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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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DIALÉTICA 270 DIALÉTICA<br />

dispersas para uma idéia única e em <strong>de</strong>finir<br />

essa idéia <strong>de</strong> tal modo que possa ser comunicada<br />

a todos (Fed., 265 c). Em República,<br />

Platão diz que, ao remontar à idéia, a D. situase<br />

além das ciências particulares porque consi<strong>de</strong>ra<br />

as hipóteses das ciências (que sempre fazem<br />

referência ao múltiplo sensível) como<br />

simples ponto <strong>de</strong> partida para chegar aos princípios,<br />

dos quais <strong>de</strong>pois se po<strong>de</strong> chegar às conclusões<br />

últimas (Rep., VI, 511 b-c). Mas esse<br />

segundo procedimento que vai dos princípios<br />

(por meio das idéias) às conclusões últimas,<br />

nos diálogos posteriores, é analisado, explicitamente,<br />

como o método da divisão, b) O procedimento<br />

da divisão consiste "em po<strong>de</strong>r dividir<br />

<strong>de</strong> novo a idéia em suas espécies, seguindo<br />

suas interações naturais e evitando fragmentar<br />

suas partes como faria um trinchador canhestro"<br />

(Fed., 265 d). Nesse aspecto é próprio da<br />

D. "dividir segundo gêneros e não assumir como<br />

diferente a mesma forma, ou como idêntica<br />

uma forma diferente" (Sof, 253 d). Num trecho<br />

famoso <strong>de</strong> O Sofista, Platão enumera as três<br />

alternativas fundamentais que o procedimento<br />

D. po<strong>de</strong> <strong>de</strong>parar: l e que uma única idéia permeie<br />

e abarque muitas outras, que no entanto<br />

permanecem separadas <strong>de</strong>la e exteriores umas<br />

às outras; 2- que uma única idéia reduza à unida<strong>de</strong><br />

muitas outras idéias, na sua totalida<strong>de</strong>; 3 e<br />

que muitas idéias permaneçam inteiramente<br />

distintas entre si (Sof., 253 d). Essas três alternativas<br />

apresentam dois casos extremos, o da<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitas idéias em uma <strong>de</strong>las e o <strong>de</strong><br />

sua heterogeneida<strong>de</strong> radical, e um caso intermediário,<br />

em que uma idéia que abrange outras<br />

sem fundi-las numa unida<strong>de</strong>.<br />

A D. consiste em reconhecer, nas situações<br />

que se apresentam, qual <strong>de</strong>ssas possibilida<strong>de</strong>s<br />

é a apropriada em proce<strong>de</strong>r coerentemente. Se<br />

observarmos o modo como Platão aplicou o<br />

procedimento em Pedro, O Sofista e O Político,<br />

chegaremos a outros esclarecimentos. Uma vez<br />

<strong>de</strong>finida a idéia, Platão divi<strong>de</strong>-a em duas partes<br />

que chama, respectivamente, <strong>de</strong> lado esquerdo<br />

e lado direito, caracterizadas pela presença<br />

e pela ausência <strong>de</strong> certo caráter; <strong>de</strong>pois, divi<strong>de</strong><br />

o lado direito da divisão, em duas outras partes,<br />

que também serão chamadas <strong>de</strong> esquerda e<br />

direita, utilizando um novo caráter; e assim por<br />

diante (Fed., 266 a-b). Esse procedimento<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ter-se em certo ponto ou ser retomado<br />

a partir <strong>de</strong> outra idéia. Enfim, será possível reunir<br />

ou recapitular as <strong>de</strong>terminações assim obtidas<br />

do princípio ao fim (Sof, 268 c). Esse é o<br />

procedimento que Platão utiliza em Pedro para<br />

<strong>de</strong>finir o amor como "mania", dividindo <strong>de</strong>pois<br />

a mania em má (esquerda) e boa (direita) e<br />

procurando ainda as <strong>de</strong>terminações da boa mania.<br />

Em O Sofista, esse mesmo procedimento<br />

serve para <strong>de</strong>finir a figura sofista. A característica<br />

<strong>de</strong>sse procedimento é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

escolha (em cada passo) da característica capaz<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a divisão oportuna em direita e<br />

esquerda, ou seja, <strong>de</strong> tal modo que a linha <strong>de</strong><br />

articulação do conceito seja seguida, e não "cortada".<br />

Logo, a D. platônica não é um método<br />

<strong>de</strong>dutivo ou analítico, mas indutivo e sintético,<br />

mais semelhante aos procedimentos da pesquisa<br />

empírica (não obstante a pretensão platônica<br />

<strong>de</strong> que ele prescinda dos "sentidos") do<br />

que aos procedimentos do raciocínio a priori<br />

ou do silogismo. O que Aristóteles reprova no<br />

método da divisão, ou seja, o fato <strong>de</strong> não ter a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>dutiva do silogismo (An.pr, I,<br />

31,46 a 31 ss.), não é propriamente uma crítica,<br />

porque o método <strong>de</strong> Platão não tem essa pretensão.<br />

Certamente, a partir <strong>de</strong> "o homem é um<br />

animal" e da divisão seguinte "o animal é mortal<br />

ou imortal" não se segue que "o homem é<br />

mortal", mas só que "o homem é mortal ou<br />

imortal", mas o objetivo da divisão D. não é essa<br />

<strong>de</strong>dução, mas a busca, a escolha e o uso das<br />

caracteísticas efetivas <strong>de</strong> um objeto, com o fim<br />

<strong>de</strong> esclarecer a natureza, ou melhor, as possibilida<strong>de</strong>s<br />

(8t>vá|J.eiç) <strong>de</strong>sse objeto. O conceito<br />

platônico <strong>de</strong> D. não teve seguidores diretos,<br />

embora sejam evi<strong>de</strong>ntes as conexões entre ele<br />

e as noções <strong>de</strong> D. elaboradas por Aristóteles,<br />

pelos estóicos e pelos neoplatônicos. Entre<br />

estas, Plotino marca a passagem da concepção<br />

platônica da D. à metafísica triádica <strong>de</strong> Proclo.<br />

Diz ele que a D. "utiliza o método platônico da<br />

divisão para distinguir as espécies <strong>de</strong> um gênero,<br />

para <strong>de</strong>fini-las e para chegar aos gêneros<br />

primeiros; com o pensamento faz combinações<br />

complexas <strong>de</strong>sses gêneros, até percorrer todo<br />

o domínio do inteligível; <strong>de</strong>pois, por caminho<br />

inverso, da análise, volta ao princípio" (Fnn., I,<br />

3, 4). Aqui o método platônico da divisão, que<br />

para Platão é o segundo momento da D., tornou-se<br />

o primeiro e a ele foi acrescentado,<br />

como segundo momento, "o retorno ao princípio",<br />

ou seja, à Unida<strong>de</strong>, acenando assim para<br />

aquele que será o esquema <strong>de</strong> Proclo.<br />

2- D. como lógica do provável. Para Aristóteles,<br />

a D. é simplesmente o procedimento<br />

racional não <strong>de</strong>monstrativo; dialético é o silogismo<br />

que, em vez <strong>de</strong> partir <strong>de</strong> premissas ver-

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