22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CIASSE 2 146 CLASSE, CONSCIÊNCIA DE<br />

situações em que as autorida<strong>de</strong>s políticas po<strong>de</strong>m,<br />

aberta e efetivamente, mudar a estrutura<br />

<strong>de</strong> C, em que os privilégios, essencialíssimos<br />

para a <strong>de</strong>finição do status social, inclusive<br />

no que se refere a uma porcentagem maior da<br />

renda nacional, são conferidos por <strong>de</strong>cisão das<br />

autorida<strong>de</strong>s políticas, em que gran<strong>de</strong> parte<br />

ou mesmo a maioria da população está incluída<br />

num tipo <strong>de</strong> estratificação que po<strong>de</strong> ser encontrado<br />

em hierarquias burocráticas, o conceito<br />

oitocentista <strong>de</strong> C. passa a ser mais ou<br />

menos anacrônico e os conflitos <strong>de</strong> C. dão lugar<br />

a outras formas <strong>de</strong> antagonismo social"<br />

(Class Structure in the Social Consciousness,<br />

Londres, 1963, P- 184). Desse ponto <strong>de</strong> vista, o<br />

conceito <strong>de</strong> C. não está mais ancorado exclusivamente<br />

na proprieda<strong>de</strong> dos meios <strong>de</strong> produção<br />

e <strong>de</strong>ve rever os elementos fundamentais<br />

da complexa organização que po<strong>de</strong> diferir, como<br />

<strong>de</strong> fato difere, <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> para outra e<br />

<strong>de</strong> um momento histórico para outro (cf. T. B.<br />

BOTTOMORE, Classes in Mo<strong>de</strong>rn Society, Londres,<br />

1965).<br />

CLASSE 2 (in. Class; fr. Classe, ai. Klasse, it.<br />

Classe). Embora o conceito <strong>de</strong> "C." já estivesse<br />

presente no pensamento lógico medieval, esse<br />

termo só começou a ser usado no séc. XIX, sobretudo<br />

por obra dos lógicos ingleses, como<br />

Hamilton, Jevons, Venn, etc, preocupados com<br />

o problema da quantificação da Lógica. Po<strong>de</strong>se<br />

<strong>de</strong>finir uma classe enumerando os membros<br />

que a compõem (<strong>de</strong>finição extensiva) ou indicando<br />

a proprieda<strong>de</strong> comum <strong>de</strong> todos os seus<br />

membros (<strong>de</strong>finição intensiva), como quando<br />

se fala do "gênero humano" ou dos "habitantes<br />

<strong>de</strong> Londres". Russell consi<strong>de</strong>rou fundamental<br />

a <strong>de</strong>finição intensiva porque a extensiva po<strong>de</strong><br />

ser reduzida a ela, sem que ocorra o inverso.<br />

Portanto, reduziu a C. a uma função proposicionaKv.),<br />

ou seja, a um predicado ou a um<br />

atributo. Nesse sentido, usou o conceito dos<br />

Principia Mathematica (cf. também Introduction<br />

toMathematicalPhilosophy, 1919, cap.<br />

XVII). Quanto às relações entre o conceito <strong>de</strong><br />

C. e o <strong>de</strong> conjunto, ver este último termo.<br />

CLASSE, CONSCIÊNCIA DE (in Consciousness<br />

of class; fr. Conscience <strong>de</strong> classe, ai.<br />

Klassenbewusstseín; it. Conscienza di classe).<br />

Esse foi um conceito em que Hegel insistiu; segundo<br />

ele, o fato <strong>de</strong> um indivíduo pertencer a<br />

uma classe é <strong>de</strong>terminado não só pelas circunstâncias<br />

objetivas, mas também pela vonta<strong>de</strong><br />

do indivíduo, <strong>de</strong> tal modo que o fato <strong>de</strong> pertencer<br />

a essa classe "pela consciência subjetiva<br />

tem o aspecto <strong>de</strong> ser obra da própria vonta<strong>de</strong>"<br />

(Fil. do dir., § 206). Hegel acrescenta que, para<br />

o homem, "ser alguma coisa" significa "pertencer<br />

a uma classe <strong>de</strong>terminada", porque o homem<br />

sem classe seria um simples indivíduo<br />

isolado e não participaria da universalida<strong>de</strong><br />

real própria da classe. Portanto, para o indivíduo,<br />

reconhecer-se como pertencente a uma<br />

classe não é uma <strong>de</strong>gradação, mas a aquisição<br />

<strong>de</strong> sua "realida<strong>de</strong> e objetivida<strong>de</strong> ética", ou seja,<br />

o reconhecimento da unida<strong>de</strong>, realizada no indivíduo,<br />

entre universalida<strong>de</strong> e particularida<strong>de</strong><br />

(Jbid., § 207 e Zusatz). Para Marx, esse conceito tinha<br />

bem menos importância, já que tudo o<br />

que é "consciência" pertence à superestrutura<br />

(v.), que é <strong>de</strong>terminada pelas relações <strong>de</strong> trabalho<br />

e produção. Contudo, Marx afirmou que,<br />

se entre os indivíduos "houver apenas contato<br />

local, se a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus interesses não os<br />

levar a criar uma comunida<strong>de</strong>, uma associação<br />

nacional, uma organização política, eles não<br />

constituirão uma classe" (Der 18 Brumaire <strong>de</strong>s<br />

Louis Bonaparte, nova ed., 1946, p. 104). Esse<br />

conceito foi posto em primeiro plano na interpretação<br />

do marxismo feita por Georg Luckács,<br />

no livro História e consciência <strong>de</strong> classe<br />

(1922), que atribui à consciência <strong>de</strong> C. o título<br />

<strong>de</strong> sujeito da história, ou seja, <strong>de</strong> princípio ou<br />

força que faz a história. Segundo Luckács, a<br />

consciência <strong>de</strong> C. autêntica é "a realização racional<br />

e a<strong>de</strong>quada que <strong>de</strong>ve ser adjudicada a<br />

uma situação típica, no processo <strong>de</strong> produção".<br />

Por isso, distingue-se da falsa consciência, que<br />

é uma reação ina<strong>de</strong>quada a tal situação, que<br />

ignora suas contradições. A consciência <strong>de</strong> C. é<br />

o ponto <strong>de</strong> partida da vocação <strong>de</strong> uma C. para<br />

o domínio, ou seja, para a organização <strong>de</strong> uma<br />

socieda<strong>de</strong> conforme com os seus interesses<br />

(Histoire et conscience <strong>de</strong> classe, 1960, pp. 72<br />

ss.). A consciência <strong>de</strong> C. i<strong>de</strong>ntifica-se com a<br />

"compreensão total da história", na qual se funda<br />

a possibilida<strong>de</strong> real <strong>de</strong> evolução da própria<br />

história em direção a uma socieda<strong>de</strong> nova. Rejeitada<br />

pelo marxismo oficial, que a acusava<br />

<strong>de</strong> "i<strong>de</strong>alismo", essa doutrina continua sendo<br />

discutida pelo pensamento marxista oci<strong>de</strong>ntal.<br />

Mas com a crise que o conceito <strong>de</strong> C. sofreu<br />

nos estudos sociológicos contemporâneos (v.<br />

CLASSE), a consciência <strong>de</strong> C, consi<strong>de</strong>rada como<br />

"consciência das contradições entre interesses<br />

econômicos e sociais opostos", é entendida<br />

apenas como um dos muitos elementos que<br />

compõem a noção <strong>de</strong> C. (cf., p. ex., TOURAINE,<br />

La société post-industrielle, 1969).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!