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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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FILOSOFIA 452 FILOSOFIA<br />

<strong>de</strong>stina a dominar a natureza. E Bacon não hesitou<br />

em chamar <strong>de</strong> "pastoral" a F. <strong>de</strong> Telésio,<br />

que muito apreciava e em parte seguia, por parecer-lhe<br />

que ela "contemplava o mundo placidamente<br />

e quase por ócio" (Works, III, p. 118).<br />

Hobbes insistia na mesma função da F. (De<br />

corp., I, § 6). Descartes, por sua vez, julgava-a<br />

apta a obter sabedoria e ciência <strong>de</strong> tudo aquilo<br />

que é útil e vantajoso para o homem (Princ.<br />

phil, Pref.) A mesma finalida<strong>de</strong> diretiva e corretiva<br />

foi atribuída à F. por Locke e pelos<br />

iluministas. Com Locke, a F. torna-se crítica do<br />

conhecimento e esforço <strong>de</strong> libertação do homem<br />

<strong>de</strong> ignorâncias e preconceitos. A mesma<br />

concepção se mantém no Iluminismo do séc.<br />

XVIII, que vê a F. como esforço da razão para<br />

assenhorear-se do mundo humano, libertá-lo<br />

dos erros e fazê-lo progredir. D'Alembert <strong>de</strong>screvia<br />

assim a ação que a F. exercia em seu<br />

tempo: "Dos princípios das ciências profanas<br />

aos fundamentos da revelação, da metafísica<br />

às questões <strong>de</strong> gosto, da música à moral, das<br />

disputas escolásticas dos teólogos, aos objetos<br />

<strong>de</strong> comércio do direito dos príncipes ao direito<br />

dos povos, da lei natural às leis arbitrárias das<br />

nações, numa palavra, das questões que mais<br />

nos preocupam às que menos nos interessam,<br />

tudo foi discutido e analisado, ou pelo menos<br />

cogitado. Nova luz sobre alguns objetos, nova<br />

obscurida<strong>de</strong> sobre outros foram os frutos ou o<br />

resultado <strong>de</strong>ssa efervescência geral dos espíritos,<br />

assim como o efeito do fluxo e do refluxo<br />

do oceano é levar para a margem alguns objetos<br />

e <strong>de</strong>la afastar outros" (CEuvres, ed. Condorcet,<br />

p. 218). O conceito iluminista <strong>de</strong> F. era compartilhado<br />

por Kant, para quem a F., <strong>de</strong>terminando<br />

as possibilida<strong>de</strong>s efetivas do homem em todos<br />

os campos, <strong>de</strong>ve iluminar e dirigir o gênero<br />

humano em seu obrigatório progresso rumo à<br />

felicida<strong>de</strong> universal (Recensão <strong>de</strong> "Idéias sobre<br />

aF. da história''<strong>de</strong> Her<strong>de</strong>r, 1784-85; cf. Crít. R.<br />

Pura, Doutrina transcen<strong>de</strong>ntal do método, capítulo<br />

III ao final).<br />

Ao insistir no caráter necessário, porque racional,<br />

do ser, o Romantismo constituiu, em<br />

seu conjunto, um retorno à concepção contemplativa<br />

da F. O próprio positivismo, que pretendia<br />

explicitamente remeter-se à doutrina <strong>de</strong><br />

Bacon, do saber como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> domínio<br />

da natureza, nem sempre se mantém fiel ao<br />

reconhecimento do caráter ativo da F. Se para<br />

o positivismo (v.) <strong>de</strong> cunho social (St.-Simon,<br />

Proudhon, Comte, Stuart Mill) a F. é principalmente<br />

um meio <strong>de</strong> transformação da socieda<strong>de</strong><br />

humana, para o positivismo evolucionista a F.<br />

tem mais caráter contemplativo do que ativo.<br />

A <strong>de</strong>fesa do mistério, que Spencer coloca entre<br />

as tarefas da F., ou seja, o reconhecimento<br />

da insolubilida<strong>de</strong> dos chamados problemas últimos,<br />

põe a F. no mesmo plano contemplativo<br />

da religião. A discussão sobre a solubilida<strong>de</strong><br />

ou insolubilida<strong>de</strong> dos chamados "enigmas do<br />

mundo" inci<strong>de</strong> inteiramente no plano da F.<br />

contemplativa. O positivismo <strong>de</strong> Ardigò, o monismo<br />

materialista (Haeckel) e o evolucionismo<br />

espiritualista (Wundt, Morgan, etc.) são igualmente<br />

contemplativos. Na realida<strong>de</strong>, o clima<br />

romântico está presente tanto no positivismo<br />

quanto no i<strong>de</strong>alismo e orienta tanto àquele<br />

como a este para o conceito <strong>de</strong> F. como contemplação<br />

<strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> necessária. Contra<br />

tal conceito insurge-se o "novo materialismo"<br />

<strong>de</strong> Marx, que, ao mesmo tempo, opõe-se<br />

ao materialismo teórico <strong>de</strong> Feuerbach. "Os filósofos",<br />

dizia ele, "até agora só fizeram interpretaro<br />

mundo <strong>de</strong> diversas maneiras: trata-se agora<br />

<strong>de</strong> transformá-lo" (Tese sobre Feuerbach,<br />

11). Mas por mais que Marx insista no esforço<br />

<strong>de</strong> transformação que <strong>de</strong>ve caracterizar a F.<br />

como tal, o próprio fundamento da F. como<br />

contemplação permanece firme em sua doutrina.<br />

Esse fundamento é, com efeito, a necessida<strong>de</strong><br />

do real; para Marx, a transformação da<br />

socieda<strong>de</strong>, ou seja, a passagem da socieda<strong>de</strong><br />

capitalista para a socieda<strong>de</strong> sem classes, acontecerá<br />

"com a mesma fatalida<strong>de</strong> que caracteriza<br />

os fenômenos da natureza" (Capit., I, 24, § 7).<br />

Desse ponto <strong>de</strong> vista, a tarefa da F. apresentase<br />

como a <strong>de</strong> uma profética Cassandra, não <strong>de</strong><br />

promover e orientar a transformação. Nesse<br />

aspecto, é o neocriticismo que por vezes escapa<br />

ao clima romântico. Em Uchronie, Renouvier<br />

propôs-se eliminar "a ilusão da necessida<strong>de</strong><br />

preliminar, segundo a qual o fato<br />

consumado seria o único, entre todos os outros<br />

imagináveis, que po<strong>de</strong>ria realmente acontecer"<br />

(Uchronie, 2- ed., 1901, p. 411). Segundo ele, a<br />

"F. analítica da história" tem a tarefa <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar<br />

as concatenações gerais dos fatos históricos<br />

para dirigir o <strong>de</strong>senvolvimento da história<br />

(Intr. à Ia phil. analytique <strong>de</strong> Vhistoire, 1864,<br />

pp. 551-52). Por outro lado, a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong><br />

"visão do mundo", imposta à F. na segunda<br />

meta<strong>de</strong> do séc. XIX por pensadores <strong>de</strong> procedência<br />

neocriticista ou positivista, tem claro significado<br />

contemplativo. Foi contra a interpretação<br />

contemplativa da F. que o pragmatismo,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a origem, assestou suas armas, como se

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