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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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RELIGIÃO 8-r RELIGIÃO<br />

cio ser simplesmente interior e pessoal (religiosida<strong>de</strong><br />

individual); ao contrário, as técnicas<br />

<strong>de</strong>stinadas a obter e conservar essa garantia<br />

constituem o lado objetivo e público da R., seu<br />

aspecto institucional. l'ma R. natural d constituída<br />

simplesmente por essa atitu<strong>de</strong>; Lima R.<br />

positiva é constituída essencialmente por essas<br />

técnicas.<br />

O conceito <strong>de</strong> R. compreen<strong>de</strong> ambos os<br />

aspectos. Ftimologicamente, essa palavra significa<br />

provavelmente "obrigação", mas, segundo<br />

Cícero, <strong>de</strong>rivaria <strong>de</strong> relegere: "Aqueles que<br />

cumpriam cuidadosamente todos os atos cio<br />

culto divino e, por assim dizer, os reliam atentamente<br />

foram chamados <strong>de</strong> religiosos — <strong>de</strong><br />

relegere —, assim como elegantes vem <strong>de</strong><br />

elegere, diligentes <strong>de</strong> cliligere e inteligentes<br />

<strong>de</strong> intelligere-, <strong>de</strong> fato, em todas essas palavras<br />

nota-se o mesmo valor <strong>de</strong> legere, que está presente<br />

em R." (De ncit. c/eor., II, 28. ""2). Para<br />

Lactâncio (Inst. Div., IV, 28) e S. Agostinho<br />

(Retract., I, 13), porém, essa palavra <strong>de</strong>riva <strong>de</strong><br />

religare, e a propósito Lactâncio cita a expressão<br />

<strong>de</strong> Lucrécio "soltar a alma dos laços da R."<br />

(De rei: nat., I, 930).<br />

Deve-se notar também que o grego não<br />

possui o equivalente exato cia palavra latina e<br />

mo<strong>de</strong>rna. Aocipeía significa serviço divino; portanto,<br />

refere-se apenas ao segundo dos elementos<br />

da R. S. Agostinho (De civ. Dei, X, 1)<br />

estabelecia a correspondência entre religio e<br />

0pr)O7reía, mas também esta palavra se refere<br />

exclusivamente às técnicas cia R.<br />

As diterentes <strong>de</strong>finições até hoje feitas <strong>de</strong> R.<br />

po<strong>de</strong>m ser classificadas com base nos dois problemas<br />

fundamentais a que correspon<strong>de</strong>m, a<br />

saber: I. Com base no problema da origem da<br />

R., que na realida<strong>de</strong> é o problema do tipo <strong>de</strong><br />

valida<strong>de</strong> da R.; II. Com base no problema da<br />

função atribuída à R., ou seja, o caráter específico<br />

da garantia que ela oferece à salvação do<br />

homem.<br />

1. Como acontece também em outros casos,<br />

o problema da origem consiste na realida<strong>de</strong><br />

em saber que tipo <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> se preten<strong>de</strong> atribuir<br />

à R. V. possível distinguir três soluções para<br />

este problema, a saber: I a a doutrina da origem<br />

divina da R.; 2- a doutrina da origem política; 3 a<br />

a doutrina cia origem humana cia religião.<br />

I a A doutrina da origem divina expressa o<br />

reconhecimento do valor absoluto (ou infinito)<br />

da R. \l óbvio que a pretensão cie ter origem<br />

divina ou sobrenatural é intrínseca em qualquer<br />

R., já que todas elas afirmam ter como funda-<br />

mento uma revelação originária que garante<br />

sua verda<strong>de</strong> ou consi<strong>de</strong>ram as crenças e as<br />

instituições com que se i<strong>de</strong>ntificam continuamente<br />

confirmadas por testemunhos sobrenaturais,<br />

o que é o mesmo. Portanto, do ponto <strong>de</strong> vista<br />

cia <strong>filosofia</strong>, o reconhecimento cia origem divina<br />

ou do valor absoluto da R. concretiza-se na<br />

tese <strong>de</strong> que a R. é revelação. Po<strong>de</strong>-se dizer que<br />

essa tese nada mais é que a expressão filosófica<br />

do valor absoluto que a R. se atribui. Esse<br />

ponto cie vista foi expresso com toda a clareza<br />

por Hegel: "No conceito da verda<strong>de</strong>ira R., que<br />

é aquela em que está contido o Espírito absoluto,<br />

está posto essencialmente que ela é revelada,<br />

e revelada por Deus" (linc, § 564). E acrescenta<br />

que "se a Deus for negada a revelação,<br />

não restaria outro conteúdo a atribuir-lhe senão<br />

a inveja. Mas. se é que a palavra espírito tem<br />

sentido, significa a revelação <strong>de</strong> si" (Ibid.. §<br />

560. Não é diferente <strong>de</strong>ste o conceito que<br />

Schleiermacher tinha <strong>de</strong> R: "O universo é uma<br />

ativida<strong>de</strong> ininterrupta que se nos revela a todo<br />

momento. Todas as formas que ele produz,<br />

todos os seres aos quais dá, pela plenitu<strong>de</strong> da<br />

sua vicia, uma existência particular, todos os<br />

acontecimentos que ele gera em seu seio sempre<br />

rico e fecundo, correspon<strong>de</strong>m a uma ação<br />

que ele exerce sobre nós; assim, em aceitar<br />

cada coisa particular como parte do Todo, cada<br />

coisa tinira como expressão do Infinito, consiste<br />

a R." (Re<strong>de</strong>n überdie Religiou, 1799, II; trad.<br />

it., p. 39). Po<strong>de</strong>-se expressar essa mesma doutrina<br />

afirmando que a R. é a experiência do<br />

divino e que, como toda experiência, revela a<br />

realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu objeto. Este era o conceito<br />

que Bergson tinha cia R. autêntica, ou seja, o<br />

misticismo: "Se as semelhanças exteriores entre<br />

os místicos cristãos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> uma<br />

comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tradições e <strong>de</strong> ensinamentos,<br />

seu acordo profundo é sinal <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

intuição, que po<strong>de</strong> ser explicada <strong>de</strong> maneira<br />

mais simples pela existência real do ser com o<br />

qual acreditam estar em comunicação" (Deit.x<br />

soitrces, III; trad. it., pp. 270-71).<br />

í ! A doutrina da origem política reduz a R. a<br />

um estratagema político: portanto, anula seu<br />

valor intrínseco. O primeiro a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r essa<br />

teoria foi Crítias, um dos trinta tiranos <strong>de</strong> Atenas.<br />

Segundo ele, "os antigos legisladores inventaram<br />

a divinda<strong>de</strong> como uma espécie <strong>de</strong> inspetor<br />

das ações humanas, boas ou más. a fim <strong>de</strong> que<br />

ninguém ofen<strong>de</strong>sse ou traísse seu próximo, por<br />

medo cia vingança dos <strong>de</strong>uses". Esse estratagema<br />

foi necessário porque "as leis realmente clis-

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