22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

SUBSTANCIA 926 SUBSTANCIA<br />

que "quando concebemos a S., concebemos<br />

uma coisa que existe <strong>de</strong> tal modo que, para<br />

existir, não tem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outra coisa senão<br />

<strong>de</strong> si mesma" (Princ. phil.. I, 51). Spinoza<br />

observava com razão que essa é a própria <strong>de</strong>finição<br />

da S. infinita (R. cartesi principia philosophiae,<br />

1663), e a adotava para <strong>de</strong>finir esta<br />

última: 'Entendo por S. aquilo que é em si e se<br />

concebe por si mesmo, ou seja, aquilo cujo<br />

conceito não precisa do conceito <strong>de</strong> outra coisa<br />

pela qual <strong>de</strong>va ser formado" (Et., I, prop. 111). A<br />

<strong>de</strong>finição proposta por Wolff ("S. é o sujeito<br />

perdurável e modificável") é por ele mesmo<br />

consi<strong>de</strong>rada idêntica à <strong>de</strong>finição tradicional e à<br />

cartesiana (Onl., § 768, 772). A <strong>de</strong>finição tradicional<br />

é simplesmente repetida por Baumgarten:<br />

" S. é o ente subsistente por si" (Mel.,<br />

§ 19D. Leibniz conseguiu expressarem termos<br />

mo<strong>de</strong>rnos o conceito tradicional <strong>de</strong> S.: "A natureza<br />

<strong>de</strong> uma S. individual ou <strong>de</strong> um ser completo<br />

6 ter uma noção tão perfeita que com ela<br />

seja possível abranger e <strong>de</strong>duzir todos os predicados<br />

do sujeito aos quais essa noção é atribuída"<br />

(Disc. <strong>de</strong> mét., 1686, § 8). O próprio<br />

Leibniz aproximava esta noção da noção escolástica<br />

tradicional <strong>de</strong> forma substancial Ubicl.,<br />

§ 11), mas, na realida<strong>de</strong>, era a própria noção <strong>de</strong><br />

essência necessária, que já Aristóteles concebia<br />

como o princípio do qtial po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>duzidas<br />

todas as <strong>de</strong>terminações <strong>de</strong> um ente.<br />

Nada muda quando Kant começa a consi<strong>de</strong>rar<br />

a S. como categoria mental, pois a função<br />

<strong>de</strong> tal categoria, segundo ele, é constituir os<br />

próprios objetos da experiência. Mas, com esta<br />

transformação o conceito não muda. A S. é a<br />

"necessida<strong>de</strong> interna <strong>de</strong> permanência dos fenômenos",<br />

e "para que o que se costuma chamar<br />

<strong>de</strong> S. no fenômeno possa ser substrato <strong>de</strong> qualquer<br />

<strong>de</strong>terminação temporal, é necessário que<br />

nele qualquer existência, no passado ou no<br />

futuro, possa ser <strong>de</strong>terminada <strong>de</strong> uma só e única<br />

maneira" (Críl. K. Pura, Anal. dos Princ, cap.<br />

11, seç. III, 3). Km outras palavras, a permanência<br />

que constitui a S. 6 necessida<strong>de</strong>: 6 só<br />

po<strong>de</strong>r ser <strong>de</strong> uma única maneira. Neste mesmo<br />

sentido, Fichte chamava o eu cie substância:<br />

"Na medida em que se consi<strong>de</strong>ra que o eu<br />

abrange todo o círculo absolutamente <strong>de</strong>terminado<br />

<strong>de</strong> todas as realida<strong>de</strong>s, ele é Substanciai...)<br />

S. é toda a reciprocida<strong>de</strong> pensada em<br />

geral; aci<strong>de</strong>nte é alguma coisa <strong>de</strong>terminada que<br />

varia com alguma outra coisa variável" ( Wisseuscbajhlehre,<br />

1794, II, § 4, D; trad. it., pp. 100-<br />

101). No mesmo sentido, Hegel afirmava ainda<br />

que o conceito é S.: "O conceito é a verda<strong>de</strong> da<br />

S., e como o modo <strong>de</strong>terminado <strong>de</strong> relação da<br />

5. é a necessida<strong>de</strong>, a liberda<strong>de</strong> mostra-se como<br />

a verda<strong>de</strong> da necessida<strong>de</strong> e como o modo<br />

<strong>de</strong> relação do conceito" ( Wissenschaft <strong>de</strong>r<br />

Logik, ed. Glockner, II, p. 7; trad. it., III, p.<br />

10; cf. Ene, § ISO, 152). A noção <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong><br />

continuou a caracterizar a idéia <strong>de</strong> S. em<br />

todos os filósofos que a empregam. Rosmini<br />

incluía na idéia <strong>de</strong> S. em universal: l y o pensamento<br />

da existência atual; 2- o pensamento do<br />

indivíduo que existe; 3'-' o pensamento "das<br />

<strong>de</strong>terminações que ele <strong>de</strong>ve ter para existir,<br />

isto é, o pensamento da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />

ele seja completo e tenha tudo o que lhe é<br />

necessário para existir" (Nuoiv saggio, 589).<br />

Po<strong>de</strong>-se dizer que até Wittgenstein emprega<br />

esse termo neste sentido tradicional: "S. é aquilo<br />

que existe in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do que acontece"<br />

(Tractatus, 2.024).<br />

2- O segundo conceito <strong>de</strong> S., como conexão<br />

constante entre <strong>de</strong>terminações simultaneamente<br />

dadas pela experiência, é o produto<br />

da crítica empirista ao conceito tradicional. Kssa<br />

crítica visa o caráter fundamental tradicionalmente<br />

atribuído à $., a sua necessida<strong>de</strong>, porquanto<br />

tal necessida<strong>de</strong> não é resultado da experiência.<br />

A incognoscibilida<strong>de</strong> cia S. em si<br />

mesma, por não ser objeto da experiência e só<br />

se dar na experiência como coleção <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s,<br />

já fora sustentada por Ockham no séc.<br />

XIV (In Sent., I, d. 2, q. 2; Quodl, III, 6), mas<br />

coube a Locke difundir esse ponto <strong>de</strong> vista no<br />

mundo mo<strong>de</strong>rno. Neste sentido, a S. é também<br />

chamada por ele <strong>de</strong> essência real ou forma<br />

substancial, e sua crítica encontra-se no<br />

cap. 6 do Livro III, mais do que no famoso capítulo<br />

2.] do Livro II: "No conhecimento e na<br />

distinção das S.. nossas faculda<strong>de</strong>s não vão<br />

além <strong>de</strong> uma coleção <strong>de</strong> idéias sensíveis<br />

que observamos nelas; esta, mesmo que criada<br />

com a maior diligência e exatidão <strong>de</strong> que<br />

sejamos capazes, estará sempre distante da<br />

verda<strong>de</strong>ira constituição interna <strong>de</strong> qtie tais<br />

qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>rivam. (...) Quando nos ocorre<br />

examinar as pedras sobre as quais caminhamos<br />

ou o ferro que manejamos todos os dias,<br />

logo <strong>de</strong>scobrimos que não sabemos como são<br />

feitos nem sabemos explicar as diversas qualida<strong>de</strong>s<br />

que <strong>de</strong>scobrimos neles. É evi<strong>de</strong>nte que<br />

a constituição interna <strong>de</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m suas<br />

proprieda<strong>de</strong>s nos é <strong>de</strong>sconhecida" (Ensaio, III,<br />

6, 9). Aqui Locke i<strong>de</strong>ntifica com justeza a S.<br />

com a "constituição interna" da qual <strong>de</strong>veriam

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!