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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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GRAMÁTICA 490 GRAMÁTICA<br />

humana em relação à G. ten<strong>de</strong> a acentuar a importância<br />

da ação mediadora da Igreja, na qual<br />

o homem sempre po<strong>de</strong> achar, <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong><br />

vista, a concessão compreensiva da G., ou seja,<br />

a ajuda sobrenatural para a salvação. Por outro<br />

lado, a acentuação do caráter <strong>de</strong>terminante ou<br />

necessitante da G. ten<strong>de</strong> a colocar o homem<br />

diretamente diante <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong> sua vonta<strong>de</strong><br />

inescrutável, já que o pecado, <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong><br />

vista, não po<strong>de</strong> ser remido por ação mediadora,<br />

mas, ao contrário, é sinal evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> nãoconcessão<br />

da G., portanto, da futura con<strong>de</strong>nação.<br />

Enten<strong>de</strong>-se por que este segundo ponto<br />

<strong>de</strong> vista, assim como ocorreu com o jansenismo,<br />

surge no próprio seio do catolicismo<br />

quando, em nome <strong>de</strong> certo rigorismo moral,<br />

se <strong>de</strong>seja insistir na gravida<strong>de</strong> do pecado e não<br />

se está disposto a consi<strong>de</strong>rá-lo um obstáculo<br />

fácil à salvação.<br />

GRAMÁTICA (gr. ypa(j.|J.aTiKr| TÍxvr); lat.<br />

Grammatica; in. Grammar; fr. Grammaire;<br />

ai. Grammatik; it. Grammaticá). Segundo uma<br />

tradição registrada por Diógenes Laércio (III,<br />

25), Platão foi o primeiro a "teorizar a possibilida<strong>de</strong><br />

da G.". De fato, é freqüente nos textos <strong>de</strong><br />

Platão a referência à G., cuja natureza é <strong>de</strong>finida<br />

com mais precisão no Crãtilo. O fundamento<br />

<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>finição é a analogia entre a G. e a<br />

arte figurativa. Assim como um artista procura<br />

reproduzir os traços dos objetos com o <strong>de</strong>senho<br />

e as cores, o gramático procura fazer a<br />

mesma coisa com as sílabas e as letras. Seu<br />

objetivo é "imitar a substância das coisas". Se<br />

ele chegar a reproduzir tudo o que pertence a<br />

essa substância, sua imagem será bela, mas, se<br />

<strong>de</strong>ixar alguma coisa fora ou se acrescentar algo<br />

não pertinente, sua imagem não será bela. Nesse<br />

aspecto, o gramático é um "artífice <strong>de</strong> nomes,<br />

portanto um legislador que po<strong>de</strong> ser bom<br />

ou mau" (Crat., 431 b ss.). Esse é o primeiro<br />

conceito <strong>de</strong> G. formulado, e é normativo porque,<br />

segundo ele, o gramático não <strong>de</strong>screve,<br />

mas prescreve: é um "legislador". Parece ser<br />

análogo o conceito <strong>de</strong> Aristóteles, que <strong>de</strong>fine a<br />

G. como "ciência do ler e do escrever" (7qp.,<br />

VI, 5, 142 b 31). Esse conceito praticamente<br />

não foi alterado até a Ida<strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>rna. No fim<br />

da Escolástica começou-se a falar <strong>de</strong> uma "G.<br />

especulativa" (Tomaseu <strong>de</strong> Erfurt compôs uma<br />

que foi atribuída a Duns Scot), e Campanella<br />

incluiu uma G. semelhante em sua Philosophia<br />

rationalis (1638), que inclui Poética, Retórica e<br />

Dialética. No século seguinte, Wolff pôs entre as<br />

outras ciências a G. especulativa ou <strong>filosofia</strong><br />

da G., "na qual se explicam as regras gerais<br />

pertencentes à G. em geral, sem levar em conta<br />

os particularismos das línguas especiais" (Log.,<br />

Disc. prael, 1735, § 72).<br />

Foi só com Humboldt que surgiu um novo<br />

conceito <strong>de</strong> G., no famoso texto Sobre a diversida<strong>de</strong><br />

da constituição da linguagem humana<br />

(1836), a partir do qual a G. começou a ser<br />

concebida como uma disciplina não normativa<br />

ou legislativa, mas <strong>de</strong>scritiva, sendo seu objetivo<br />

investigar, na língua, as uniformida<strong>de</strong>s que<br />

constituem regras ou leis. Por esse conceito<br />

moldaram-se todos os estudos mo<strong>de</strong>rnos da<br />

G., que passaram a utilizar cada vez mais as<br />

consi<strong>de</strong>rações estatísticas (cf., p. ex., G. HER-<br />

DAN, Language as Choice and Chance, Grõningen,<br />

1956). No campo filosófico, Hei<strong>de</strong>gger<br />

encarou a exigência <strong>de</strong> libertar a G. da lógica<br />

que toma as coisas como mo<strong>de</strong>lo, ou seja, o<br />

"instrumental intramundano": "A tarefa <strong>de</strong> libertar<br />

a gramática da lógica exige uma compreensão<br />

preliminar e positiva da estrutura apriori<br />

do discurso como existencial. Essa tarefa não<br />

po<strong>de</strong> ser cumprida subsidiariamente por meio<br />

<strong>de</strong> correções e complementações do que foi<br />

legado pela tradição. Nesse propósito, <strong>de</strong>vemse<br />

questionar as formas fundamentais em que se<br />

funda a possibilida<strong>de</strong> semântica <strong>de</strong> articulação<br />

do que é suscetível <strong>de</strong> compreensão e não apenas<br />

dos entes intramundanos conhecidos teoricamente<br />

e expressos em frases" (Sein undZeit,<br />

§ 34). Desse ponto <strong>de</strong> vista, não basta realizar<br />

uma "G. geral" baseada na generalização das<br />

regras <strong>de</strong> todas as línguas, visto que mesmo<br />

essa G. geral po<strong>de</strong> ser restrita <strong>de</strong>mais no que<br />

diz respeito às formas lógicas em que se molda.<br />

Hei<strong>de</strong>gger acrescenta: "A semântica tem<br />

raízes na ontologia do ser-aí: sua sorte está<br />

ligada ao <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>ste" ijbid., § 34). Em outros<br />

termos, Hei<strong>de</strong>gger <strong>de</strong>sejaria uma G. que levasse<br />

em conta não só e não tanto a estrutura das<br />

coisas, em que se molda a estrutura da oração,<br />

mas também e sobretudo a estrutura da existência<br />

humana, que é específica e diferente da<br />

estrutura das coisas. Esse também parece ser o<br />

pressuposto da G. gerativae transformacional<br />

<strong>de</strong> que fala Chomsky; com efeito, este se refere<br />

freqüentemente a Descartes e, em geral, aos<br />

filósofos do séc. XVII, que ressaltaram o caráter<br />

especificamente humano e criativo da linguagem.<br />

Essa G. gerativa <strong>de</strong>veria solucionar o problema<br />

<strong>de</strong> "construir uma teoria da aquisição<br />

lingüística e <strong>de</strong> explicar as habilida<strong>de</strong>s inatas<br />

específicas que possibilitam essa aquisição"

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