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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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LÓGICA 627 LÓGICA<br />

nuais expõem várias coisas diferentes: ao lado<br />

da silogística tradicional (freqüentemente reduzida<br />

a poucas noções e mantida mais por<br />

razões <strong>de</strong> tradição do que por interesse real),<br />

encontram-se anotações metodológicas, esboços<br />

<strong>de</strong> teoria do conhecimento, análises <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados<br />

conceitos gerais, etc. Típica nesse<br />

aspecto é a Art <strong>de</strong>penser dos mestres <strong>de</strong> Port-<br />

Royal, também conhecida pelo nome <strong>de</strong> Lógica<br />

<strong>de</strong> Port-Royal, que durante longo tempo foi<br />

o texto mais importante <strong>de</strong>ssa disciplina e o<br />

mo<strong>de</strong>lo adotado e compendiado com maior ou<br />

menor fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> pelos <strong>de</strong>mais tratados.<br />

Todavia, o "renascimento" da geometria euclidiana,<br />

que teve início no séc. XVI e prosseguiu<br />

triunfalmente (pelo menos no que diz<br />

respeito ao aspecto lógico-formal) até quase os<br />

nossos dias, repropòe, juntamente com o mo<strong>de</strong>lo<br />

do ''rigor" euclidiano, o problema <strong>de</strong> fixar<br />

as estruturas discursivas que constituem esse rigor<br />

e das quais este resulta. Descartes (Regulae<br />

ad directionem ingenii, Discours <strong>de</strong> Ia métho<strong>de</strong>)<br />

e <strong>de</strong>pois Pascal (Esprit <strong>de</strong>géométriee Art<br />

<strong>de</strong>persua<strong>de</strong>r) começam a extrapolar, em forma<br />

<strong>de</strong> regras metodológicas, alguns aspectos <strong>de</strong>sse<br />

"rigor", remetendo-se (mesmo em polêmica<br />

com a silogística tradicional) ao terreno <strong>de</strong> indagações<br />

das formas estruturais <strong>de</strong> uma linguagem<br />

perfeita (aqui, a linguagem matemática) e<br />

repropondo, portanto, alguns problemas fundamentais<br />

<strong>de</strong> L. formal, como o da <strong>de</strong>finição<br />

(nominal e real) e o da valida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>dução a<br />

partir <strong>de</strong> axiomas. Simultaneamente, Hobbes,<br />

partindo também do euclidianismo da nova<br />

ciência (galileana) da natureza, dava um passo<br />

<strong>de</strong>cisivo rumo à concepção da mo<strong>de</strong>rna L. formal<br />

pura. De fato, Hobbes introduz a profícua<br />

idéia do raciocínio como "cálculo lógico",<br />

como combinação e transformação <strong>de</strong> símbolos<br />

segundo certas regras, que já em Hobbes se<br />

mostravam — e <strong>de</strong>pois cada vez mais — convencionais<br />

(seja qual for a maneira <strong>de</strong> se enten<strong>de</strong>r<br />

posteriormente esse "convencionalismo").<br />

Portanto, na história do pensamento, aparecia<br />

aquele convencionalismo que estava <strong>de</strong>stinado<br />

a ser o ponto <strong>de</strong> vista mais eficaz para isentar<br />

a L. <strong>de</strong> todos os pressupostos dogmáticos e<br />

metafísicos, para libertá-la das contaminações<br />

psicologizantes (que continuarão a obstar seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento quase até nossos dias) e<br />

organizá-la como disciplina das estruturas formais<br />

do discurso "rigoroso", segundo <strong>de</strong>terminados<br />

mo<strong>de</strong>los i<strong>de</strong>olingüísticos. Contudo o ponto<br />

<strong>de</strong> vista convencionalista não estava <strong>de</strong>stina-<br />

do a agir imediatamente sobre o pensamento<br />

lógico mo<strong>de</strong>rno, que nos filósofos acima citados<br />

foi buscar sobretudo a idéia do cálculo lógico<br />

baseado na distinção das idéias em simples<br />

e complexas e na analogia (meramente formal)<br />

entre certas operações lógicas e certas<br />

operações aritméticas. Representando os termos<br />

com símbolos genéricos (p. ex., letras do<br />

alfabeto: a, b, c,..., x, y, z; X, Y, Z; e semelhantes)<br />

e as operações lógicas com símbolos vários<br />

(geralmente tomados <strong>de</strong> empréstimo à aritmética:<br />

+, x, =; etc.) é possível tentar <strong>de</strong>senvolver<br />

uma doutrina matemática (formal) do discurso.<br />

Leibniz fez numerosas tentativas neste sentido,<br />

todas porém infrutíferas e por ele abandonadas;<br />

outras tentativas <strong>de</strong>sse tipo (analogamente<br />

infmtíferas) foram feitas pela própria escola leibniziana,<br />

como p. ex. por Lambert, Holland. Castillon.<br />

Porém, mais do que nessas tentativas —<br />

talvez supervalorizadas pelos lógicos matemáticos<br />

do nosso século —, a importância <strong>de</strong> Leibniz<br />

para o renascimento da L. após a crise <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada<br />

pelo Humanismo está na idéia (amplamente<br />

<strong>de</strong>senvolvida pelos seus seguidores alemães<br />

do séc. XVIII, Lambert, Wolff, Crusius) <strong>de</strong><br />

uma "arquitetônica da razão" (não mais concebida<br />

psicologicamente, mas <strong>de</strong> tal maneira que<br />

prenunciava o ponto <strong>de</strong> vista "transcen<strong>de</strong>ntal"<br />

da <strong>filosofia</strong> posterior), explicitada nas formas<br />

e estruturas do discurso; essa "arquitetônica"<br />

constituirá o objeto da L. A herança leibniziana<br />

foi recolhida por Kant, que, em Logik, distingue<br />

nitidamente a L. da psicologia (com a qual os<br />

Iluministas tendiam a confundi-la) e da ontologia<br />

(com a qual alguns leibnizianos, particularmente<br />

Crusius, tendiam a confundi-la), afirmando<br />

o caráter <strong>de</strong> doutrina formal pura: não do<br />

discurso, mas do pensamento,don<strong>de</strong> as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> recaída numa espécie <strong>de</strong> psicologismo<br />

transcen<strong>de</strong>ntal, inerentes ao kantismo.<br />

De fato, como se sabe, ao lado da L. formal<br />

pura, Kant coloca uma L. transcen<strong>de</strong>ntal como<br />

doutrina das funções puras da consciência: os<br />

i<strong>de</strong>alistas, em particular Fichte e Hegel, ao<br />

acentuarem tal interpretação psicologizante e<br />

transcen<strong>de</strong>ntal, resolverão ambas as partes da<br />

L. kantiana na parte transcen<strong>de</strong>ntal, interpretando<br />

<strong>de</strong>pois esta última como uma espécie <strong>de</strong><br />

"metafísica da mente" ou do "pensamento".<br />

Des<strong>de</strong> então, em vastas zonas da <strong>filosofia</strong> contemporânea,<br />

todas elas mais ou menos influenciadas<br />

pelo i<strong>de</strong>alismo, o termo "L." per<strong>de</strong>u inteiramente<br />

o sentido tradicional para retornar â<br />

acepção iluminista <strong>de</strong> "<strong>filosofia</strong> do pensamen-

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