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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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VONTADE 1008 VONTADE<br />

conduta. E nesse sentido que <strong>de</strong>vem ser entendidas<br />

as referenciais à psicologia contemporânea<br />

contidas neste verbete.<br />

l y O primeiro significado é o da <strong>filosofia</strong> clássica:<br />

para ela, a V. é apetite racional ou compatível<br />

com a razào, distinto do apetite sensível.<br />

que 6 o <strong>de</strong>sejo(v.). A distinção entre estas duas<br />

coisas está em Platão, para quem retores e tiranos<br />

não fazem o que querem, embora façam o<br />

que lhes agrada ou parece, visto que fazer o que<br />

se quer significa fazer o que se mostra bom ou<br />

útil, e isso é agir racionalmente ( Górg., 466 ss.).<br />

Aristóteles <strong>de</strong>finiu a V. como "apetiçào que se<br />

move <strong>de</strong> acordo com o que é racional" (Dean.,<br />

III, 10, 433 a 23); o termo voluntários usado<br />

por Aristóteles para <strong>de</strong>finir a escolha (v.), que<br />

seria "a apetiçào voluntária das coisas que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong> nós" (Et. nic, III, 3, 1113 a 10). Os<br />

estóicos concordaram com esse conceito <strong>de</strong> V.,<br />

por eles <strong>de</strong>finida como "apetiçào racional"<br />

(DIÜG. L, VII, 116). Cícero referia-se a essas<br />

doutrinas afirmando que "a V. é um <strong>de</strong>sejo compatível<br />

com a razào, enquanto o <strong>de</strong>sejo oposto<br />

à razào, ou <strong>de</strong>masiado violento para ela, é a<br />

libidinagem ou a cupi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>senfreada que se<br />

encontra em todos os insensatos" (Titsc, IV,<br />

6, 12).<br />

Esta concepção prevalece durante toda a Ida<strong>de</strong><br />

Média e é repetida por Alberto Magno (S.<br />

Th., I, q. 7, a. 2), S. Tomás (5. Th., I, q. 80, a. 2),<br />

Duns Scot (Rep. Par., III, d. 17, q. 2, n. 3; Op.<br />

Ox., III, d. 33, q. 1, n. 9) e Ockham (In Sent., IV,<br />

9, 14 G).<br />

Todas são repetições liberais do conceito<br />

tradicional <strong>de</strong> V. como apetite racional. Menos<br />

liberal 6 a repetição <strong>de</strong>sse conceito em Spinoza.<br />

que enten<strong>de</strong> por V. "a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> afirmar ou<br />

cie negar, e não o <strong>de</strong>sejo: faculda<strong>de</strong> graças à<br />

qual a mente afirma ou nega o que é verda<strong>de</strong>iro<br />

ou o que é falso, e não <strong>de</strong>sejo com que a mente<br />

<strong>de</strong>seja ou repele as coisas" (Et., II, 48, scol.X<br />

Entretanto, ainda literal é a repetição <strong>de</strong>sse<br />

conceito por Wolff (chama-se "V. o apetite racional<br />

que nasce da representação distinta do<br />

bem", Psicol. empírica, § 880) e pelo próprio<br />

Kant, que enten<strong>de</strong> por V. a razão prática, isto<br />

é, a "faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir segundo a representação<br />

<strong>de</strong> regras" (Grundlegung <strong>de</strong>r Metaphysík<br />

<strong>de</strong>r Sitten, II). Eichte não pensava em nada<br />

muito diferente ao afirmar que a V. é a faculda<strong>de</strong><br />

"<strong>de</strong> efetuar com consciência a passagem da<br />

in<strong>de</strong>terminação para a <strong>de</strong>terminação": faculda<strong>de</strong><br />

que a razào teórica obriga a pensar que<br />

existe (Sittenlehre, § 14). Em sentido análogo,<br />

Hegel afirma que a V. é universal, "no sentido<br />

<strong>de</strong> universal como racionalida<strong>de</strong>'" (EU. dodir.,<br />

§ 24). A distinção <strong>de</strong> Croce entre a forma econômica,<br />

utilitária, e a forma ética ou moral da<br />

ativida<strong>de</strong> prática correspon<strong>de</strong> à distinção tradicional<br />

entre <strong>de</strong>sejo e vonta<strong>de</strong>. Segundo Croce,<br />

a forma econômica seria volição do particular,<br />

ou seja, do útil; a forma moral seria volição do<br />

universal, ou seja, apetiçào racional (Eilosofia<br />

<strong>de</strong>lia pratica, 1909, pp. 217 ss.).<br />

Na noção <strong>de</strong> V. como apetite racional também<br />

po<strong>de</strong> ser integrada a tendência da psicologia<br />

mo<strong>de</strong>rna a fazer distinção entre V. e impulso<br />

e a consi<strong>de</strong>rar a V. condicionada por uma manipulação<br />

<strong>de</strong> símbolos. G. Murphy, p. ex., diz:<br />

"V. é o nome com o qual se <strong>de</strong>signa um complexo<br />

processo interior que influencia nosso<br />

comportamento <strong>de</strong> tal modo que nos torna<br />

presa menos fácil da pura força bruta dos impulsos.<br />

Falamos com nós mesmos, introduzimos<br />

modos diferentes <strong>de</strong> expressar nossa situação,<br />

imaginamos as conseqüências dos vários<br />

tipos <strong>de</strong> resposta e procuramos avaliar quanto<br />

cada um <strong>de</strong>les nos agradará" (Introduction to<br />

Psychology, 1950, cap. IX, trad. it., p. 163). O<br />

que a psicologia mo<strong>de</strong>rna chama <strong>de</strong> "elaboração<br />

<strong>de</strong> símbolos" é o mesmo cjue na terminologia<br />

tradicional se chamava "processo racional".<br />

Finalmente, a mesma noção <strong>de</strong> V. está implícita<br />

nas expressões V.pura, boa V., V. geral,<br />

V. <strong>de</strong> crer.<br />

Segundo Kant, V. pura é a V. <strong>de</strong>terminada<br />

apenas por princípios a príorí, por leis racionais,<br />

e não por motivos empíricos particulares<br />

(Grundlegung <strong>de</strong>r Met, <strong>de</strong>r Sitten, pref.).<br />

Boa V., também segundo Kant, é a V. <strong>de</strong><br />

comportar-se exclusivamente <strong>de</strong> acordo com o<br />

<strong>de</strong>ver; <strong>de</strong>sse modo, é exaltada por Kant como<br />

o que existe <strong>de</strong> melhor no mundo ou também<br />

fora do mundo (Ibid., I).<br />

V. geral é concebida pelos iluministas como<br />

a própria razào. Di<strong>de</strong>rot diz: "A V. geral<br />

é em cada indivíduo um ato puro do intelecto<br />

que raciocina no silêncio das paixões sobre o<br />

que o homem po<strong>de</strong> exigir <strong>de</strong> seu semelhante e<br />

sobre o que o seu semelhante tem direito <strong>de</strong><br />

exigir <strong>de</strong>le" (Ari droit naturel, na Encyclopédie,<br />

V, p. 116). Rousseau fazia a distinção entre<br />

"V. <strong>de</strong> todos", que po<strong>de</strong> errar, e V. geral, que<br />

nunca erra porque só tem em mira o interesse<br />

comum (Contraísocial, II, 3).<br />

Finalmente, a V. <strong>de</strong> crer, <strong>de</strong> que fala James,<br />

nada mais é que a racionalida<strong>de</strong> da fé, o direito<br />

<strong>de</strong> crer no que não é absurdo, no que torna a

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