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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ANTINOMIAS KANTIANAS 66 ANTINOMIAS KANTIANAS<br />

unida<strong>de</strong> é ainda uma categoria. As A. que surgem<br />

<strong>de</strong>sse modo são, segundo Kant, naturais<br />

ou inevitáveis; naturais porque a idéia <strong>de</strong> mundo<br />

que lhes dá origem, embora <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong><br />

valida<strong>de</strong> empírica e, portanto, cognoscitiva, é<br />

formada pela razão com um procedimento<br />

natural que consiste em aplicar às categorias as<br />

próprias categorias, que só <strong>de</strong>veriam ser aplicadas<br />

aos fenômenos; inevitáveis porque, uma<br />

vez formada a idéia <strong>de</strong> mundo como a totalida<strong>de</strong><br />

absoluta, incondicionada, <strong>de</strong> todos os fenômenos<br />

e das suas condições, não se po<strong>de</strong> absolutamente<br />

evitar chegar a proposições<br />

contraditórias. Kant enumera quatro A. que<br />

correspon<strong>de</strong>m aos quatro grupos <strong>de</strong> categorias:<br />

segundo a qualida<strong>de</strong>, a quantida<strong>de</strong>, a relação<br />

e a modalida<strong>de</strong>. São elas:<br />

1- Antinomia. Tese. o mundo tem um início<br />

no tempo e no espaço, está fechado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

limites. Antítese-, o mundo não tem nem início<br />

no tempo nem limite no espaço, mas é infinito<br />

tanto no tempo quanto no espaço.<br />

2- Antinomia. Tese. toda substância composta<br />

consta <strong>de</strong> partes simples e nada existe além do<br />

simples ou do que resulta composto do simples.<br />

Antítese: não existe no mundo coisa alguma<br />

composta <strong>de</strong> parte simples e não existe em<br />

lugar algum nada <strong>de</strong> simples.<br />

3 a Antinomia. Tese: a causalida<strong>de</strong> segundo<br />

leis da natureza não é a única causalida<strong>de</strong> pela<br />

qual possam ser explicados os fenômenos do<br />

mundo. É necessário admitir, para a explicação<br />

<strong>de</strong>stes, também uma causalida<strong>de</strong> da liberda<strong>de</strong>.<br />

Antítese: não há nenhuma liberda<strong>de</strong>, mas<br />

tudo no mundo acontece unicamente segundo<br />

as leis da natureza.<br />

A- Antinomia. Tese: no mundo há alguma<br />

coisa que, como sua parte ou como sua causa,<br />

é um ser absolutamente necessário. Antítese:<br />

em nenhum lugar existe um ser absolutamente<br />

necessário, nem no mundo nem fora do mundo,<br />

como sua causa.<br />

Tanto a tese quanto a antítese <strong>de</strong> cada uma<br />

<strong>de</strong>ssas A. é <strong>de</strong>monstrável com argumentos<br />

logicamente irrepreensíveis: entre uma e outra<br />

é, pois, impossível <strong>de</strong>cidir. O conflito, portanto,<br />

permanece e <strong>de</strong>monstra a ilegitimida<strong>de</strong> da<br />

noção que lhes <strong>de</strong>u origem, isto é, da idéia <strong>de</strong><br />

mundo. Esta, estando além <strong>de</strong> toda experiência<br />

possível, permanece incognoscível e não po<strong>de</strong><br />

fornecer nenhum critério capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir por<br />

uma ou por outra das teses em conflito. A ilegitimida<strong>de</strong><br />

da noção <strong>de</strong> mundo é evi<strong>de</strong>nciada<br />

pelo fato <strong>de</strong> a tese das A. apresentar um concei-<br />

to <strong>de</strong>le <strong>de</strong>masiado pequeno para o intelecto,<br />

ao passo que a antítese apresenta um conceito<br />

<strong>de</strong>masiado gran<strong>de</strong> para o mesmo intelecto.<br />

Assim, se o mundo teve princípio, regredindose<br />

empiricamente na série dos tempos, seria<br />

preciso chegar a um momento em que esse<br />

regresso se <strong>de</strong>tém; o que é um conceito <strong>de</strong><br />

mundo <strong>de</strong>masiado pequeno para o intelecto.<br />

Se, ao contrário, o mundo não teve princípio, o<br />

regresso na série do tempo nunca po<strong>de</strong> esgotar<br />

a eternida<strong>de</strong>; o que é um conceito <strong>de</strong>masiado<br />

gran<strong>de</strong> para o intelecto. O mesmo se diga para<br />

a finitu<strong>de</strong> ou a infinitu<strong>de</strong> espacial, para a<br />

divisibilida<strong>de</strong> ou a indivisibilida<strong>de</strong>, etc. Em todo<br />

caso, chega-se a uma noção do mundo que: ou<br />

restringe em limites estreitos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

o intelecto ir <strong>de</strong> um termo a outro na série dos<br />

eventos, ou esten<strong>de</strong> esses limites a tal ponto<br />

que torna insignificante essa mesma possibilida<strong>de</strong>.<br />

Logo, a solução da A. só po<strong>de</strong> consistir<br />

em não assumir a idéia do mundo como realida<strong>de</strong>,<br />

mas como uma regra que leva o intelecto<br />

a regredir na série dos fenômenos sem nunca<br />

po<strong>de</strong>r parar em algo incondicionado (Crítica R.<br />

Pura, Antinomias, seção 8). A essas A. da razão<br />

pura Kant acrescentou uma A. da razão prática<br />

{Crít. R. Prática, I, livro II, cap. II, § 1), que<br />

consiste no conflito criado pelo conceito <strong>de</strong><br />

sumo bem: "Ou o <strong>de</strong>sejo da felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser<br />

a causa móbil para o máximo <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong> ou o<br />

máximo <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser a causa eficiente<br />

da felicida<strong>de</strong>"; e uma A. do juízo teleológico<br />

{Crít. do Juízo, § 70), que é formada pela tese:<br />

"Toda produção das coisas materiais é possível<br />

segundo leis puramente mecânicas", pela antítese:<br />

"Alguns produtos da natureza não são possíveis<br />

segundo leis puramente mecânicas". Hegel<br />

interpretava as A. kantianas como se Kant<br />

tivesse querido retirar a contradição do mundo<br />

em si mesmo e atribuí-la à razão. E acrescentava:<br />

"É sentir ternura <strong>de</strong>mais pelo mundo querer<br />

afastar <strong>de</strong>le a contradição e transportá-la para o<br />

espírito, para a razão, <strong>de</strong>ixando-a aí, sem solução.<br />

Na verda<strong>de</strong>, é o espírito que tem força<br />

suficiente para suportar a contradição, mas é<br />

também o espírito que lhe dá solução" (Wiss.<br />

<strong>de</strong>rLogik, I, seção II, cap. II, C, nota 2). Na realida<strong>de</strong>,<br />

o método dialético (v. DIALÉTICA), que é<br />

o método próprio da razão, segundo Hegel, proce<strong>de</strong><br />

exatamente passando da tese à antítese, e,<br />

portanto, exige sempre a contradição; mas é<br />

uma contradição que sempre se resolve na síntese,<br />

por isso nunca é uma antinomia.<br />

As A. kantianas foram discutidas e interpretadas<br />

<strong>de</strong> várias maneiras, mas não <strong>de</strong>ram

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