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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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SER 885 SER<br />

ciados são os seguintes: I o o que é realmente<br />

possível é também realmente efetivo; 2" o que<br />

é realmente efetivo é também realmente necessário;<br />

3 e o que é realmente possível é também<br />

realmente necessário. Negativamente: 4 a aquilo<br />

cujo S. é realmente impossível também é realmente<br />

inefetivo; 5° o que é realmente inefetivo<br />

também é realmente impossível; 6 Q aquilo cujo<br />

nào-S. é realmente possível também é realmente<br />

impossível (Mõglicbkeit und Wirk.lichkeit.<br />

1938, p. 126). Assim, o primado da assertorieda<strong>de</strong><br />

não tem significado diferente do primado<br />

da necessida<strong>de</strong>. A ontologia <strong>de</strong> Hartmann<br />

preten<strong>de</strong>u apresentar a terceira solução<br />

teoricamente possível para o problema do S.,<br />

mas essa solução é idêntica, mesmo em sua<br />

enunciação. à interpretação do S. como necessida<strong>de</strong>,<br />

típica da antiga metafísica.<br />

(3) O primeiro a formular a concepção <strong>de</strong> S.<br />

primário como possibilida<strong>de</strong> foi Platão, para<br />

quem essa concepção aten<strong>de</strong> a duas exigências<br />

fundamentais: em primeiro lugar, explicar por<br />

que se diz que tanto as coisas corpóreas quanto<br />

as incorpóreas sãoiSof. 247 d); em segundo<br />

lugar, levar em conta o fato <strong>de</strong> que o S. é ou<br />

po<strong>de</strong> .ser conhecido (Ibid., 248 e). A primeira<br />

exigência exclui que a materialida<strong>de</strong> ou a<br />

imaterialida<strong>de</strong> possam fazer parte da <strong>de</strong>finição<br />

do S. A segunda exclui que da <strong>de</strong>finição do S.<br />

possam fazer parte <strong>de</strong>terminações necessárias;<br />

p. ex.: que o S. seja necessariamente imóvel<br />

(ou seja, que "'tudo seja imóvel), ou que o S.<br />

esteja necessariamente em movimento (ou seja,<br />

que "tudo esteja em movimento"), etc. (Ibid..<br />

249 d). Em vista disso, Platão afirma que o ser é<br />

apenas possibilida<strong>de</strong> (Súva(J.iç): portanto,<br />

po<strong>de</strong>-se dizer que qualquer coisa é, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

tenha uma possibilida<strong>de</strong> qualquer <strong>de</strong> praticar<br />

uma ação, ou então <strong>de</strong> ser submetida a uma<br />

ação por parte <strong>de</strong> outra coisa qualquer, ainda<br />

que insignificante e mesmo que essa ação seja<br />

mínima e só ocorra uma vez (Ibid., 247 e). Nesse<br />

sentido, possibilida<strong>de</strong> nada tem a ver com a<br />

potência <strong>de</strong> Aristóteles. A potência, <strong>de</strong> fato. é<br />

tal apenas em relação a Lima atualida<strong>de</strong> que.<br />

ela só, é o S. primário (v. ATO). Mas para Platão<br />

o S. primário é mesmo possibilida<strong>de</strong>. Possibilida<strong>de</strong>s<br />

são também as relações reais entreos<br />

entes: estes não se mesclam nem <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong><br />

mesclar-se em absoluto, mas apresentam <strong>de</strong>terminadas<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relações. O mesmo<br />

que acontece com as letras do alfabeto e com<br />

os sons — alguns po<strong>de</strong>m misturar-se e outros<br />

não — acontece com todas as coisas: <strong>de</strong>sse<br />

modo, não é tarefa da <strong>filosofia</strong> enunciar a tese<br />

universal da necessida<strong>de</strong> ou da impossibilida<strong>de</strong><br />

da comunicação, mas estudar em particular<br />

quais são as coisas que po<strong>de</strong>m (È6é^.£iv) unirse<br />

entre si e quais as que não po<strong>de</strong>m {Ibid..<br />

252-53). Este conceito não dá ensejo a uma<br />

metafísica simetricamente oposta àquela que<br />

interpreta o S. como necessida<strong>de</strong>: não dá ensejo<br />

a nenhuma metafísica. E essa sua principal<br />

característica. De fato, se é possibilida<strong>de</strong>, o S.<br />

não tem <strong>de</strong>terminações unívocas necessitantes:<br />

não é necessário que ele seja um, e não muito.s;<br />

imutável, e não mutável; imóvel, e não em<br />

movimento; eterno, e não temporal, etc. De<br />

duas <strong>de</strong>terminações opostas e contraditórias,<br />

não é necessário que uma lhe pertença e a<br />

outra não: ambas po<strong>de</strong>m pertencer-lhe em <strong>de</strong>terminadas<br />

mas diferentes condições. Portanto,<br />

não é possível enumerar <strong>de</strong>finitivamente as<br />

<strong>de</strong>terminações unívocas do ser. Platão chegara<br />

a essa conclusão em Parmêni<strong>de</strong>s; neste diálogo<br />

mostra-se que o S. não é um ou muitos, mas<br />

um e muitos ao mesmo tempo, no sentido <strong>de</strong><br />

que tanto po<strong>de</strong> ser um quanto muitos (144 e),<br />

e que o mesmo vale para as outras suas <strong>de</strong>terminações<br />

eventuais. A <strong>de</strong>sconcertante conclusão<br />

<strong>de</strong>ste diálogo é que "o uno, sendo ou não<br />

sendo, ele e as outras coisas, em relação a ele<br />

e t;ntre si, todas, em tudo, são e não são. aparecem<br />

e não aparecem" (166 c): palavras que<br />

reconhecem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminações<br />

opostas do S. e excluem que ele possa ser chamado<br />

<strong>de</strong> "um" ou "muitos", ou mesmo simplesmente<br />

"S." em sentido único e absoluto. Deste<br />

ponto <strong>de</strong> vista, uma metafísica que seja o<br />

inventário sistemático das <strong>de</strong>terminações unívocas<br />

e absolutas do S. é manifestamente sem<br />

sentido. Portanto, não se <strong>de</strong>ve esperar que essa<br />

concepção dê formulações sistemáticas, análogas<br />

ou correspon<strong>de</strong>ntes à <strong>filosofia</strong> primeira <strong>de</strong><br />

Aristóteles, à metafísica clássica. Ao contrário,<br />

po<strong>de</strong>mos dizer que essa concepção ten<strong>de</strong> a<br />

evi<strong>de</strong>nciar-se sempre que a <strong>de</strong>terminação das<br />

características universais e necessárias do S.<br />

ce<strong>de</strong> lugar ã investigação empírica: esta última<br />

é busca <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>, não <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminações<br />

necessárias. Deste ponto <strong>de</strong> vista, po<strong>de</strong>se<br />

dizer que a tradição filosófica empirista ô<br />

her<strong>de</strong>ira e principal representante da concepção<br />

<strong>de</strong> S. cuja primeira formulação se encontra<br />

no Sofista <strong>de</strong> Platão. Uma possibilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />

ser <strong>de</strong>terminada unicamente com base na experiência,<br />

na observação dos fatos, nunca por<br />

meio puramente racional ou a priori. Atribuir

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