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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EXPERIÊNCIA 408 EXPERIÊNCIA<br />

escritores medievais, em geral, o repetem (S.<br />

TOMÁS, S. Th., I, q. 54, a. 5; II, I, q. 40, a. 5,<br />

etc); como o repetem Spinoza (Et., II, 40,<br />

scol. 2) e Leibniz (Théod., Disc, § 65; Monad.,<br />

§§ 28-29).<br />

2- O recurso à E. como critério ou cânone<br />

da valida<strong>de</strong> do conhecimento é característico<br />

do empirismo, distinguindo-o do sensacionísmo<br />

(v.). Este consiste simplesmente em asserir<br />

a natureza intuitiva, portanto privilegiada, do<br />

conhecimento sensível, mas sem que tal conhecimento<br />

se constitua em guia e controle do<br />

conhecimento em geral. Os estóicos, p. ex., foram<br />

sensacionistas, mas não empiristas; os<br />

epicuristas, que, ao contrário, elaboraram e<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram uma teoria da indução, foram<br />

também empiristas. No âmbito <strong>de</strong>sse significado<br />

da palavra, é possível distinguir duas interpretações<br />

fundamentais, quais sejam: a) teoria<br />

da E. como intuição; b) teoria da E. como<br />

método.<br />

a) A teoria da E. como intuição consi<strong>de</strong>ra a<br />

E. como o relacionar-se imediato com o objeto<br />

individual, usando como mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> E. o sentido<br />

da visão. Desse ponto <strong>de</strong> vista um objeto<br />

"conhecido por E." é um objeto presente em<br />

pessoa e na sua individualida<strong>de</strong>. A tese fundamental<br />

<strong>de</strong>ssa concepção é a seguinte: existem<br />

unida<strong>de</strong>s empíricas elementares. A concepção<br />

leva a admitir que existem dados elementares<br />

originários aos quais é confiada em última análise<br />

a função <strong>de</strong> verificação do conhecimento.<br />

Por sua vez, a existência das unida<strong>de</strong>s empíricas<br />

elementares permite estabelecer uma<br />

classe privilegiada <strong>de</strong> proposições, que são as<br />

que exprimem diretamente essas unida<strong>de</strong>s.<br />

O recurso à E., quando formulado pela primeira<br />

vez no plano filosófico, no séc. XIII, foi<br />

um recurso à intuição. "Sem a E.", dizia Roger<br />

Bacon, "nada se po<strong>de</strong> conhecer suficientemente.<br />

Os modos <strong>de</strong> conhecer são dois: a argumentação<br />

(argumentum) e a experiência. A<br />

<strong>de</strong>monstração conclui e nos faz concluir a<br />

questão, mas não dá certezas e não remove a<br />

dúvida, já que a alma não se aquieta na intuição<br />

da verda<strong>de</strong> se não a encontrar por via da<br />

E." (Opus maius, VI, 1). Essas palavras <strong>de</strong><br />

Bacon já incluem o recurso à E. como averiguação<br />

e norma da verda<strong>de</strong> humana. Mas também<br />

incluem o conceito intuitivo da experiência. É<br />

verda<strong>de</strong> que, para Bacon, a intuição não é somente<br />

sensível: ao lado da E. sensível, que é<br />

fonte ou critério das verda<strong>de</strong>s naturais, Bacon<br />

admite uma E. "interna" ou sobrenatural, <strong>de</strong>vi-<br />

da à iluminação divina e que é a fonte das virtu<strong>de</strong>s<br />

sobrenaturais. Mas o caráter intuitivo da<br />

E. permaneceria mesmo <strong>de</strong>pois que a E. sobrenatural<br />

foi posta <strong>de</strong> lado pelo <strong>de</strong>senvolvimento<br />

ulterior do empirismo. Segundo Ockham,<br />

a E., que é "o princípio da arte e da<br />

ciência", é o conhecimento intuitivo perfeito,<br />

que tem por objeto as coisas presentes, diferenciando-se<br />

por isso do imperfeito, que tem<br />

por objeto as coisas passadas (In Sent., II, q. 15,<br />

H; Prol, q. 1, Z). Intuitivo é o conhecimento<br />

"em virtu<strong>de</strong> do qual se po<strong>de</strong> saber se uma coisa<br />

existe ou não. Se existe, imediatamente o intelecto<br />

julga que existe. Além disso, intuitivo é o<br />

conhecimento mediante o qual se sabe que<br />

uma coisa inere em outra, que um lugar dista<br />

<strong>de</strong> outro, que uma coisa tem certa relação com<br />

a outra ou, em geral, uma verda<strong>de</strong> contingente<br />

qualquer, especialmente a respeito do que está<br />

presente" (Ibíd., Prol., q. 1, Z). Ockham consi<strong>de</strong>ra<br />

que se po<strong>de</strong> ter conhecimento intuitivo<br />

não só das coisas exteriores, mas também dos<br />

estados internos do homem, como as 'intelecções,<br />

as volições, a alegria, a tristeza e semelhantes,<br />

<strong>de</strong> que o homem po<strong>de</strong> ter E. em si<br />

mesmo, mas que não são sensíveis para nós"<br />

(Ibid., Prol. q. 1, HH). Essa segunda espécie <strong>de</strong><br />

conhecimento intuitivo correspon<strong>de</strong> exatamente<br />

à reflexão <strong>de</strong> Locke. No espírito do ockhamismo,<br />

Jean Buridan <strong>de</strong>clarava imperfeita a<br />

arte "doutrinai", ou seja, a que <strong>de</strong>spreza a E.;<br />

essa arte, notava ele, não conhece o significado<br />

dos seus princípios, nem das suas conclusões,<br />

sendo perfeita apenas a arte que conhece pela<br />

E. tanto os princípios, que a arte doutrinai se limita<br />

a pressupor, quanto as conclusões particulares<br />

a que eles conduzem (In Met., I, q. 8). A<br />

limitação da E. à intuição sensível foi reforçada,<br />

a partir do Renascimento, pelo anti-racionalisrao.<br />

Como as verda<strong>de</strong>s pretensamente válidas,<br />

sem verificação ou averiguação, eram atribuídas<br />

à "razão", a exigência <strong>de</strong> averiguação implícita<br />

no recurso à E. parecia só po<strong>de</strong>r voltar-se<br />

para a intuição sensível. Esta aparecia como<br />

fonte <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s ou <strong>de</strong> procedimentos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

da razão, logo capaz <strong>de</strong> exercer uma<br />

ação <strong>de</strong> freio ou limite sobre as pretensões da<br />

razão. A partir do séc. XVI, o recurso à E. passa<br />

a ter significado claro <strong>de</strong> limite ou negação<br />

das pretensões da razão. Telésio justificava o<br />

sensacionismo i<strong>de</strong>ntificando "o que a natureza<br />

revela" com "o que os sentidos testemunham"<br />

(De rer. nat., proêmio), argumentando que a<br />

natureza se revela à parte do homem que é na-

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