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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CONHECIMENTO 182 CONHECIMENTO<br />

partir <strong>de</strong>les po<strong>de</strong>m (se é que po<strong>de</strong>m) ser inferidos<br />

objetos <strong>de</strong> outra natureza. A renúncia a<br />

esse pressuposto está explícita, p. ex., no<br />

pragmatismo <strong>de</strong> Dewey, para quem o C. é simplesmente<br />

o resultado <strong>de</strong> uma operação <strong>de</strong><br />

investigação ou, mais precisamente, é a asserção<br />

válida em que tal operação <strong>de</strong>semboca. Desse<br />

ponto <strong>de</strong> vista, o objeto do C. não é uma entida<strong>de</strong><br />

externa a ser alcançada ou inferida, mas<br />

é "o grupo <strong>de</strong> distinções ou características conexas<br />

que emerge como constituinte <strong>de</strong>finido<br />

<strong>de</strong> uma situação resolvida e é confirmado na<br />

continuação da investigação" {Logic, cap. XXV,<br />

II; trad. it., p. 666). Visto que, freqüentemente,<br />

são usados em certa investigação objetos constituídos<br />

em investigações prece<strong>de</strong>ntes, estes<br />

últimos às vezes são entendidos como objetos<br />

existentes ou reais, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da própria<br />

investigação. Na realida<strong>de</strong>, são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

da investigação em que ora entram, mas<br />

são objetos só em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma outra investigação<br />

<strong>de</strong> que resultam. No entanto, segundo<br />

Dewey, esse simples equívoco é a base da concepção<br />

"representativa" do conhecimento. "O<br />

ato <strong>de</strong> referir-se a um objeto, que é um objeto<br />

conhecido só em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> operações totalmente<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do próprio ato <strong>de</strong> referência,<br />

é consi<strong>de</strong>rado, para fins <strong>de</strong> uma teoria<br />

do C, como constituinte por si mesmo <strong>de</strong> um<br />

caso <strong>de</strong> C. representativo" {Logic, p. 667).<br />

Essas idéias influenciaram e continuaram<br />

influenciando po<strong>de</strong>rosamente a <strong>filosofia</strong> contemporânea<br />

e são a base da dissolução do problema<br />

do C, que é uma <strong>de</strong> suas características.<br />

A dissolução <strong>de</strong>sse problema favoreceu a lógica<br />

por um lado, e a metodologia das ciências,<br />

por outro. Esta última, especialmente, é a her<strong>de</strong>ira<br />

contemporânea <strong>de</strong> tudo o que ficou <strong>de</strong><br />

válido em problemas que eram habitualmente<br />

tratados pela teoria do conhecimento. A característica<br />

fundamental do objeto da metodologia<br />

das ciências hoje é o caráter operacional e antecipatório<br />

dos seus procedimentos. Aqui aludiremos<br />

às primeiras i<strong>de</strong>ntificações históricas<br />

<strong>de</strong>sses caracteres, remetendo seu estudo mais<br />

<strong>de</strong>talhado ao verbete METODOLOGIA. São reconhecidos<br />

pela ciência só na medida em que o<br />

objetivo fundamental <strong>de</strong>sta não é a <strong>de</strong>scrição,<br />

mas a previsão. Esse objetivo fora atribuído à<br />

ciência por F. Bacon; na <strong>filosofia</strong> mo<strong>de</strong>rna, é<br />

reafirmado por Auguste Comte. Mas só mais<br />

tar<strong>de</strong> os próprios cientistas o reconheceram e<br />

o assumiram explicitamente. Isso começou a<br />

ocorrer quando Mach retomou a tese <strong>de</strong> que o<br />

objeto do C. é um grupo <strong>de</strong> sensações. "Uma<br />

cor", diz Mach, "é um objeto físico enquanto<br />

consi<strong>de</strong>ramos, p. ex., sua <strong>de</strong>pendência das fontes<br />

<strong>de</strong> luz (outras cores, calor, espaço, etc);<br />

mas se a consi<strong>de</strong>ramos em sua <strong>de</strong>pendência da<br />

retina, é um objeto psicológico, uma sensação.<br />

Nos dois campos, a diferença não está na substância,<br />

mas na direção da investigação" (Analyse<br />

<strong>de</strong>r Empfindungen, 1900; 9 a ed., 1922, p.<br />

14). Sob esse prisma, não são os corpos que<br />

geram as sensações, mas são os complexos <strong>de</strong><br />

sensações que formam os corpos; estes não<br />

são mais do que símbolos para indicar tais complexos.<br />

Com isso, po<strong>de</strong> parecer que Mach se<br />

inclina para a teoria representativa do conhecimento.<br />

Mas, na realida<strong>de</strong> em sua teoria do<br />

conceito, é claramente reconhecido o caráter<br />

operacional do C. O conceito científico, segundo<br />

Mach, é um signo que resume as reações<br />

possíveis do organismo humano a um complexo<br />

<strong>de</strong> fatos. Uma lei natural, p. ex., é uma restrição<br />

das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> expectação, isto é,<br />

uma <strong>de</strong>terminação da previsão (Erkenntníss<br />

undIrrtum, 1905, cap. XXIII). Os mesmos conceitos<br />

haviam sido apresentados por Hertz em<br />

Princípios da mecânica (1894), embora sem o<br />

abandono total da concepção pictórica do conhecimento.<br />

"O problema mais direto e, em<br />

certo sentido, o mais importante que o nosso<br />

C. da natureza <strong>de</strong>ve capacitar-nos a resolver",<br />

dizia Hertz, "é a antecipação dos acontecimentos<br />

futuros, <strong>de</strong> tal modo que possamos dispor<br />

as nossas ativida<strong>de</strong>s presentes <strong>de</strong> acordo com<br />

essa antecipação. Como base para a solução<br />

<strong>de</strong>sse problema, utilizamos o C. dos acontecimentos<br />

já ocorridos, que foi obtido pela observação<br />

causai e pelo experimento preor<strong>de</strong>nado.<br />

Ao fazermos inferências a partir do passado<br />

para o futuro adotamos constantemente o seguinte<br />

procedimento: formamos imagens ou<br />

símbolos dos objetos externos e a forma que<br />

damos a tais símbolos é tal que as conseqüências<br />

necessárias da imagem pensada são sempre<br />

as imagens das conseqüências na natureza<br />

das coisas representadas" (Prinzipien <strong>de</strong>r Mechanik,<br />

Intr.). O <strong>de</strong>senvolvimento posterior da<br />

ciência eliminou os resíduos <strong>de</strong> concepção representativa<br />

que ainda permaneciam nas doutrinas<br />

<strong>de</strong> Mach e <strong>de</strong> Hertz. Em 1930, um dos<br />

fundadores da mecânica quântica, Dirac, já podia<br />

afirmar: "O único objeto da física teórica é<br />

calcular resultados que possam ser confrontados<br />

com experimentos e é absolutamente supérfluo<br />

dar uma <strong>de</strong>scrição satisfatória <strong>de</strong> todo o

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