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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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INDUÇÃO 560 INDUÇÃO<br />

argumento, que é aceito por muitos (cf., p. ex.,<br />

REICHENBACH, op. cit., p. 475), Black observa<br />

que, se a I. é o único meio <strong>de</strong> obter previsões,<br />

o sucesso <strong>de</strong>ssas mesmas previsões não a<br />

confirma, assim como o seu insucesso não a<br />

refuta (Problems ofAnalysis, 1954, pp. 174 ss.).<br />

E Black observa que esse argumento, assim<br />

como o outro análogo, <strong>de</strong> que a I. é o único<br />

método para verificar os outros métodos <strong>de</strong><br />

previsão, tem a pretensão <strong>de</strong> justificar <strong>de</strong>dutivamente<br />

a I., <strong>de</strong> justificá-la com base em argumentos<br />

que, como seus próprios proponentes<br />

reconhecem (REICHENBACH, op. cit., p. 479; J.<br />

O. WISDOM, Foundcitions oflnference in Natural<br />

Science, 1953, p. 229), têm caráter analítico<br />

ou tautológico. Os argumentos genuinamente<br />

práticos — observa ainda Black — não são<br />

<strong>de</strong>dutivos. Na vida quotidiana, numa situação<br />

cjue exige <strong>de</strong>cisão, os indícios indicam com<br />

certo grau <strong>de</strong> segurança a ação que será mais<br />

a<strong>de</strong>quada, mas ela não é <strong>de</strong>dutível daquela<br />

indicação e tampouco a conduta contrária implica<br />

contradição {Problems of Analysis, p.<br />

185). Portanto, esse tipo <strong>de</strong> argumentação não<br />

tem valor como justificativa do procedimento<br />

indutivo.<br />

b) O segundo argumento fundamental para<br />

a justificação prática da I. é sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

autocorreçâo. Peirce foi o primeiro a falar nesse<br />

caráter, discernindo nele a própria essência<br />

da I. (Coll. Pap., 2729). E Reichenbach disse:<br />

"O procedimento indutivo tem o caráter <strong>de</strong> um<br />

método <strong>de</strong> tentativa e erro projetado <strong>de</strong> tal<br />

forma que, nas séries que tenham um limite <strong>de</strong><br />

freqüências, ele leva automaticamente ao sucesso<br />

num número finito <strong>de</strong> etapas. Po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>nominado um método autocorretivo ou<br />

assintótico" (Op. cit., p. 446, § 87; cf. KNEALE,<br />

op. cit., p. 235). Contra esse argumento Black<br />

observou que o termo autocorretivo não é exato,<br />

visto ser verda<strong>de</strong>iro que a I. inclui a possibilida<strong>de</strong><br />

constante <strong>de</strong> revisão, mas, para dizer<br />

que as revisões são correções, seria necessário<br />

que elas fossem progressivas, ou seja, dirigidas<br />

para uma única direção e na direção apropriada.<br />

Mas é exatamente essa segurança que falta<br />

(Problems of Analysis, p. 170). Po<strong>de</strong>-se admitir,<br />

com Black, que nem esse argumento é<br />

realmente uma "justificação" da I. no sentido<br />

universal ou <strong>de</strong>dutivo da palavra "justificação",<br />

mas que a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autocorreçâo é caráter<br />

do procedimento indutivo, assim como <strong>de</strong> todo<br />

procedimento científico, é coisa que não se<br />

po<strong>de</strong> pôr em dúvida; a<strong>de</strong>mais, é o caráter a<br />

que o próprio Black recorre para caracterizar o<br />

método científico (Op. cit., p. 23). A revisão,<br />

que a I. possibilita e à qual, aliás, todo o seu<br />

procedimento está intrinsecamente subordinado,<br />

é correção no sentido preciso do termo,<br />

ou seja, eliminação dos erros revelados<br />

pelo próprio procedimento. Uma modificação<br />

que não fosse revisão ou correção nesse sentido<br />

não seria exigida e realizada pela indução.<br />

Com tudo isso, o estado atual do problema<br />

da I. parece bem expresso pela conclusão <strong>de</strong><br />

Black, <strong>de</strong> que não só é impossível justificar a I.,<br />

mas também que seu problema carece <strong>de</strong> sentido,<br />

se por justificação se enten<strong>de</strong> a <strong>de</strong>monstração<br />

da valida<strong>de</strong> infalível do procedimento<br />

indutivo. "Insistir em que <strong>de</strong>ve haver uma conclusão<br />

seria como dizer que, se um bom jogador<br />

<strong>de</strong> xadrez conhece os movimentos a serem<br />

feitos numa partida <strong>de</strong> xadrez, ele também<br />

<strong>de</strong>ve ser capaz <strong>de</strong> conhecer os movimentos a<br />

serem feitos num tabuleiro com uma só peça.<br />

Mas este não é um problema <strong>de</strong> xadrez e nada<br />

há que o jogador <strong>de</strong> xadrez possa resolver. O<br />

problema daquilo que <strong>de</strong>vemos inferir quando<br />

sabemos apenas que alguns A são B não é um<br />

problema indutivo genuíno, e não há modo <strong>de</strong><br />

resolvê-lo a não ser reconhecendo que seria<br />

inoportuno tentá-lo" (Op. cit., pp. 188-89; cf.<br />

Language and Philosophy, 1952, cap. II). Em<br />

outros termos, o problema da I. em geral, assim<br />

como o problema <strong>de</strong> inferir o futuro do<br />

passado ou os casos não observados dos casos<br />

observados, não têm sentido por falta <strong>de</strong> dados,<br />

Se esses dados forem fornecidos, não<br />

haverá mais problema <strong>de</strong> I., mas problemas<br />

pertencentes aos domínios <strong>de</strong> cada ciência.<br />

Deve-se acrescentar, todavia, que a eliminação<br />

do problema da I. em sua forma clássica não<br />

exime o filósofo <strong>de</strong> analisar os procedimentos<br />

indutivos empregados por cada ciência, <strong>de</strong><br />

confrontar tais procedimentos e <strong>de</strong> fazer as<br />

generalizações que possam surgir <strong>de</strong>sse confronto.<br />

Está claro, porém, que essa or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

investigação, não empreendida até hoje, nunca<br />

levará à justificação cia indução, que, se fosse<br />

alcançada, teria como efeito imediato a eliminação<br />

<strong>de</strong> todos os riscos dos procedimentos indutivos<br />

e a redução <strong>de</strong>stes procedimentos à<br />

certeza e à necessida<strong>de</strong> dos procedimentos <strong>de</strong>dutivos.<br />

Na realida<strong>de</strong>, os procedimentos científicos<br />

e, em geral, os comportamentos e as diretrizes<br />

racionaisáo homem consistem em limitar<br />

o risco, em torná-lo calculável, não em eliminálo.<br />

Portanto, os problemas filosóficos não po-<br />

L

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