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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CONTINGENTIA 201 CONTINUO<br />

contingência das leis da natureza (1874), o<br />

termo C. passou a ser sinônimo <strong>de</strong> "nâo-<strong>de</strong>terminado",<br />

isto é, <strong>de</strong> livre e imprevisível; <strong>de</strong>signa<br />

especialmente o que <strong>de</strong> livre, nesse sentido, se<br />

encontra ou age no mundo natural. Bergson<br />

adota esse termo no mesmo sentido: "O papel<br />

da contingência é importante na evolução. C,<br />

o mais das vezes, são as formas adotadas, ou<br />

melhor, inventadas. C, relativamente a obstáculos<br />

encontrados em tal lugar e em tal momento,<br />

é a dissociação da tendência primordial<br />

em diversas tendências complementares que<br />

produzem linhas divergentes <strong>de</strong> evolução. C.<br />

são as paradas e os retornos" (Évol. créatr, 11 a<br />

ed., p. 277, 1911). Nesse sentido, contingência<br />

i<strong>de</strong>ntifica-se com liberda<strong>de</strong> e ambas se opõem<br />

a necessida<strong>de</strong>; ao passo que a possibilida<strong>de</strong>,<br />

segundo Bergson, é só a imagem que a realida<strong>de</strong>,<br />

em sua autocriação C, isto é, "imprevisível<br />

e nova, projeta <strong>de</strong> si mesma em seu próprio<br />

passado" (La pensée et le mouvant, p. 128). O<br />

uso do termo "contingência" nesse significado<br />

caracteriza as correntes do chamado in<strong>de</strong>terminísmo<br />

(v.) contemporâneo: doutrinas filosóficas<br />

que interpretam a natureza em termos<br />

<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong>, isto é, em termos<br />

<strong>de</strong> espírito. A esse significado também se reporta<br />

o uso <strong>de</strong>sse termo por Sartre, para quem<br />

contingência é o fato <strong>de</strong> a liberda<strong>de</strong> "não po<strong>de</strong>r<br />

não existir". Contingência, portanto, é a<br />

liberda<strong>de</strong> na relação do homem com o mundo<br />

{1'être et le néant, p. 567).<br />

CONTINGENTIA Uma das provas da existência<br />

<strong>de</strong> Deus é conhecida como a contíngentia<br />

mundi (v. DEUS, PROVAS DE).<br />

CONTINGENTISMO. Esta palavra não faz<br />

referência ao significado tradicional ou clássico<br />

<strong>de</strong> contingência, mas ao significado contemporâneo<br />

<strong>de</strong>sse termo como sinônimo <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong><br />

(no sentido infinito ou incondicionado).<br />

Portanto, refere-se sobretudo às várias formas<br />

do espiritualismoiy.), que afirmam a presença<br />

e a ação, no próprio mundo da natureza, <strong>de</strong><br />

um Princípio Livre (divino).<br />

CONTINUO (gr. avvexéç, lat. Continuum,<br />

in. Continuous; fr. Continu; ai. Stelig; it. Continuo).<br />

A noção <strong>de</strong> C. é matemática, embora os<br />

filósofos tenham contribuído para a sua elaboração<br />

e a tenham utilizado muitas vezes. A primeira<br />

<strong>de</strong>finição explícita <strong>de</strong> C. é dada por Aristóteles<br />

(que talvez retome um conceito <strong>de</strong><br />

Anaxágoras, Fr. 3, Diels), segundo o qual C. é<br />

"o divisível em partes sempre divisíveis" (Fís.,<br />

VI, 2, 232 b 24), não po<strong>de</strong>ndo, portanto, resul-<br />

tar <strong>de</strong> elementos indivisíveis, <strong>de</strong> átomos (Lbid.,<br />

VI, 1, 231 a 24). Em Aristóteles, esse conceito<br />

alterna-se com outro, mais intuitivo e menos<br />

matemático, segundo o qual C. é uma espécie<br />

<strong>de</strong> "contíguo", no sentido <strong>de</strong> que são contínuas<br />

as coisas cujos limites se tocam e <strong>de</strong> cujo contato<br />

surge certa unida<strong>de</strong> (Met., XI, 12, 1069 a 5<br />

ss.). Este último conceito encontrava-se em<br />

Parmêni<strong>de</strong>s (Fr. 8, 24, Diels) e não é utilizado<br />

pelo pensamento mo<strong>de</strong>rno. O único a lembrálo<br />

é Peirce, que se reporta explicitamente a<br />

Aristóteles, <strong>de</strong>clarando que não é totalmente<br />

satisfatória a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> C. dada por Cantor<br />

(Chance, Love and Logic, II, 3; trad. it.,<br />

pp. 153 ss.).<br />

A primeira <strong>de</strong>finição dominou a tradição da<br />

matemática até Leibniz. Este ressaltou a importância<br />

filosófica da "lei <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>" e re<strong>de</strong>finiu<br />

C. Segundo a lei <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>, o<br />

repouso po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um movimento<br />

que se <strong>de</strong>svanece <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser continuamente<br />

diminuído. De modo análogo, a igualda<strong>de</strong> é<br />

uma <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>svanece, assim<br />

como aconteceria no caso da diminuição contínua<br />

do maior <strong>de</strong> dois corpos <strong>de</strong>siguais, dos<br />

quais o menor conservasse sua gran<strong>de</strong>za<br />

(Théod., II, § 348). A lei <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> aconselha<br />

admitir infinitos graus na constituição e<br />

na ação das substâncias que compõem o universo.<br />

"Cada uma <strong>de</strong>ssas substâncias", diz Leibniz,<br />

"contém em sua natureza uma lei <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong><br />

da série <strong>de</strong> suas operações" (Op.,<br />

ed. Erdmann, p. 107). A lei <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong><br />

também vale para o mundo das representações,<br />

no qual "as percepções notáveis provêm<br />

gradualmente daquelas que são pequenas <strong>de</strong>mais<br />

para serem notadas" (Nouv. ess., Introd.).<br />

Leibniz <strong>de</strong>finiu C. no sentido <strong>de</strong> que, nele, "a<br />

diferença entre dois casos po<strong>de</strong> ser reduzida a<br />

menos <strong>de</strong> qualquer gran<strong>de</strong>za dada" (Mathematische<br />

Schriften, ed. Gerhardt, VI, p. 129). É<br />

esse o conceito a que Kant alu<strong>de</strong>: "A proprieda<strong>de</strong><br />

das quantida<strong>de</strong>s, pela qual nelas não há<br />

parte que seja a menor possível (uma parte<br />

simples) é chamada <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>las"<br />

(Crít. R. Pura, Antecipações da percepção). Na<br />

matemática mo<strong>de</strong>rna, duas etapas importantes<br />

na <strong>de</strong>finição do C. são as constituídas pelos<br />

postulados <strong>de</strong> De<strong>de</strong>kind (Continuida<strong>de</strong> e números<br />

racionais, 1872) e <strong>de</strong> Cantor (nos Mathematische<br />

Annalen, <strong>de</strong> 1878 a 1883). O postulado<br />

<strong>de</strong> De<strong>de</strong>kind diz: "Dividindo-se todos os<br />

pontos <strong>de</strong> uma reta em duas classes, <strong>de</strong> tal<br />

modo que cada ponto da primeira preceda

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