22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

IMORTALIDADE 543 IMORTALIDADE<br />

consiste no fato <strong>de</strong> o intelecto humano necessitar<br />

do órgão físico (De immortalitate animae,<br />

9). I. parcial ou impessoal também é a que<br />

Spinoza atribui à alma humana, ao dizer que<br />

"a mente humana não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>struída totalmente<br />

com o corpo, mas que <strong>de</strong>la fica alguma<br />

coisa que é eterna" (Et., V, 23); em outros termos,<br />

a alma é eterna enquanto modo ou manifestação<br />

da Substância Divina. O Romantismo<br />

não esteve mais interessado que Spinoza na I.<br />

da alma individual. Hegel dizia: "Para nós, o<br />

essencial da crença na I. é que a alma tem em<br />

si um fim eterno, totalmente diferente <strong>de</strong> seu<br />

objetivo finito e portanto um valor infinito. É<br />

essa superiorida<strong>de</strong> que confere interesse à fé<br />

na sobrevivência da alma". (Phil. <strong>de</strong>r Geschichte,<br />

ed. Lasson, p. 494; trad. it., II, pp. 267-<br />

68). Realmente, para Hegel o que é imortal,<br />

aliás eterno, é o Espírito do Mundo, que se<br />

encarna nos povos e nos Estados, que se alternam<br />

como seus portadores. Por outro lado,<br />

todas as formas <strong>de</strong> panteísmo (v.), antigas ou<br />

mo<strong>de</strong>rnas, admitiram uma I. parcial ou partilhada,<br />

que na realida<strong>de</strong> significa a eternida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um princípio que só parcial ou temporariamente<br />

se encarna no homem. O próprio Bergson<br />

parece sugerir tal forma <strong>de</strong> I., ao consi<strong>de</strong>rar<br />

o corpo como um simples "instrumento <strong>de</strong><br />

ação" e ao i<strong>de</strong>ntificar a alma com a corrente da<br />

"lembrança pura", que não tem mais individualida<strong>de</strong><br />

alguma (Matière et mémoire, Résumé et<br />

conclusion).<br />

3 a A maior parte das provas aduzidas pelos<br />

filósofos em favor da I. não são suficientemente<br />

precisas para po<strong>de</strong>rem ser invocadas em<br />

apoio a qualquer uma das crenças acima. As<br />

provas mais conclu<strong>de</strong>ntes, pelo menos à primeira<br />

vista, são as que partem dos dois conceitos<br />

que tradicionalmente <strong>de</strong>finem a natureza da<br />

alma: a causalida<strong>de</strong> e a substancialida<strong>de</strong>. Mas<br />

estas também são as provas mais radicalmente<br />

criticadas.<br />

I. Uma das provas mais antigas é a <strong>de</strong>duzida<br />

do movimento. Aristóteles relata que<br />

Alcméon <strong>de</strong> Cróton julgava a alma imortal e<br />

divina porque ela está sempre em movimento,<br />

assim como as coisas divinas, ou seja, a lua, o<br />

sol, etc. (De an., I, 2, 405 a 30). Platão adotava<br />

essa argumentação: "Toda alma é imortal<br />

porque o que se move incessantemente é<br />

imortal. Aquilo que move outra coisa e é movido<br />

por outra coisa, ao parar <strong>de</strong> mover-se,<br />

pára <strong>de</strong> viver. Só o que se move por si, pelo<br />

que nunca falta a si mesmo, nunca <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

mover-se, mas é também fonte e princípio <strong>de</strong><br />

movimento para todas as coisas que se movem"<br />

(Fed., 245 d). A crítitica a esse argumento<br />

foi feita por Aristóteles, para quem era impossível<br />

que a alma fosse movida, portanto<br />

que pu<strong>de</strong>sse ser movida por outra coisa ou<br />

por si mesma (De an., I, 3).<br />

II. O segundo argumento é <strong>de</strong>duzido da <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> alma como substância; como substância,<br />

a alma é ser em ato e, como ser em ato,<br />

é imorredoura (ARISTÓTELES, De an., III, 5, 430<br />

a 17). Platão expôs este argumento no Fédon,<br />

em sua forma mais popular, asseverando que a<br />

alma, por participar necessariamente da idéia<br />

<strong>de</strong> vida, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> viver, do mesmo<br />

modo como o número três, que participa necessariamente<br />

da idéia <strong>de</strong> ímpar, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> ser ímpar (Fed., 104-07). S. Tomás expressou<br />

o argumento <strong>de</strong> Aristóteles ao afirmar<br />

que "aquilo que tem ser por si não po<strong>de</strong> ser<br />

gerado e corrompido'', pois "o ser por si é próprio<br />

da forma enquanto ato" (S. Th., I. q. 75, a.<br />

6). Este argumento foi criticado por Duns Scot:<br />

para este, a alma não tem ser por si no sentido<br />

<strong>de</strong> subsistir por conta própria e <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r<br />

ser a título algum separada do ser: isto significaria<br />

que nem Deus po<strong>de</strong> criá-la e <strong>de</strong>struí-la, o<br />

que é falso (Rep. Par., IV, d. 43, q. 2, n ss 18-19).<br />

Esse argumento foi ainda mais radicalmente<br />

criticado por Kant, que <strong>de</strong>monstrou o caráter<br />

sofista da afirmação da substancialida<strong>de</strong> da<br />

alma, porquanto tal afirmação só faz transformar<br />

sub-repticiamente em substância a simples<br />

relação funcional que o sujeito pensante tem<br />

consigo mesmo, ou seja, o FM penso (Crít. R.<br />

Pura, Dialética, cap. I).<br />

III. O terceiro argumento é <strong>de</strong>duzido <strong>de</strong> um<br />

corolário da tese <strong>de</strong> substancialida<strong>de</strong> da alma,<br />

ou seja, da simplicida<strong>de</strong> da substância alma.<br />

Em vista <strong>de</strong>ssa simplicida<strong>de</strong>, a alma não po<strong>de</strong><br />

corromper-se, pois que a corrupção (como passagem<br />

<strong>de</strong> um contrário a outro) implica composição,<br />

don<strong>de</strong> os corpos, também se forem<br />

simples (como os celestes), serão incorruptíveis.<br />

Platão afirmava que a alma, por ser invisível<br />

como as idéias, <strong>de</strong>ve ser imutável e in<strong>de</strong>componível<br />

com elas (Fed., 78c ss.). S. Tomás<br />

expõe argumento análogo com outra forma,<br />

(cf. especialmente Contra Gent., II, 55). Uma<br />

variante <strong>de</strong>le foi dada por Men<strong>de</strong>lssohn, em<br />

Fédon (1766), com a tese <strong>de</strong> que a alma, em<br />

vista <strong>de</strong> sua simplicida<strong>de</strong>, não po<strong>de</strong> morrer por

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!