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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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FORÇA 467 FORÇA<br />

mecânica e substituído pelas simples <strong>de</strong>terminações<br />

da medida da aceleração (Examen philosophique<br />

<strong>de</strong> lapreuve <strong>de</strong> 1'existence <strong>de</strong> Dieu,<br />

1756, II, §§ 23, 26). Kant não fez mais que expressar<br />

o mesmo conceito ao dizer que "F.<br />

nada mais é que a relação entre a substância A<br />

e qualquer outra coisa B" e que tal relação só<br />

po<strong>de</strong> ser dada pela experiência (De mundi<br />

sensibilis et inteligibilis forma et principiis,<br />

§ 28), ou que a F. não é mais que "a causalida<strong>de</strong><br />

da substância", ou seja, "a relação do sujeito<br />

da causalida<strong>de</strong> com o efeito" (Crít. R. Pura,<br />

Anal. dos Princípios, cap. II, seç. III, Segunda<br />

analogia da experiência). Deste ponto <strong>de</strong> vista,<br />

a interpretação da F. como agente causai<br />

misterioso e inacessível, tal como se encontra,<br />

p. ex., em Spencer (First Principies, § 26), é<br />

alijada <strong>de</strong> ciência.<br />

Contudo, com os significados atribuídos por<br />

Galilei ou Newton, a noção <strong>de</strong> F. também não<br />

predominou por muito tempo na ciência. Leibniz<br />

já <strong>de</strong>scobrira e esclarecera o conceito <strong>de</strong> F.<br />

viva, que é o produto da massa pelo quadrado<br />

da velocida<strong>de</strong>, conceito que constitui o ponto<br />

<strong>de</strong> partida para a mo<strong>de</strong>rna noção <strong>de</strong> energia<br />

(Mathematische Schriften, ed. Gerhardt, VI, pp.<br />

218 ss.). Sua doutrina acerca da superiorida<strong>de</strong><br />

da F. sobre a matéria, que serve <strong>de</strong> termo<br />

médio para a resolução da matéria em energia<br />

espiritual (V. adiante), baseia-se precisamente<br />

nesse conceito <strong>de</strong> energia. Porém, no século seguinte,<br />

a <strong>de</strong>scoberta da conservação da energia<br />

(1842) por Robert Mayer e a obra <strong>de</strong> Helmholtz<br />

e <strong>de</strong> Hertz conduziram à formulação daquilo<br />

que se chamou energismo da mecânica (cf.<br />

POINCARÉ, La science et Vhypothèse, p. 148). O<br />

energismo nega que a F. seja a "causa" do movimento<br />

e que, portanto, esteja presente antes<br />

do movimento, e consi<strong>de</strong>ra a idéia <strong>de</strong> energia<br />

anterior à <strong>de</strong> F. Esta última é introduzida<br />

através <strong>de</strong> simples <strong>de</strong>finição e suas proprieda<strong>de</strong>s<br />

são <strong>de</strong>duzidas a partir da <strong>de</strong>finição e das<br />

leis fundamentais. Portanto, no energismo a<br />

idéia <strong>de</strong> F. já não implica dificulda<strong>de</strong> alguma: é<br />

um simples conceito convencional. Na mesma<br />

linha encontram-se os Princípios <strong>de</strong> mecânica<br />

(1894) <strong>de</strong> Hertz, que só consi<strong>de</strong>ram como fundamentais<br />

as idéias <strong>de</strong> tempo, espaço e massa,<br />

consi<strong>de</strong>rando <strong>de</strong>rivadas as idéias <strong>de</strong> F. e <strong>de</strong><br />

energia. Contudo, o conceito <strong>de</strong> energia continuava<br />

sendo importante em física, sobretudo<br />

com referência ao conceito <strong>de</strong> campo (v.), enquanto<br />

o conceito <strong>de</strong> F. continuava sendo o<br />

mesmo <strong>de</strong>monstrado pelo energismo: um no-<br />

me para <strong>de</strong>finir certas relações entre algumas<br />

gran<strong>de</strong>zas físicas. A este propósito Russell disse:<br />

"Supõe-se que a F. seja causa da aceleração...<br />

Mas a aceleração é uma simples ficção<br />

matemática, um número, não um fato físico...<br />

Portanto, se a F. é causa, é causa <strong>de</strong> um efeito<br />

que não se produz" (Principies ofMathematics,<br />

1903, p. 474)<br />

2 S As interpretações filosóficas do conceito<br />

<strong>de</strong> F. seguem à distância e com pouca fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong><br />

o <strong>de</strong>senvolvimento científico do seu conceito.<br />

Todas elas obe<strong>de</strong>cem a um esquema uniforme<br />

e consistem em integrar a noção <strong>de</strong> F. na<br />

experiência humana. Esta redução po<strong>de</strong> ter duplo<br />

significado. Po<strong>de</strong>.- d) ser entendida como<br />

justificação da noção e transformá-la em conceito<br />

metafísico; ti) ser entendida como crítica à<br />

noção e mostrar, com o caráter antropomórfico,<br />

a falta <strong>de</strong> fundamento. Leibniz é o iniciador das<br />

tentativas no primeiro sentido e Locke, no segundo<br />

sentido.<br />

d) Em Système nouveau <strong>de</strong> Ia nature(l695)<br />

Leibniz narra que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se libertar do jugo<br />

<strong>de</strong> Aristóteles, acreditara no vácuo e nos átomos,<br />

mas que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muitas meditações,<br />

concluíra que as unida<strong>de</strong>s últimas não po<strong>de</strong>m<br />

ser materiais e que, portanto, não po<strong>de</strong>m ser<br />

átomos <strong>de</strong> matéria, mas <strong>de</strong> espírito. E acrescenta:<br />

"Era necessário, portanto, reabilitar as formas<br />

substanciais tão <strong>de</strong>sacreditadas hoje em dia,<br />

mas <strong>de</strong> tal maneira que fossem inteligíveis e<br />

permitissem uma separação entre o uso que<br />

<strong>de</strong>las se <strong>de</strong>ve fazer e o abuso que <strong>de</strong>las se tem<br />

feito. Descobri, então, que a natureza <strong>de</strong>las<br />

consiste na F. e que disto resulta algo análogo à<br />

consciência e ao apetite, sendo, assim, necessário<br />

concebê-las à imitação da noção que temos<br />

das almas" (Systeme, etc, § 3). Isto mostra as<br />

bases do primado que Leibniz sempre conce<strong>de</strong>u<br />

à noção <strong>de</strong> F. em suas interpretações físicas<br />

e metafísicas: a F. é algo análogo à consciência<br />

(sentiment) e ao apetite, ou seja, a<br />

experiências internas do homem. É certo que<br />

Leibniz enten<strong>de</strong>u por F. a vis activa que, como<br />

se disse, é energia. Mas isso não faz diferença<br />

do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> sua metafísica, que é uma<br />

metafísica da F. espiritual (cf. Nouv. ess., II, 21,<br />

§ 1). Esta doutrina torna-se arquétipo <strong>de</strong> toda a<br />

corrente filosófica cujo segundo fundador foi<br />

Maine <strong>de</strong> Biran, no início do séc. XIX. Este<br />

consi<strong>de</strong>ra a percepção interna e imediata, vale<br />

dizer, a consciência que o eu tem <strong>de</strong> si, como<br />

F. volitiva e ativa, como revelação do mesmo<br />

caráter originário da realida<strong>de</strong>, que, por isso

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