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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ALMA 28 ALMA<br />

sas <strong>de</strong>terminações, quando afirmou que a A. se<br />

move por si e a <strong>de</strong>finiu com base nessa característica.<br />

"Todo corpo cujo movimento é imprimido<br />

<strong>de</strong> fora é inanimado, todo corpo que se<br />

move <strong>de</strong> per si, do seu interior, é animado; e<br />

essa é, precisamente, a natureza da A." (Fed.,<br />

245 d). A alma é, portanto, a causa da vida<br />

(Crat., 399 d) e por isso é imortal, já que a vida<br />

constitui a sua própria essência {Fed., 105 d<br />

ss.). Com essas <strong>de</strong>terminações, Platão fazia nítida<br />

distinção entre a realida<strong>de</strong> da A., simples,<br />

incorpórea, que se move por si, que vive e dá<br />

vida, e a realida<strong>de</strong> corpórea, que tem os<br />

caracteres opostos. E essas <strong>de</strong>terminações <strong>de</strong>viam<br />

servir <strong>de</strong> base a todas as consi<strong>de</strong>rações<br />

filosóficas ulteriores sobre a alma.<br />

Entre elas, a <strong>de</strong> Aristóteles é a mais importante,<br />

pois as <strong>de</strong>terminações que ele atribui ao<br />

ser psíquico, nos termos do seu conceito <strong>de</strong><br />

ser, <strong>de</strong>veriam permanecer por longo tempo o<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> boa parte das doutrinas da alma.<br />

Segundo Aristóteles, a A. é a substância do<br />

corpo. É <strong>de</strong>finida como "o ato final (entelechia)<br />

mais importante <strong>de</strong> um corpo que tem a vida<br />

em potência". A A. está para o corpo assim<br />

como a visão está para o órgão da visão: é a<br />

realização da capacida<strong>de</strong> própria <strong>de</strong> um corpo<br />

orgânico. Assim como todo instrumento tem<br />

sua função, que é o ato ou a ativida<strong>de</strong> do instrumento<br />

(como, p. ex., a função do machado<br />

é cortar), também o organismo, enquanto instrumento,<br />

tem a função <strong>de</strong> viver e <strong>de</strong> pensar, e o<br />

ato <strong>de</strong>ssa função é a A. (Dean., II, 1, 412 a 10).<br />

Por isso, a A. não é separável do corpo ou, ao<br />

menos, não são separaveis do corpo as partes<br />

da A. que são ativida<strong>de</strong>s das partes do corpo, já<br />

que nada impe<strong>de</strong> que sejam separáveis as partes<br />

que não são ativida<strong>de</strong> do corpo (ibid.; 413<br />

a 4 ss.). Com essa restrição, Aristóteles alu<strong>de</strong> à<br />

parte intelectiva da A., que ele chama <strong>de</strong> "um<br />

outro gênero <strong>de</strong> A.", e a consi<strong>de</strong>ra como a<br />

única separável do corpo (ibid., II, 2, 413 b 26).<br />

Como ato ou ativida<strong>de</strong>, a A. é forma e como<br />

forma é substância, em uma das três <strong>de</strong>terminações<br />

da substância, que são: forma, matéria<br />

ou o composto <strong>de</strong> forma e matéria. A matéria<br />

é potência, a forma é ato e todo ser animado<br />

é composto por essas duas coisas; mas enquanto<br />

o corpo não é o ato da A., a A. é a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

um corpo <strong>de</strong>terminado, isto é, a realização<br />

da potência própria <strong>de</strong>sse corpo: don<strong>de</strong> se po<strong>de</strong><br />

dizer que ela não existe nem sem o corpo nem<br />

como corpo (ibid., 414 a 11).<br />

Essas <strong>de</strong>terminações aristotélicas constituíram,<br />

por séculos a fio, todo o projeto da "psicologia<br />

da A.". Consoante os vários interesses<br />

(metafísico, moral, religioso) que orientaram<br />

os <strong>de</strong>senvolvimentos <strong>de</strong>ssa psicologia, ao longo<br />

<strong>de</strong> sua história <strong>de</strong>u-se maior ênfase a uma<br />

ou a outra das <strong>de</strong>terminações aristotélicas. Destas,<br />

as mais importantes são: que a alma é substância,<br />

isto é, realida<strong>de</strong> no sentido forte do termo,<br />

e princípio in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> operações, isto é,<br />

causa. São <strong>de</strong>terminações cuja finalida<strong>de</strong> é garantir<br />

um sólido sustentáculo para as ativida<strong>de</strong>s<br />

espirituais, portanto para os valores produzidos<br />

por tais ativida<strong>de</strong>s. A segunda série <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminações é a da simplicida<strong>de</strong> e da indivisibilida<strong>de</strong>,<br />

cujo objetivo é garantir a impassibilida<strong>de</strong><br />

da A. em face das mudanças do corpo<br />

e, através <strong>de</strong> sua in<strong>de</strong>componibilida<strong>de</strong>, a<br />

sua imortalida<strong>de</strong>. A terceira <strong>de</strong>terminação importante<br />

é a sua relação com o corpo, <strong>de</strong>finida<br />

por Aristóteles como relação da forma com a<br />

matéria, do ato com a potência. A primeira<br />

<strong>de</strong>terminação não é negada nem mesmo pelos<br />

materialistas. Epicuro, que diz ser a A. composta<br />

por partículas sutis, difundidas por todo o<br />

corpo como um sopro quente, crê, todavia, que<br />

ela tem a capacida<strong>de</strong> causativa da sensação,<br />

que é preparada pelo corpo — que <strong>de</strong>la participa<br />

—, mas que, em certa medida, é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

do próprio corpo, pois, quando a A. se<br />

separa do corpo, este <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter sensibilida<strong>de</strong><br />

(Ep. a Herod., 63 ss.). Desse modo, a A. não é<br />

simples nem imortal (dissolve-se nas suas partículas<br />

com a morte do corpo), mas ainda é<br />

uma realida<strong>de</strong> em si, dotada <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong><br />

causativa própria, indispensável à vida do corpo.<br />

De modo análogo, os estóicos julgam que<br />

a A. é um sopro congênito; que, como tal, é<br />

corpo, pois, se não o fosse, não po<strong>de</strong>ria unirse<br />

a ele nem separar-se <strong>de</strong>le; todavia, po<strong>de</strong> ser<br />

imortal, como é certamente imortal a A. do<br />

mundo, <strong>de</strong> que fazem parte as A. dos seres<br />

animados e as dos sábios (DIÓG. L, VII, 156-<br />

67). Aqui, a corporeida<strong>de</strong> da A. não a isenta <strong>de</strong><br />

simplicida<strong>de</strong> nem <strong>de</strong> imortalida<strong>de</strong>; o mesmo se<br />

dá com a concepção <strong>de</strong> Tertuliano, que também<br />

a consi<strong>de</strong>ra um sopro, ou flatus, <strong>de</strong> Deus<br />

e, portanto, gerada, corpórea e imortal (De<br />

an., 8 ss.).<br />

A aceitação quase universal da doutrina aristotélica<br />

da A. tem uma exceção em Plotino, que<br />

critica tanto a doutrina segundo a qual a A. é<br />

corpo quanto a da A. como forma do corpo<br />

(Enn., IV, 7, 2 ss.; IV, 7, 8, 5). E o motivo é um

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