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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CONTRADIÇÃO, PRINCÍPIO DE 204 CONTRADIÇÃO, PRINCÍPIO DE<br />

sua forma positiva quanto na negativa, pelo<br />

princípio <strong>de</strong> C: o que não causa espanto, dado<br />

que para Aristóteles a estrutura silogística reproduz<br />

a estrutura substancial do ser (v. SILO-<br />

GISMO).<br />

Na forma dada por Aristóteles, esse princípio<br />

permaneceu muito tempo como fundamento<br />

da metafísica clássica. As discussões do<br />

séc. XIII sobre o modo <strong>de</strong> expressá-lo com<br />

mais simplicida<strong>de</strong> e economia redundaram na<br />

formulação daquilo que <strong>de</strong>pois se chamou<br />

<strong>de</strong> princípio <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> (v.), mas não abalaram<br />

a supremacia do princípio <strong>de</strong> C. Descartes<br />

(Princ.phil, I, 49) e Locke (Ensaio, I, 1, 4)<br />

ainda o admitiam como verda<strong>de</strong> indubitável,<br />

mas já ignoravam completamente seu valor<br />

ontológico, que, para Aristóteles, era primordial.<br />

Mas foi Leibniz quem levou o princípio <strong>de</strong><br />

C. <strong>de</strong> uma vez por todas para a esfera da lógica:<br />

consi<strong>de</strong>rou-o exclusivamente fundamento<br />

das verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> razão, enquanto dizia que as<br />

verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fato baseavam-se no princípio <strong>de</strong><br />

razão suficiente (Monad., §§ 11-32). Segundo<br />

Leibniz, esses dois princípios constituíam a<br />

base <strong>de</strong> todas as verda<strong>de</strong>s e, portanto, <strong>de</strong> todo<br />

o edifício do conhecimento humano (Nouv.<br />

ess., IV, 2,1). Wolff ainda incluía o princípio <strong>de</strong><br />

C. na ontologia, mas consi<strong>de</strong>rava-o como um<br />

princípio natural da mente humana (Ont, § 27).<br />

E Baumgarten encontrava a sua fórmula clássica:<br />

A + não-A = 0, chamando-o <strong>de</strong> princípio<br />

absolutamente primeiro e colocando-o à frente<br />

<strong>de</strong> sua ontologia (Met., § 7). Kant preferia exprimi-lo<br />

num <strong>de</strong> seus primeiros textos com fórmula:<br />

"Aquilo cujo oposto é falso é verda<strong>de</strong>iro"<br />

(Principiorum Primorum Cognitionis Metaphysicae<br />

Nova Dilucidatio, 1755,1, prop. II, scol.).<br />

Mais tar<strong>de</strong>, em Crítica da Razão Pura, dizia: "A<br />

coisa nenhuma convém um predicado que a<br />

contradiga" e consi<strong>de</strong>rava-o "princípio geral<br />

plenamente suficiente <strong>de</strong> todo conhecimento<br />

analítico", eliminando <strong>de</strong>le, porém, a <strong>de</strong>terminação<br />

temporal contida na expressão aristotélica;<br />

porque, dizia ele, "enquanto princípio<br />

simplesmente lógico, não <strong>de</strong>ve limitar suas<br />

expressões às relações <strong>de</strong> tempo" (Crít. R.<br />

Pura, Analítica dos Princípios, cap. II, séc. I).<br />

Esse era substancialmente o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong><br />

Leibniz. Depois <strong>de</strong> Kant, o princípio <strong>de</strong> C. foi<br />

consi<strong>de</strong>rado uma das "leis fundamentais do<br />

pensamento" (KRUG, Logik, 1832, p. 45; FRIES,<br />

System <strong>de</strong>r Logik, 1837, p. 121; HAMILTON, Lectures<br />

on Logic, I, p. 72), qualificação honrosa<br />

que distinguiu durante muito tempo os princípios<br />

lógicos e que às vezes ainda é empregada.<br />

Um retorno ao uso metafísico do princípio<br />

<strong>de</strong> C. ocorreu com Fichte e com Hegel. Tratava-se<br />

então da metafísica subjetivista do i<strong>de</strong>alis-mo,<br />

para a qual nada existe fora da autoconsciência<br />

racional. Fichte chamava o princípio <strong>de</strong><br />

C. "princípio da oposição", expressando-o com<br />

a fórmula "- A não = A" (que se lê "não - A<br />

não igual a A"), que julgava exprimir o ato pelo<br />

qual o Eu opõe a si mesmo um nâo-Eu, isto é,<br />

uma realida<strong>de</strong> ou uma coisa (Wissenschaftslehre,<br />

1794, § 2). Hegel consi<strong>de</strong>rava o princípio<br />

<strong>de</strong> C, e o <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, como "a lei do intelecto<br />

abstrato" (Ene, § 115). E contrapunha-lhe a<br />

lei da "razão especulativa", que seria: "Todas as<br />

coisas se contradizem em si mesmas". Essa lei<br />

seria a raiz <strong>de</strong> qualquer movimento e da vida,<br />

servindo <strong>de</strong> fundamento para a dialética (Wissenschaft<br />

<strong>de</strong>r Logik, ed. Glockner, I, pp. 545-<br />

46). Por outro lado a dialética (v.) é a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

dos opostos, <strong>de</strong> tal modo que a C,<br />

conquanto seja a raiz da dialética (do movimento<br />

e da vida), não é a dialética, que, aliás,<br />

proce<strong>de</strong> continuamente, conciliando e resolvendo<br />

as C. e estabelecendo para além <strong>de</strong>las o<br />

que o próprio Hegel chama <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ou<br />

unida<strong>de</strong> (d. Wissenschqft <strong>de</strong>r Logik, I, p. 100).<br />

No mesmo sentido, Gentile falava do princípio<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como da "lei fundamental do<br />

pensamento" no campo da "lógica do abstrato"<br />

(Sistema di lógica, 1922, II, 1, § 6), ao mesmo<br />

tempo em que falava da unida<strong>de</strong> do Espírito<br />

consigo mesmo e com a realida<strong>de</strong>. Essas e<br />

outras críticas semelhantes ao princípio <strong>de</strong> C.<br />

(assim como aos outros princípios lógicos) são<br />

inconclu<strong>de</strong>ntes. Por um lado, visam a um uso<br />

muito mais dogmático e metafísico <strong>de</strong>sses princípios,<br />

pois ten<strong>de</strong>m a utilizá-los para explicar<br />

"o movimento e a vida" da realida<strong>de</strong> inteira.<br />

Por outro, o algo das críticas são moinhos <strong>de</strong><br />

vento, pois, quando Leibniz e Kant afirmavam<br />

que o princípio <strong>de</strong> C. é o fundamento das verda<strong>de</strong>s<br />

idênticas ou analíticas, não pretendiam<br />

dizer que ele é o fundamento <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s do<br />

tipo "um planeta é um planeta", "o magnetismo<br />

é o magnetismo", "o espírito é o espírito",<br />

como julgava Hegel (Ene, § 115), mas aludiam<br />

às verda<strong>de</strong>s matemáticas e lógicas redutíveis<br />

a tautologias.<br />

No entanto, coube à lógica matemática mo<strong>de</strong>rna<br />

renunciar a consi<strong>de</strong>rar os princípios lógicos<br />

como princípios da lógica ou mesmo como<br />

"leis fundamentais do pensamento". Já na obra

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