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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EXPERIÊNCIA 410 EXPERIÊNCIA<br />

redução da E. às impressões e à relação entre<br />

as impressões, relação que também é intuída,<br />

ou seja, percebida aqui e agora, portanto, <strong>de</strong>sprovida<br />

<strong>de</strong> qualquer significado ou referência<br />

que transcenda a instantaneida<strong>de</strong> das impressões.<br />

Hume operou a mais radical redução da<br />

E. à intuição, porque reduziu a intuição a intuição<br />

instantânea, que nada significa fora <strong>de</strong> si.<br />

Desse ponto <strong>de</strong> vista, a construção <strong>de</strong> procedimentos<br />

ou <strong>de</strong> esquemas <strong>de</strong> previsão é impossível:<br />

como censurou Kant, Hume tornava impossível<br />

a formação <strong>de</strong> uma ciência qualquer.<br />

Todavia, foi justamente a teoria da E. <strong>de</strong><br />

Hume que, através <strong>de</strong> Mach, tornou-se o pressuposto<br />

do neo-empirismo contemporâneo.<br />

Mach resolvera o fato empírico em elementos<br />

consi<strong>de</strong>rados últimos e originários: as sensações.<br />

Um fato físico ou um fato psíquico não<br />

passa <strong>de</strong> um conjunto relativamente constante<br />

<strong>de</strong> elementos simples: cores, sons, calor, pressão,<br />

espaço, tempo, etc. Desse ponto <strong>de</strong> vista,<br />

a diferença substancial entre o físico e o psíquico<br />

<strong>de</strong>saparece. "Uma cor", diz Mach, "é um<br />

objeto físico enquanto consi<strong>de</strong>rarmos, p. ex.,<br />

sua <strong>de</strong>pendência das fontes luminosas (outras<br />

cores, calor, espaço, etc), mas se a consi<strong>de</strong>rarmos<br />

em sua <strong>de</strong>pendência da retina é um objeto<br />

psíquico, uma sensação" (Die Analyse <strong>de</strong>r Empfindungen,<br />

9 a ed., 1922, p. 14). Essa doutrina<br />

conferia à noção <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> empírica elementar<br />

a forma com a qual ela exerceu e ainda<br />

exerce função central no neo-empirismo contemporâneo.<br />

Wittgenstein valeu-se <strong>de</strong>la em<br />

Tractatus logíco-philosophicus (1922). Nessa<br />

obra, aceitava-se a distinção <strong>de</strong> Hume entre<br />

verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> razão e verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fato, exprimindo-a<br />

na forma da oposição entre as proposições<br />

da matemática e da lógica, que são<br />

"analíticas", "tautológicas", "não dizem nada"<br />

(Tractatus, 6,1; 6,11), e as proposições elementares<br />

das ciências naturais que representam os<br />

"estados <strong>de</strong> coisas" {Sachverhalte) ou "fatos<br />

atômicos" (Ibid., 4, 1), os quais nada mais são<br />

do que as impressões <strong>de</strong> Hume ou as sensações<br />

<strong>de</strong> Mach: unida<strong>de</strong>s empíricas elementares.<br />

Por sua vez, em Visão lógica do mundo<br />

(1928), Carnap tentava reduzir todo o conhecimento<br />

científico aos termos da E. intuitiva, e a<br />

unida<strong>de</strong> empírica elementar a que recorria era<br />

a "Vivência elementar" (Elementarerlebnis),<br />

consi<strong>de</strong>rada como um elemento neutro, anterior<br />

à distinção entre objetivo e subjetivo<br />

(Aufbau, § 67), segundo o mo<strong>de</strong>lo da "sensação"<br />

<strong>de</strong> Mach. Mas essa concepção <strong>de</strong> E., preci-<br />

samente como a <strong>de</strong> Hume (que, no fundo, era<br />

idêntica), impossibilitava a ciência ao impossibilitar<br />

a formulação <strong>de</strong> regras para a previsão<br />

dos fenômenos. Foi essa, justamente, a crítica<br />

dirigida a Carnap pelo próprio Círculo <strong>de</strong> Viena<br />

(cf. K. Popper, Logik <strong>de</strong>r Forschung, 1934; cf.<br />

a nova edição inglesa, The Logic of Scientific<br />

Discovery, 1959). Conseqüentemente, Carnap<br />

modificou seu conceito <strong>de</strong> verificabilida<strong>de</strong><br />

empírica. No texto Testabüity and Meaning<br />

(1936), diz ele: "Os positivistas acreditavam<br />

que todo termo <strong>de</strong>scritivo da ciência podia ser<br />

<strong>de</strong>finido por termos <strong>de</strong> percepção e, portanto,<br />

que todo enunciado da linguagem pu<strong>de</strong>sse ser<br />

traduzido em um enunciado sobre as percepções.<br />

Essa opinião foi expressa nas primeiras<br />

publicações do Círculo <strong>de</strong> Viena, inclusive na<br />

minha, <strong>de</strong> 1928, mas hoje penso que não era<br />

<strong>de</strong> todo a<strong>de</strong>quada: a redutibilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser<br />

afirmada, mas não a ilimitada possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

eliminação e retraduçâo" ("Testabüity and<br />

Meaning", em Readings in thePhil. of Science,<br />

1953, p. 67). Esse reconhecimento eqüivale a<br />

uma restrição da tese da verificabilida<strong>de</strong> empírica<br />

dos enunciados científicos, tese que Carnap<br />

exprime dizendo: • "Todo predicado <strong>de</strong>scritivo<br />

da linguagem da ciência é confirmável<br />

com base em predicados-coisa observáveis"<br />

(Ibid., p. 70). A confirmabilida<strong>de</strong>, com efeito, é<br />

uma exigência mais fraca e menos rigorosa do<br />

que a experimentabílida<strong>de</strong>: um enunciado<br />

po<strong>de</strong> ser confirmável sem ser experimentável:<br />

isso ocorre, por exemplo, quando sabemos<br />

que uma observação x nos daria condições <strong>de</strong><br />

confirmar ou invalidar o enunciado, mas não<br />

estamos em condições <strong>de</strong> efetuar a observação<br />

x Mas essa restrição, que sem dúvida amplia<br />

o domínio dos enunciados significativos e dá à<br />

ciência o direito <strong>de</strong> empregar enunciados que<br />

não tem condições <strong>de</strong> pôr à prova, não constitui<br />

uma retificação do conceito <strong>de</strong> experiência.<br />

O complexo aparato que Carnap propõe como<br />

instrumento <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> qualquer enunciado<br />

científico a enunciado experimentável ou,<br />

pelo menos, confirmável, apóia-se na crença<br />

<strong>de</strong> que existe correspondência estreita entre<br />

um enunciado verda<strong>de</strong>iro e <strong>de</strong>terminada E. intuitiva.<br />

O modo como ele <strong>de</strong>fine o predicado<br />

observável realmente faz referência à E. imediata,<br />

visto que Carnap <strong>de</strong>clara, p. ex., que um<br />

campo elétrico não é absolutamente observável<br />

(Ibid., pp. 63-64). Em outros termos, nessa<br />

segunda fase do pensamento <strong>de</strong> Carnap, os<br />

"predicados observáveis" constituem as unida-

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