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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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1<br />

DEUS 249 DEUS<br />

ção não é inteiramente diferente da função das<br />

outras partes menores, portanto da nossa. Tendo<br />

um ambiente, existindo no tempo e operando<br />

na história como nós, ele <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser diferente<br />

<strong>de</strong> tudo o que é humano, escapa à<br />

estática intemporalida<strong>de</strong> do perfeito absoluto"<br />

(A Pluralistic Universe, 1909, p. 318). Embora<br />

<strong>de</strong>sse modo D. seja investido <strong>de</strong> mais caracteres<br />

humanos do que nas doutrinas <strong>de</strong> Platão<br />

ou Aristóteles, o conceito clássico do D. or<strong>de</strong>nador,<br />

cujo po<strong>de</strong>r é limitado por certas estruturas<br />

substanciais, ainda é o traço característico<br />

<strong>de</strong>ssas concepções.<br />

B) Deus como natureza do mundo. Sob<br />

este título po<strong>de</strong>m ser agrupadas todas as concepções<br />

<strong>de</strong> D. que <strong>de</strong> algum modo admitam<br />

uma relação intrínseca, substancial ou essencial<br />

<strong>de</strong>le com o mundo, <strong>de</strong> tal maneira que o<br />

mundo seja entendido como continuação ou<br />

prolongamento da vida <strong>de</strong> D. Deve-se notar<br />

que a própria concepção <strong>de</strong> D. como criador<br />

da or<strong>de</strong>m do mundo, mesmo <strong>de</strong>marcando<br />

uma separação entre o mundo e D., estabelece<br />

a semelhança entre eles. Platão chama o mundo<br />

<strong>de</strong> "D. gerado" (Tirn., 34 b), e Aristóteles<br />

relata com aprovação a crença comum <strong>de</strong> que<br />

os corpos celestes são <strong>de</strong>uses e <strong>de</strong> que "o divino<br />

abrange toda a natureza" (Met., XII, 8, 1074<br />

b 2). Mas essa conexão torna-se mais estreita e<br />

essencial na concepção <strong>de</strong> que ora nos ocupamos<br />

e que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>signada genericamente<br />

pelo nome <strong>de</strong> panteísmo. Nesta, um laço necessário<br />

ata o mundo a D. e D. ao mundo: D.<br />

não seria D. sem o mundo, assim como o<br />

mundo não seria mundo sem D. Isso não implica,<br />

porém, a perfeita i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e coincidência<br />

entre D. e o mundo; ou melhor, essa<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ou coincidência só se verifica no<br />

sentido que vai do mundo para D. e não no<br />

que vai <strong>de</strong> D. para o mundo. Em outros termos,<br />

o mundo não é inteiramente D.: está<br />

incluído na vida divina como seu elemento<br />

necessário, mas não a esgota. A exigência<br />

apresentada pelo chamado panenteísmo (v.)<br />

na realida<strong>de</strong> é típica <strong>de</strong> todas as formas do<br />

panteísmo histórico, como se po<strong>de</strong>rá facilmente<br />

verificar pela digressão que segue. A característica<br />

do panteísmo po<strong>de</strong> ser expressa dizendo<br />

que ele não estabelece nenhuma<br />

diferença entre causalida<strong>de</strong> divina e causalida<strong>de</strong><br />

natural. No interior do panteísmo, po<strong>de</strong>mse<br />

distinguir três modos principais <strong>de</strong> vincular<br />

mundo e D., quais sejam: 1 Q o mundo é a emanação<br />

<strong>de</strong> D.; 2 a o mundo é a manifestação ou<br />

revelação <strong>de</strong> D.; 3 a o mundo é a realização <strong>de</strong><br />

D. O primeiro e o segundo <strong>de</strong>sses modos via<br />

<strong>de</strong> regra se unem, o mesmo ocorrendo com o<br />

segundo e o terceiro; não se acham, porém,<br />

explicitamente vinculados o primeiro e o<br />

terceiro.<br />

O panteísmo assumiu pela primeira vez forma<br />

acabada no estoicismo. Os estóicos "chamavam<br />

Deus <strong>de</strong> mundo, sendo D. a qualida<strong>de</strong><br />

própria <strong>de</strong> toda substância, imortal e não gerado,<br />

criador da or<strong>de</strong>m universal, o qual, segundo<br />

os ciclos dos tempos, consuma em si toda a<br />

realida<strong>de</strong> e novamente a gera <strong>de</strong> si" (DIÓG. L,<br />

VII, 137). E diziam que "D. impregna todo o<br />

universo e toma vários nomes conforme as matérias<br />

diferentes em que penetra" (AÉCIO, Plac,<br />

I, 7, 33). Os estóicos também afirmavam que D.<br />

é corpo (Stoicorum fragm., ed. Arnim, II, pp.<br />

306-11), porque só o corpo po<strong>de</strong> ser causa,<br />

po<strong>de</strong> agir (DIÓG. L., VII, 56): doutrina que<br />

retorna em Tertuliano (De carne Christi, 11; De<br />

anima, 18) e em Hobbes (Leviath., I, 12). O<br />

reconhecimento da causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D. no mundo<br />

torna-o partícipe da condição geral da<br />

causalida<strong>de</strong> mundana, ou seja, da corporeida<strong>de</strong>.<br />

Os prece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>ssa doutrina foram vistos<br />

tanto na doutrina <strong>de</strong> Heráclito, do Logos ou<br />

Fogo divino que tudo penetra (Fr. 30, 50,<br />

Diels), quanto na i<strong>de</strong>ntificação feita por Xenófanes<br />

<strong>de</strong> Colofão entre D. e o Uno e o Todo<br />

(SIMPLÍCIO, Fís., 22). Mas a expressão mais madura<br />

do panteísmo <strong>de</strong>ve ser vista no neoplatonismo,<br />

particularmente em Plotino. Este elabora,<br />

ainda que em forma <strong>de</strong> imagens, a noção<br />

<strong>de</strong> emanação (v.) que se tornaria indispensável<br />

ao panteísmo, permitindo enten<strong>de</strong>r o modo<br />

como <strong>de</strong> D. <strong>de</strong>riva um mundo que não se separa<br />

<strong>de</strong>le. A relação entre D. e o mundo é<br />

assim esclarecida: l s o mundo <strong>de</strong>riva, necessariamente,<br />

<strong>de</strong> D. assim como o perfume emana<br />

necessariamente do corpo perfumado, e a luz,<br />

<strong>de</strong> sua fonte; 2 a por esse laço <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>, o<br />

mundo é parte ou aspecto <strong>de</strong> D., ainda que<br />

parte diminuída ou inferior, pois o perfume ou<br />

a luz que se afasta <strong>de</strong> sua fonte é inferior à própria<br />

fonte; 3 e D. é superior ao mundo, embora<br />

idêntico a ele, na medida em que possui or<strong>de</strong>m,<br />

perfeição e beleza. Esses são os caracteres<br />

que Plotino atribui a D. D. é o Uno em<br />

face dos muitos que <strong>de</strong>le emanam (Enn., III, 8,<br />

9). "Ele é a potência <strong>de</strong> tudo; está acima da<br />

vida e é causa da vida; a ativida<strong>de</strong> da vida, que<br />

é tudo, não é a realida<strong>de</strong> primeira, mas <strong>de</strong>riva<br />

do Uno como <strong>de</strong> uma fonte" (Ibid., III, 8, 10).

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