22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

SENTIMENTO 876 SENTIMENTO<br />

<strong>de</strong> do intelecto, mas a seu S., nada se po<strong>de</strong> fazer;<br />

porque <strong>de</strong>sse modo essa pessoa está se<br />

recusando a aceitar a comunhão da razão e fecha-se<br />

em sua subjetivida<strong>de</strong>, em sua particularida<strong>de</strong>"<br />

(Ene, § 447). Nesse aspecto, Hegel<br />

opõe-se à tendência literária do Romantismo,<br />

cuja ban<strong>de</strong>ira foi a <strong>de</strong>scoberta e a exaltação do<br />

S., consi<strong>de</strong>rando-o a forma mais íntima e ao<br />

mesmo tempo mais livre <strong>de</strong> vida espiritual.<br />

Para os românticos só po<strong>de</strong> ser artista quem —<br />

como diz Friedrich Schlegel (kleen, § 13). —<br />

"tem uma religião própria, uma intuição original<br />

do infinito". Essa intuição original do inlinito<br />

é aquilo que os românticos chamam <strong>de</strong><br />

sentimento. Em outras palavras, S. 6 a manifestação<br />

do Infinito, <strong>de</strong> Deus, â intimida<strong>de</strong> da<br />

consciência. Portanto, as características que <strong>de</strong>finem<br />

o S. na concepção romântica são dois:<br />

1° seu caráter <strong>de</strong> extrema subjetivida<strong>de</strong>, constituindo<br />

o que há <strong>de</strong> mais subjetivo no sujeito;<br />

2 y sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revelar o Princípio infinito<br />

da realida<strong>de</strong>. Km virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste segundo aspecto,<br />

o S. é entendido pelos românticos, alternada<br />

ou concomitantemente, como órgão da arte, da<br />

<strong>filosofia</strong> e da religião. Schleiermacher consi<strong>de</strong>rou-o<br />

órgão da religião, afirmando que "só o S.<br />

revela o Infinito" (Re<strong>de</strong>n, II; trad. it., p. 43), tese<br />

reexposta e <strong>de</strong>fendida freqüentemente <strong>de</strong>pois<br />

disso. Em tempos mais recentes foi consi<strong>de</strong>rado<br />

órgão da arte por Gentile (Filosofia da<br />

arte. 1931), porquanto a arte é "a subjetivida<strong>de</strong><br />

pura, íntima e inexprimível do sujeito<br />

pensante", e o S. é precisamente isso. Na concepção<br />

<strong>de</strong> arte <strong>de</strong> Gentile, o S. conserva todas<br />

as conotações românticas: é o infinito espiritual<br />

na própria forma <strong>de</strong> sua infinida<strong>de</strong>, livre <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminações conceptuais necessitantes, constituindo<br />

"a subjetivida<strong>de</strong> pura do sujeito" (Jbid..<br />

pp. 176 ss.); como tal, a infinida<strong>de</strong> do S. é a<br />

infinida<strong>de</strong> do homem em sua universalida<strong>de</strong>,<br />

estando portanto acima e além da diversida<strong>de</strong><br />

empírica dos homens, consi<strong>de</strong>rados individualmente"<br />

(Ibíd., p. 205). Mas a outra corrente do<br />

Romantismo oitocentista, o positivismo, também<br />

não ficou alheia à exaltação do sentimento.<br />

Ao <strong>de</strong>linear as características do futuro regime<br />

sociocrático (dominado e dirigido por uma<br />

corporação <strong>de</strong> filósofos positivistas), Comte<br />

afirmou que esse regime será dominado mais<br />

pelo sentimento que pela razão e que, portanto,<br />

atribuirá papel importante às mulheres, que<br />

representam o elemento afetivo do gênero<br />

humano (Politiquepositive, I, pp. 204 ss.). Isto<br />

porque a moral <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong> futura será o<br />

altruísmo, mas um altruísmo tão <strong>de</strong>senvolvido<br />

que criará inclinações e instintos benévolos que,<br />

tanto quanto o sentimento, agem sem necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> reflexão. As preocupações religiosas e<br />

morais <strong>de</strong> Comte levaram-no a insistir no valor<br />

do S. e a exaltá-lo à maneira romântica.<br />

Mas fora do Romantismo, e contra ele, o S.<br />

foi aceito como categoria fundamental da vida<br />

espiritual, como uma das "faculda<strong>de</strong>s" ou<br />

"po<strong>de</strong>res" do espírito. É curioso notar que,<br />

enquanto Kant admitia a tripartiçâo conhecime-ntos-vonta<strong>de</strong>-S.<br />

com base apenas num mo<strong>de</strong>sto<br />

mas válido motivo metodológico (porque<br />

os três grupos <strong>de</strong> fenômenos não são redutíveis<br />

a um princípio único), logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le<br />

es.sa tripartiçâo começa a serdogmatizada: para<br />

Fries ela já é resultado imediato cia auto-observacâo<br />

(Anthropologie. I, 1837, § 4). Herbart.<br />

conquanto negasse a doutrina cias faculda<strong>de</strong>s<br />

da alma, consi<strong>de</strong>rando-as "conceitos <strong>de</strong> classe"<br />

segundo os quais os fenômenos estudados se<br />

organizam, nem por isso <strong>de</strong>ixou cie incluir entre<br />

tais conceitos <strong>de</strong> classe o conceito <strong>de</strong> sentimento.<br />

Para Benecke. o S. era a base da moral<br />

e cia religião; esta última originar-se-ia do S. <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pendência em relação a Deus, justificado<br />

pelo caráter fragmentário da vida humana e<br />

pela exigência <strong>de</strong> completitu<strong>de</strong>, que só po<strong>de</strong> vir<br />

<strong>de</strong> Deus (System <strong>de</strong>r Metaphysik, und Religionspbi/osophie,<br />

1840). Para Rosmini o S. era<br />

a consciência que cada um tem <strong>de</strong> si, ponto <strong>de</strong><br />

partida e base para o conhecimento da alma<br />

(Psicologia, § 69).<br />

A tripartiçâo das faculda<strong>de</strong>s do espírito em<br />

conhecimento, sentimento e vonta<strong>de</strong> mantevese<br />

como esquema praticamente constante na<br />

<strong>filosofia</strong> do séc. XIX. Para sua difusão muito<br />

contribuiu a obra <strong>de</strong> Cousin, que estabeleceu a<br />

correspondência entre essa tripartiçâo e três valores<br />

absolutos: o Verda<strong>de</strong>iro, o Belo e o Bem<br />

(Ou rrai, dit bean et du bien foi título da obra<br />

mais conhecida <strong>de</strong> Cousin, 1853). Se <strong>de</strong>ixarmos<br />

<strong>de</strong> lado as críticas <strong>de</strong> caráter metodológico<br />

sobre a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> semelhantes esquemas<br />

rígidos <strong>de</strong> subdivisão no estudo dos fenômenos<br />

espirituais, po<strong>de</strong>mos dizer que essa<br />

tripartiçâo ainda hoje é a mais difundida, tendo-se<br />

incorporado ao modo <strong>de</strong> pensar comum.<br />

Exceção é Croce. que reconduziu as formas do<br />

espírito às duas formas admitidas por Wolff: a<br />

teórica e a prática, criticando o S. como categoria<br />

espúria e ambígua. Para Croce, S. era uma<br />

palavra "usada para <strong>de</strong>nominar uma classe <strong>de</strong><br />

fatos psíquicos constituída segundo o método

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!