<strong>de</strong>ra<br />

toda a vida da mônada, isto é, da substância<br />

espiritual, como puramente interior a ela e<br />

acessível só a partir do interior. As mônadas<br />

não têm janelas através das quais possa entrar e<br />

sair algo (Ibid., § 7); por isso "as mudanças naturais<br />

das mônadas vêm <strong>de</strong> um princípio interno,<br />

pois uma causa externa não po<strong>de</strong>ria influir<br />

em sua interiorida<strong>de</strong>" (Ibid., § 11). Na vasta<br />

esfera das percepções da mônada, a reflexão<br />

recorta a esfera mais restrita das apercepções,<br />

que constituem o eu. "Com o conhecimento<br />

das verda<strong>de</strong>s necessárias e com as suas abstrações,<br />

somos elevados aos atos reflexos que<br />

nos fazem pensar no que se chama eu, e a<br />

consi<strong>de</strong>rar que isto ou aquilo está em nós; é<br />

assim que, pensando em nós, pensamos no ser,<br />

na substância, no simples, no composto, na imaterialida<strong>de</strong><br />

e em Deus mesmo, concebendo aquilo<br />

que é limitado em nós e sem limites nele. Esses<br />

atos reflexivos fornecem os objetos principais<br />

dos nossos raciocínios" (Ibid., § 31). essas<br />

palavras <strong>de</strong> Leibniz exprimem a tarefa que, a partir<br />

<strong>de</strong>le, toda a <strong>filosofia</strong> espiritualista assumiu.<br />

Kant distinguiu a C. discursiva e a C. intuitiva,<br />

que são dois outros nomes para indicar, respectivamente,<br />

a apercepção pura e a apercepção<br />

empírica (v. APERCEPÇÃO). A C. discursiva<br />

é "o eu da reflexão", que não contém em si nenhum<br />

múltiplo e é sempre o mesmo em todos<br />

os juízos porque implica só o lado formal da<br />

consciência. A C. intuitiva é, ao contrário, experiência<br />

interior, que inclui o material múltiplo<br />

da intuição empírica interior (Antr., I, § 7, Anotação).<br />

Mas, embora C. pura ou discursiva e C.<br />

empírica compreendam tudo o que o homem é<br />

ou po<strong>de</strong> atingir, Kant fez o esforço mais bemsucedido<br />

para romper aquilo que, na <strong>filosofia</strong><br />

mo<strong>de</strong>rna, se po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> círculo mágico da<br />

C. e para justificar a relação do homem com o<br />

mundo. A observação <strong>de</strong> que "Tenho somente<br />

C. imediata do que está em mim, isto é, da minha<br />

representação das coisas externas" e, portanto,<br />

"ainda é preciso <strong>de</strong>monstrar que há ou<br />

não algo <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>nte fora <strong>de</strong> mim", Kant<br />

respon<strong>de</strong> que "ter C. <strong>de</strong> minha representação"

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