22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

INTELECTO 572 INTELECTO<br />

externas; o conhecimento intelectivo penetra<br />

até a essência da coisa" (S. Th., II, 2, q. 8, a.<br />

1). Por outro lado, tem-se o mesmo significado<br />

genérico quando esse termo é contraposto<br />

à vonta<strong>de</strong>, como acontece, p. ex., em Locke: "A<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar é que se <strong>de</strong>nomina I., e<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> querer é o que se <strong>de</strong>nomina<br />

vonta<strong>de</strong>: duas capacida<strong>de</strong>s ou disposições da<br />

alma às quais se dá o nome <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>" (Ens.,<br />

II, 6, 2). Leibniz, por sua vez, entendia por I. "a<br />

percepção distinta unida à faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> refletir,<br />

que não existe na alma dos animais" (Nouv.<br />

ess., II, 21, 5). Essa noção foi <strong>de</strong>pois tomada<br />

por Wolff (Psychol. empírica, § 275). A <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> I. como "faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar" é lugar<br />

comum no séc. XVIII; Kant só faz repeti-lo:<br />

"I. é a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar o objeto da intuição<br />

sensível" (Crit. R. Pura, Lógica, Intr., I)<br />

ou "o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> conhecer em geral" (Antr, I,<br />

§ 6, 40).<br />

Mas <strong>de</strong> repente, com o Romantismo, o I.<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter valor <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer em<br />

geral e <strong>de</strong>scobre-se a "imobilida<strong>de</strong>" do intelecto.<br />

Essa <strong>de</strong>scoberta é feita por Fichte: "O I.<br />

é I. só quando alguma coisa está fixada nele; e<br />

tudo o que se fixa fixa-se apenas no intelecto.<br />

O I. po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como a imaginação fixada<br />

pela razão, ou como a razão provida <strong>de</strong><br />

objetos da imaginação. O I. é uma faculda<strong>de</strong><br />

espiritual em repouso, inativa, é o puro receptáculo<br />

do que foi produzido pela imaginação e<br />

que a razão <strong>de</strong>terminou ou ainda está para <strong>de</strong>terminar"<br />

(Wissenschaftslehre, Y19i, II, Dedução<br />

da representação, III, trad. it., p. 184). Mas<br />

foi por meio <strong>de</strong> Hegel que acabou prevalecendo<br />

em <strong>filosofia</strong> a noção <strong>de</strong> I. "imóvel", "rígido",<br />

"abstrato": "Como I., o pensamento <strong>de</strong>tém-se<br />

na <strong>de</strong>terminação rígida e na diferença entre ela<br />

e as outras; para o I., esse produto abstrato e limitado<br />

é autônomo e existente" (Ene, § 80). O<br />

I. é caracterizado pela imobilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>terminações:<br />

ele "<strong>de</strong>termina e fixa suas <strong>de</strong>terminações"<br />

(Wissenschaft <strong>de</strong>r Logik, Pref. à I a<br />

edição, trad. it., p. 5). Essa imobilização é um<br />

falseamento, como se vê pela forma como o I.<br />

enten<strong>de</strong> a relação entre infinito e finito, originando<br />

o "falso infinito". "O falseamento em<br />

que o I. incorre em relação ao finito e o infinito,<br />

que consiste em fixar como diversida<strong>de</strong><br />

qualitativa a relação entre ambos, em afirmar,<br />

ao <strong>de</strong>terminá-los, que são separados, e separados<br />

em absoluto, tem como base o esquecimento<br />

daquilo que para o próprio I. é o con-<br />

ceito <strong>de</strong>sses momentos" (Ibid., I, I, seç. I, cap. 2,<br />

C, c, trad. it., I, p. 157). Dessa forma, "fixar"<br />

"imobilizar", "<strong>de</strong>terminar em absoluto" são as<br />

operações que <strong>de</strong>screvem a ativida<strong>de</strong> do I., em<br />

contraposição à razão, ativida<strong>de</strong> autêntica do<br />

pensamento que elimina a fixi<strong>de</strong>z e a rigi<strong>de</strong>z<br />

das <strong>de</strong>terminações intelectuais, sendo capaz<br />

<strong>de</strong> fluidificá-las e relativizá-las. Essa contraposição<br />

torna-se lugar-comum em gran<strong>de</strong> parte<br />

da <strong>filosofia</strong> do séc. XIX: o I., portanto, <strong>de</strong>sce <strong>de</strong><br />

sua posição <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar e passa<br />

para a situação secundária ou subordinada <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pensamento abstrato, ou seja, <strong>de</strong><br />

falso pensamento. A persistência <strong>de</strong>sse lugarcomum,<br />

sem qualquer justificação séria, po<strong>de</strong><br />

ser verificada pelo fato <strong>de</strong> que, no início do<br />

séc. XX, Bergson propôs (Evolução criadora,<br />

1907) a crítica do I. consi<strong>de</strong>rado, segundo o<br />

esquema hegeliano, faculda<strong>de</strong> que tem por<br />

objeto específico o que é imóvel, inerte, rígido<br />

e morto, sendo, portanto, radicalmente incapaz<br />

<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o movimento e a vida.<br />

Dessa forma, substituía-se a contraposição<br />

hegeliana I.-razão pela contraposição I.-vida ou<br />

I.-consciência, que inspirou e ainda hoje inspira<br />

algumas manifestações da <strong>filosofia</strong> contemporânea.<br />

Todavia, mesmo fora <strong>de</strong>ssas antíteses<br />

estereotipadas, a noção do I. como faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pensar em geral não está presente na <strong>filosofia</strong><br />

contemporânea, tendo sido substituída pela<br />

noção <strong>de</strong> pensamento ou razão (v.).<br />

2° O reconhecimento do significado genérico<br />

<strong>de</strong> I. po<strong>de</strong> ocorrer ou não em conjunto com<br />

o reconhecimento <strong>de</strong> um significado específico.<br />

Po<strong>de</strong>m ser distinguidas três interpretações<br />

fundamentais da função específica do I.: a)<br />

intuitiva; b) operante, c) <strong>de</strong> entendimento ou<br />

inteligência.<br />

a) A noção <strong>de</strong> I. intuitivo foi elaborada por<br />

Aristóteles. Para ele, além <strong>de</strong> ser geralmente a<br />

faculda<strong>de</strong> "graças à qual a alma raciocina e<br />

compreen<strong>de</strong>", o I. é também uma virtu<strong>de</strong><br />

dianoética, ou seja, um hábito racional específico.<br />

Como tal, é a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> intuir os princípios<br />

das <strong>de</strong>monstrações, que não po<strong>de</strong>m ser<br />

apreendidos pela ciência — que é apenas um<br />

hábito <strong>de</strong>monstrativo — nem pela arte e pela<br />

sabedoria, que dizem respeito "às coisas que<br />

po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> outra forma", <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong><br />

necessida<strong>de</strong> (Et. níc, VI, 6,1140b 31 ss.). Além<br />

<strong>de</strong>ssas "<strong>de</strong>finições primeiras", o I. também tem<br />

a tarefa <strong>de</strong> intuir "os termos últimos", ou<br />

seja, os fins aos quais <strong>de</strong>ve subordinar-se a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!