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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ESSÊNCIA 359 ESSÊNCIA<br />

"homem" não po<strong>de</strong> não possuir e que, por<br />

isso, é um caráter necessário do objeto <strong>de</strong>finido.<br />

Nesse último caso, a resposta à pergunta o<br />

quê? não enunciou simplesmente a E. da coisa,<br />

mas sua E. necessária ou sua substância, e<br />

po<strong>de</strong> ser assumida como sua <strong>de</strong>finição. Portanto,<br />

<strong>de</strong>ve-se distinguir: l s a E. <strong>de</strong> uma coisa, que<br />

é qualquer resposta que se possa dar à pergunta<br />

o quê? 2") a E. necessária ou substância, que é<br />

a resposta (à mesma pergunta) que enuncia o<br />

que a coisa não po<strong>de</strong> não ser e que é o porquê<br />

da coisa, como quando se diz que o homem é<br />

um animal racional, preten<strong>de</strong>ndo-se dizer que<br />

o homem é homem porque é racional.<br />

Os fundamentos que expusemos foram<br />

estabelecidos pela primeira vez por Aristóteles,<br />

que é o fundador da teoria da E., assim como<br />

é fundador da teoria da substância. É verda<strong>de</strong><br />

que Aristóteles encontrava os prece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>ssa<br />

teoria em Platão, que por sua vez a atribuía a<br />

Sócrates. "Enquanto eu te pedia que me <strong>de</strong>finisses<br />

a virtu<strong>de</strong> inteira", censura Sócrates a<br />

Mênon, "tu evitas dizer-me o queela é e afirmas<br />

que toda ação é virtu<strong>de</strong>, se realizada com uma<br />

parte <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>, como se tu já houvesses dito o<br />

que é a virtu<strong>de</strong> na sua inteireza e eu <strong>de</strong>vesse<br />

reconhecê-la mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> a reduzires a<br />

cacos" (Men., 79 b). Nessas palavras, exigir que<br />

Mênon diga o que é a virtu<strong>de</strong> em sua inteireza<br />

é exigir que ele enuncie a E. necessária, ou o<br />

que a virtu<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> não ser em qualquer<br />

circunstância. É a isso, exatamente, que Aristóteles<br />

dará o nome <strong>de</strong> substância. Mas nem toda<br />

E., ou seja, nem toda resposta à pergunta o<br />

quê?é uma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>sse tipo. Diz Aristóteles:<br />

"Quem indica a E. ora indica a substância,<br />

ora uma qualida<strong>de</strong>, ora uma <strong>de</strong> outras categorias.<br />

Quando, referindo-se a um homem, se<br />

diz que ele é um homem ou um animal, enten<strong>de</strong>-se<br />

sua E. como substância. Mas quando, referindo-se<br />

à cor branca, diz-se que é branca ou<br />

é uma cor, enten<strong>de</strong>-se a E. como qualida<strong>de</strong>.<br />

Igualmente, quando se faz referência à gran<strong>de</strong>za<br />

<strong>de</strong> um côvado, afirmando que ela é a gran<strong>de</strong>za<br />

<strong>de</strong> um côvado, enten<strong>de</strong>-se que sua E. é quantida<strong>de</strong>.<br />

O mesmo se diga nos outros casos"<br />

(Jop., I, 9, 103 b 27). Em outro trecho, Aristóteles<br />

contrapõe nitidamente a E. substancial à<br />

E.: "O enunciado sempre se refere a alguma<br />

coisa, assim como a afirmação, e é sempre verda<strong>de</strong>iro<br />

ou falso; mas o intelecto não é assim,<br />

sendo verda<strong>de</strong>iro quando enuncia a E. segundo<br />

a E. substancial, e não verda<strong>de</strong>iro quando<br />

a enuncia relativamente a alguma coisa"<br />

(De an., III, 6, 430 b 26). Com isso, ele não<br />

põe no mesmo plano todas as respostas que<br />

po<strong>de</strong>m ser dadas à pergunta "o quê?" Se à pergunta<br />

"O que és?" um homem responcie "músico",<br />

sua resposta não exprime realmente o que<br />

ele é por si mesmo, sempre e necessariamente,<br />

ou seja, na sua substância. De fato, ele po<strong>de</strong>ria<br />

muitíssimo bem não ser músico, e, havendo<br />

começado a sê-lo, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> sê-lo. Mas,<br />

se respon<strong>de</strong>r que é "um animal racional", então<br />

estará expressando o que não po<strong>de</strong> não ser ou<br />

o que é necessariamente como homem. Exprime,<br />

portanto, o que Aristóteles chama <strong>de</strong> to ti<br />

en einai(quodqui<strong>de</strong>ratesse), que é a substância<br />

consi<strong>de</strong>rada à parte <strong>de</strong> seu aspecto material<br />

(Mel, VII, 7, 1032 b 14). Esta segunda resposta<br />

é a única que po<strong>de</strong> valer como <strong>de</strong>finição<br />

da E. do homem, ao passo que todas as outras<br />

possíveis <strong>de</strong>terminações <strong>de</strong> E. não valem como<br />

<strong>de</strong>finição porque não dizem o que o homem é<br />

<strong>de</strong> per si ou necessariamente (Ibid., VII, 4,1029<br />

b 13). Também por isso só a E. necessária ou<br />

substância é o verda<strong>de</strong>iro objeto do saber ou<br />

da ciência. Sobre estes fundamentos Aristóteles<br />

assenta a estrutura necessária da realida<strong>de</strong>,<br />

que é o objeto específico da teoria da substância<br />

(v.).<br />

As consi<strong>de</strong>rações prece<strong>de</strong>ntes mostram que<br />

a teoria da E., embora diferente da teoria da<br />

substância, po<strong>de</strong> conduzir a ela e ser consi<strong>de</strong>rada<br />

uma propedêutica <strong>de</strong>la. Portanto, não é <strong>de</strong><br />

estranhar que, na evolução histórica do termo,<br />

seu significado muitas vezes tenha sido idêntico<br />

ao <strong>de</strong> E. substancial ou substância. Mesmo a<br />

linguagem comum, na qual freqüentemente se<br />

sedimenta o significado filosófico <strong>de</strong> uma longa<br />

tradição, emprega esse termo quase exclusivamente<br />

no sentido <strong>de</strong> E. necessária. Deveremos<br />

então ter em mente a distinção entre os<br />

dois significados já enunciados, que Aristóteles<br />

ilustrou perfeitamente: l s a E. como resposta à<br />

pergunta "o quê?"; 2° a E. como substância.<br />

l s O significado geral e fundamental <strong>de</strong>sse<br />

termo po<strong>de</strong> ser admitido também por filósofos<br />

que não compartilham a teoria da substância.<br />

Mas os estóicos, que não admitiram a teoria da<br />

substância, evitaram (ao que saibamos) o termo<br />

"essência". Para eles, a <strong>de</strong>finição não manifesta<br />

a E. <strong>de</strong> uma coisa, mas foi <strong>de</strong>finida (por<br />

Crisipo) como "resposta" (apódosis). Com isso,<br />

<strong>de</strong>ram a enten<strong>de</strong>r que qualquer resposta à pergunta<br />

"o quê?" po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong>finição<br />

da coisa sobre a qual se faz a pergunta. Com<br />

efeito, diziam que a <strong>de</strong>scrição "é um discurso

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