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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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METAFÍSICA 663 METAFÍSICA<br />

ciência que tenha por objeto as <strong>de</strong>terminações<br />

necessárias do ser, estas também reconhecíveis<br />

em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> um princípio cabível.<br />

5 a Essa ciência prece<strong>de</strong> todas as outras e<br />

6, por isso, ciência primeira, porquanto seu<br />

objeto está implícito nos objetos <strong>de</strong> todas as<br />

outras ciências e porquanto, conseqüentemente,<br />

seu princípio condiciona a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos<br />

os outros princípios. A M. expressa nessas<br />

proposições via <strong>de</strong> regra implica: a) <strong>de</strong>terminada<br />

teoria da essência, mais precisamente da<br />

essência necessária (v. ESSÊNCIA); b) <strong>de</strong>terminada<br />

teoria do ser predicativo, mais precisamente<br />

da inerência (v. SER, 1); c) <strong>de</strong>terminada teoria<br />

do ser existencial, mais precisamente da necessida<strong>de</strong><br />

(v. SER, 2).<br />

A.s proposições acima expressam a forma<br />

mais madura que a M. assumiu na obra <strong>de</strong><br />

Aristóteles, precisamente nos livros VII, VIII,<br />

IX <strong>de</strong> Metafísica, ou seja, M. como teoria da<br />

substância, enten<strong>de</strong>ndo-se por substância "aquilo<br />

que um ser não po<strong>de</strong> não ser", a essência necessária<br />

ou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser (v. SUBSTÂN-<br />

CIA). Nesse sentido, o princípio da M. é o <strong>de</strong><br />

contradição, porque só ele permite <strong>de</strong>limitar e<br />

reconhecer o ser substancial. Aristóteles disse:<br />

•Quem nega esse princípio <strong>de</strong>strói completamente<br />

a substância e a essência necessária,<br />

pois 6 obrigado a dizer que tudo é aci<strong>de</strong>ntal e<br />

que não há algo como ser homem ou ser animal.<br />

Se <strong>de</strong> fato há algo como ser homem, isto<br />

não será ser nào-homem ou não ser homem,<br />

mas estas serão negações daquele. Um só é o<br />

significado do ser, e este é a substância <strong>de</strong>le.<br />

Indicar a substância <strong>de</strong> uma coisa nada mais é<br />

que indicar o ser próprio <strong>de</strong>la" (Met., IV, 4,<br />

1007 a 21). Desse ponto <strong>de</strong> vista, a substância é<br />

objeto da M. por constituir o princípio <strong>de</strong> explicação<br />

<strong>de</strong> todas as coisas existentes. Aristóteles<br />

diz: "A substância <strong>de</strong> cada coisa é a causa primeira<br />

do ser <strong>de</strong>ssa coisa. Algumas coisas não<br />

são substâncias, mas as que são substâncias<br />

são naturais e postas pela natureza, estando,<br />

pois, claro que a substância 6 a própria natureza<br />

e que não é elemento, mas princípio" (Ibid.,<br />

VII, 17. 1041 b 27). A substância nesse sentido<br />

não é uma realida<strong>de</strong> privilegiada ou sublime,<br />

que confira dignida<strong>de</strong> superior à ciência que a<br />

tem como objeto. Enquanto substâncias, Deus<br />

e o intelecto (como diz ARISTÓTKLKS, Et. nic, I,<br />

6, 1096 a 24), ou mesmo Deus e um talo <strong>de</strong> capim<br />

(como se po<strong>de</strong>ria dizer), têm o mesmo valor,<br />

e as ciências que os tomam como objeto<br />

têm a mesma dignida<strong>de</strong>. Em uma passagem<br />

famosa <strong>de</strong> Partes dos animais, Aristóteles reconheceu,<br />

explicitamente, a mesma dignida<strong>de</strong><br />

em todas as ciências que tenham a substância<br />

como objeto: "As substâncias inferiores, por serem<br />

mais acessíveis ao conhecimento, acabam<br />

tendo vantagem no campo científico, e por<br />

estarem mais próximas <strong>de</strong> nós e mais em conformida<strong>de</strong><br />

com nossa natureza, a ciência <strong>de</strong>las<br />

acaba sendo equivalente â <strong>filosofia</strong> que tem<br />

por objeto as coisas divinas. (...) De fato, mesmo<br />

no caso das menos favorecidas do ponto<br />

<strong>de</strong> vista da aparência sensível, a natureza que<br />

as produziu proporciona alegrias indizíveis a<br />

quem sabe compreen<strong>de</strong>r suas causas e é filósofo<br />

por natureza" (Depart. an., I, 5, 645 a 1).<br />

É óbvio que, <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> vista, a priorida<strong>de</strong><br />

da M. não consiste na excelência <strong>de</strong> seu objeto<br />

(como no caso da M. teológica), mas no fato <strong>de</strong><br />

que a M., por ter a substância objeto específico,<br />

permite enten<strong>de</strong>r os objetos <strong>de</strong> todas as<br />

ciências tanto em seus caracteres comuns e<br />

fundamentais quanto em seus caracteres específicos:<br />

sem a substância e, p. ex., sem o ser e a<br />

unida<strong>de</strong> que lhe pertencem, "todas as coisas<br />

seriam <strong>de</strong>struídas, já que cada coisa é e é uma"<br />

(Met., XI, 1, 1059 b 31). Em outras palavras:<br />

toda ciência, como tal, é o estudo da substância<br />

em qualquer <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>terminações; p. ex.:<br />

em movimento, a física; como quantida<strong>de</strong>, a<br />

matemática. A M. é a teoria da substância enquanto<br />

tal.<br />

Desse ponto <strong>de</strong> vista, a priorida<strong>de</strong> da M. sobre<br />

as outras ciências 6 lógica, não <strong>de</strong> valor.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma priorida<strong>de</strong> lógica <strong>de</strong>corrente<br />

da priorida<strong>de</strong> ontológica <strong>de</strong> seu objeto específico.<br />

Consiste no fato <strong>de</strong> todas as outras ciências<br />

pressuporem a M. do mesmo modo como todas<br />

as <strong>de</strong>terminações da substância pressupõem<br />

a substância; ora, a reforma feita por S.<br />

Tomás na M. aristotélica, no séc. XIII, visa a<br />

restringir a superiorida<strong>de</strong> lógica da M. Segundo<br />

S. Tomás, a M. como teoria da substância<br />

não inclui Deus entre seus objetos possíveis,<br />

porquanto Deus não é substância (S. Th., I, q.<br />

1, a. 5, ad 1"). A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre essência e<br />

existência em Deus distingue nitidamente o ser<br />

<strong>de</strong> Deus do ser das criaturas, nas quais essência<br />

e existência são separáveis (Ibid., I, q. 3, a. 4).<br />

Portanto, a <strong>de</strong>terminação dos caracteres substanciais<br />

do ser em geral não diz respeito a<br />

Deus, mas apenas às coisas criadas ou finitas.<br />

Com isso, a M. per<strong>de</strong> a priorida<strong>de</strong> em favor da<br />

teologia, consi<strong>de</strong>rada como ciência autônoma,<br />

originária, cujos princípios são ditados direta-

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